Autor: Rodrigo Jonas Fragola
Os alarmistas de plantão já profetizam um desemprego catastrófico devido à iminente invasão dos bots nos postos de trabalho e, talvez, até mesmo a sua instalação nos mecanismos secretos de manipulação e controle das massas, seja lá o que entendam por isto.
Mas se é verdade que há bots sendo produzidos e reproduzidos em velocidade viral para as mais variadas tarefas, o fato é que ainda está incipiente a aplicação realmente “inteligente” deste novo modelo de robótica.
Aliás, cabe aqui um parênteses: se tem uma área em que os bots prosperam e ajudam a prosperar (para o mal de quase todos nós, e para o deleite de alguns) é na automação das ações hackers, seja atuando com botnets, spambots, mineradores de dados clandestinos, atacantes DDos e serviços maliciosos em geral.
É bem possível que os bots, e mais precisamente os chatbots, já comecem a ganhar, por exemplo, posições de atendimento e pré-atendimento excessivamente elementares e repetitivas que, até bem pouco tempo, eram realizadas por humanos. Fala-se até de sua inserção efetiva nos meandros da Internet das Coisas, onde uma arquitetura emergente “bot-to-bot” poderia levar a automação a níveis de fato assombrosos.
Mas, se analisarmos friamente, veremos que, na maior parte dos casos, esses tais assistentes sintáticos (e fonéticos, quando aplicados a interfaces de voz) representam menos perigo aos empregados de uma central de atendimento do que àqueles velhos dispositivos de URA, nos quais um obsoleto sistema de menus exige a atenção máxima do usuário e a sua quase escravização como um operador de teclado.
Estes sim, sistemas desajeitados, caros e ineficientes, podem pôr as barbas de molho e se conformar com a sentença de que sua missão aqui na terra está cumprida.
Seja como for, há bots em profusão e eles aderem cada vez mais aos sites de mensagens, negócios, jogos e serviços. E sua expansão vai sendo rápida, principalmente em serviços IM e IRC, não só em função da nova onda de se priorizar, na aplicação, a qualidade da experiência do end user, mas também devido a um esforço descomunal dos grandes players da nuvem em popularizar o modelo.
São inúmeras as iniciativas de facilitadores de acompanhantes de vários tipos, como o Azure da Microsoft, Alexa da Amazon, o iOS Siri da Apple e o Google Home, todas elas confluindo para a intenção de oferecer um motor fácil de assimilar e componentes pré-fabricados de código para a rápida criação de bots voltados para toda a sorte de tarefas.
Mas o alvo, nessa fase inicial, na média, ainda está longe das pretensões máximas de um programa como o Watson, lançado em 2011 pela IBM, cuja ambição seria a de massificar a Inteligência Artificial e capacitar milhares de programadores (profissionais ou até amadores) para a criação de apps cognitivas usada em aplicações que vão do diagnóstico e tratamento do câncer à redução da latência em decisões de electronic trading.
Como mencionei mais acima, os bots atuais, tecnicamente falando, ainda estão mais focados em interações baseadas em menus (mais ou menos sofisticados) ou em universos probabilísticos limitados, ainda que por vezes bem extensos. É claro, eles têm a fantástica capacidade de processar e correlacionar registros de interação – em escala até de terabytes por segundo – e de, portanto, prognosticar o desfecho de uma ação que ainda está apenas se esboçando.
E isso não é nada desprezível e conduz, na prática, ao surgimento de uma admirável robótica adaptativa. Mas não chega a se constituir, ainda, numa inteligência intuitiva de fato à maneira da que ocorre na mente.
Com o fabuloso avanço e constante compactação da capacidade analítica aplicada aos softwares e ao processamento complexo de grandes lotes de dados assíncronos, haverá, em algum momento, a eclosão de um verdadeiro boom de aplicações cognitivas e – aí sim – tendendo a ameaçar seriamente certas áreas de atuação até então exclusivas do cérebro natural.
Mas a tendência é que, nesse contexto, o intelecto humano se valha dos próprios bots em favor da geração de insights em profundidade, alcance e velocidade exponencialmente maiores. E, dessa forma, promova a expansão e a criação de novos ambientes e formas de interação e trabalho muito mais sofisticados do que aqueles que, então, já estarão a cargo dos bots.
Rodrigo Jonas Fragola é CEO da Aker Security Solutions, diretor de Segurança e Defesa do Sindicado da Indústria Informação do Distrito Federal (Sinfor) e vice-presidente de Segurança da Associação das Empresas Brasileiras de TI (Assespro-DF).