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Cuidado com o João!

Autor: Edilson Menezes
Ainda não amanheceu. O som das ondas do mar se mistura com o ruído das teclas que fazem nascer esta reflexão.
Enquanto isso, um gari corre, atrasado, para o ponto de ônibus. A dona de casa adoça o café e aquele aroma de frescor invade os sentidos de sua família. O executivo pensa que precisa sair rapidamente do banho, afinal será um dia cheio. O mecânico se prepara para abrir a oficina, preocupado com a ausência de clientes. As crianças, sonolentas, se aprontam para a escola e vão engolindo o que a mãe oferece, desejosas de voltar para a cama. A diretora de outra empresa dirige seu carro a caminho do trabalho e pensa que é preciso frear alguns investimentos. Decide que suspenderá todos os treinamentos programados.
Longe dessas realidades tão comuns, o político que chamaremos apenas de João pensa em como ganhar um pouco mais. Grande articulador, João lida com a coisa pública há mais de 15 anos.
Quando começou, era um sonhador. Queria mesmo mudar as coisas e sua intenção era muito positiva. Não tardou para que o partido exigisse dele um posicionamento. Empresários estavam dispostos a cederem dinheiro para a campanha, permutando pequenos, porém milionários, favores pessoais, em desfavor de milhões de brasileiros.
Não demorou também para que fornecedores batessem à porta do escritório de João, propondo direcionar licitações de bens e serviços sob sua responsabilidade política. João recusou uma, duas e quando estava prestes a recusar pela terceira vez, foi interpelado pelo presidente de seu partido:
– João, aqui você precisa decidir. Ajuda os amigos ou vai colecionar inimigos e é claro que ter inimigos pode ser algo muito perigoso!
Teria sido uma ameaça? – perguntou-se o político.
Neste mesmo dia, João se senta para despachar e percebe sobre sua mesa um envelope pardo, com seu nome escrito em letras discretas. Ao abri-lo, constata chaves, documento e fotografia de belíssimo apartamento, de frente para o mar. Ao analisar o documento, descobre que está em nome de sua esposa, que é apaixonada por praia. Um bilhete manuscrito diz:
– João, até hoje você não quis aceitar nossa generosidade, mas descobrimos que você e esposa comemoram 10 anos de casamento. Soubemos que ela é apaixonada pelo mar. Este é o presente que você vai lhe entregar. Esperamos que sejam muito felizes!
Nem mesmo João se lembrava do aniversário de casamento. O bilhete não tinha assinatura, mas não precisava. Ele sabia muito bem que aquela escritura vinha de uma renomada empreiteira. Passou o dia inteiro pensando se aceitava o presente ou se mandava às favas o empresário. Telefonou para a esposa, contou o que havia acontecido e escutou:
– Se você não quer aceitar presente de aliados, problema teu, mas não ouse devolver um presente que foi enviado para mim!
João aceitou. Abriu o precedente tão pleiteado pelo empresário. A notícia se espalhou rapidamente, porque o que é errado, como dizia minha mãe, é da conta de todo mundo. Outros presentes vieram no formato de dinheiro, que ele carregava com muito cuidado na cueca, imóveis habilmente divididos entre seus familiares, joias preciosíssimas, afrescos dos maiores gênios da arte, veículos luxuosos e até mesmo ações.
A imprensa, muitas vezes, tem mais habilidade para descobrir ilícitos do que as autoridades. Dois anos depois dessa farra, nosso João, antigo sonhador e atual corrupto, foi destaque de capa da revista de maior circulação do país. Ocorre que estava muito blindado. Bastou um telefonema e sua equipe visitou cada banca de jornal, comprando todos os exemplares. A força-tarefa de um dia tirou das ruas a denúncia que jogava lama em sua carreira. Meses depois, seus ingênuos oponentes pediram a abertura de uma CPI.
Muito presidente de partido devia favores ao João. Alguns telefonemas foram dados e a votação para que não se instaurasse nenhuma CPI teve unanimidade.
O poder de João aumentou tanto que ele chegou ao mais alto cargo público, levando consigo a corja aliada de corruptos, todos dispostos a sugar até a última gota do leite que jorrava da teta pública.
Após alguns anos de João no poder máximo, personagens que iniciaram este texto tiveram o destino alterado. O gari estava desempregado. A dona de casa precisou apertar o cinturão financeiro e abrir mão de muitos itens. O executivo, durante o banho, pensava em como tirar sua empresa do atoleiro. O mecânico faliu, vendeu seus equipamentos para pagar todas as dívidas e voltou a trabalhar como empregado. As crianças já não se preparavam para ir à escola porque seus professores, que não recebiam o salário dos últimos meses, estavam em greve há mais de 30 dias. A diretora que suspendeu o treinamento perdeu seus melhores funcionários para a concorrência e como o faturamento caiu de maneira drástica, foi demitida.
Somente 50 caras como João podem alterar o destino de 200 milhões de brasileiros. Da mesma forma, 200 milhões têm chances reais e democráticas, traduzidas pelo voto, de retirar do poder aqueles que impedem o país de progredir. Enquanto as eleições não chegam para que tenhamos a chance de recomeçar, você, pessoa física ou jurídica, precisa pensar em algo:
A pior escolha é nenhuma. O pior caminho é aquele que nos mantém parados. A crise deflagrada pode até adoecer a economia, mas não pode e nem deve adoecer você!
Movimente-se, eduque-se, treine, faça algo novo todo dia para si e para a empresa. Quando chegar o momento de usar o voto, olhe para o Brasil, ao invés de contemplar somente a sua realidade, porque juntos podemos atropelar a corja corrupta, mas sozinhos, presos à própria realidade, somos tão fracos que qualquer João pode nos quebrar.
A escolha, como sempre, é apenas sua!
Edilson Menezes é treinador comportamental e consultor literário. Atua nas áreas de vendas, motivação, liderança e coesão de equipes. ([email protected])

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