Autor: Marcelo Mariaca
O abuso moral é uma questão que recebe, cada vez mais, a atenção das organizações. A maior conscientização das pessoas e a pressão da sociedade organizada exigem das empresas políticas e práticas que coíbam a exposição de trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções.
O principal fator que torna o abuso moral mais indefectível é a forma como é manipulado. Antigamente, era possível culpar as reações de fúria de um chefe, mas, hoje, são usadas formas mais sutis. Isolar um funcionário, deixá-lo sem nada para fazer ou sobrecarregá-lo com tarefas inúteis são atitudes que arruínam a saúde mental de qualquer profissional, ao mesmo tempo em que minam seu futuro dentro da empresa.
Qualquer um pode sofrer com esse tipo de agressão, mas as principais vítimas são as mulheres. Segundo pesquisa feita com cerca de 2.000 funcionários de 97 empresas de São Paulo, 42% dos entrevistados afirmaram ter vivido história de humilhação no ambiente de trabalho. Desses, 65% eram mulheres e 29%, homens.
Ser ignorado por um colega de trabalho ou pelo chefe ou levar uma bronca não significa necessariamente abuso moral. O problema reside no comportamento intimidador, persistente e abusivo, detonado com o único objetivo de deixar a pessoa humilhada, chateada e aterrorizada. Outro ponto a esclarecer: o assédio moral pode ser praticado por chefes ou colegas de trabalho, pessoas de qualquer escalão.
Algumas pesquisas traçam o comportamento padrão do algoz, que tendem a adotar táticas como culpar os outros pelos erros, viver criticando a habilidade profissional dos colegas, fazer exigências sem sentido ou mesmo cometer delitos, como roubar os créditos profissionais dos integrantes da equipe. As vítimas não são as únicas que perdem. As empresas também são afetadas pela queda na produtividade, pelo envenenamento do clima organizacional, perda de bons profissionais e, em casos extremos, por processos judiciais que resultam em pagamento de indenizações.
Para prevenir a prática de assédio moral, as empresas devem estabelecer políticas claras, a começar pela criação de códigos de ética e de conduta, cujos princípios e orientações devem ser difundidos por toda a empresa. Antes de qualquer coisa, é preciso deixar bastante explícito para os profissionais quais comportamentos são aceitos e quais não são tolerados pela organização.
A parte mais difícil, contudo, é vigilância no dia a dia. Em primeiro lugar, os gestores devem se conscientizar de que o assédio moral é um tipo de violência intolerável, que não se admite mais na sociedade em que vivemos e deve ser punido de forma exemplar. Além disso, pode trazer graves consequencias para o agressor e para a própria instituição.
Em segundo lugar, os gestores devem estar atentos a qualquer tipo de conduta de seus liderados que possa resultar em assédio moral e tomar providências para prevenir essas práticas e não deixar que se instaure a cultura da impunidade.
Marcelo Mariaca é presidente do Conselho de Sócios da Mariaca e professor da Brazilian Business School