Autor: Cezar Tegon
Seja no âmbito pessoal ou profissional, observo as pessoas quebrando a cabeça em busca de soluções “inovadoras” para resolver seus problemas. Depois de muito tempo e esforço, em geral, chegam às soluções por vezes complexas e difíceis de serem implementadas. E pode ser pior, como nas vezes em que encontram a solução, mas já se passou tanto tempo que um pequeno problema se transformou em um desastre, com sérias consequências para as pessoas ou organizações.
Ao ser consultado sobre algum problema, recomendo soluções simples, rápidas e práticas. Isso não quer dizer soluções simplistas. Percebo que durante a explanação da solução, pessoas fazem anotações e no final olham como se estivessem diante de um gênio. Tenho certeza que minha avó ficaria feliz se isso fosse verdade, mas sou apenas um sujeito atento, experiente e uso a técnica de relembrar o passado, vendo se problemas semelhantes já existiram, como foram solucionados e como posso dentro de novas “combinações” propor soluções simples e de fácil realização. Enfim, faço o “basicão”.
O que seria fazer o “basicão”? É buscar e aplicar soluções simples, diretas e sem rodeios. Eu pratico e estimulo minha equipe a olhar o “basicão” sempre, pois além de economizar tempo desmistifica a ideia de que soluções complicadas são as mais valorizadas! O termo tomei emprestado do amigo, Marcos Nascimento, executivo da ManStrategy Consulting Ltda, após assistir sua palestra para um grupo de executivos sobre execução de estratégias bem sucedidas tendo como premissa “voltar a fazer o basicão”.
Exemplos de situações e soluções no estilo “basicão” existem na vida pessoal e profissional, em todas as áreas e segmentos. Vejamos alguns deles:
A maioria dos adultos já teve uma DR – discutir a relação. Já imaginou ter uma DR em plena rede social? Hoje não acontece apenas com os jovens, tem muitos quarentões que, de um pequeno problema em casa, reclamam do cônjuge em pleno Facebook. Eles contam suas histórias e pedem ajuda para toda a rede de amigos. Além de todos ficarem sabendo da intimidade do casal, os palpites vêm de todos os lados e as consequências são em alguns casos desastrosas. Como isso era resolvido fazendo o “basicão”? A pessoa até pedia conselho para amigos, os mais próximos, não para os 2.807 do seu Facebook. Refletia, conversava em casa e tudo se resolvia aos poucos de maneira íntima e menos traumática.
No esporte, pequenos problemas se transformam em problemões, mesmo aqueles que seriam resolvidos aplicando a técnica do “basicão”. Hoje, na maioria dos clubes de futebol, existe pouca conversa direta e reta entre o presidente e treinador, entre o treinador e atletas e entre os próprios atletas. Quando precisam falar algo, mandam recados pela imprensa ou pelos seus Twitters, entre outros. Muitos treinadores descobrem que estão desempregados pelo rádio ou nas mídias sociais. Como isso era resolvido fazendo o “basicão”?
Com uma boa conversa, olho no olho, em um local neutro e descontraído, por vezes em uma boa churrascaria, restaurante ou bar, seria mais fácil e prático discutir os conflitos e evitar as desinteligências.
Com uma boa conversa, olho no olho, em um local neutro e descontraído, por vezes em uma boa churrascaria, restaurante ou bar, seria mais fácil e prático discutir os conflitos e evitar as desinteligências.
Outro bom exemplo é a discussão em todo país a respeito do “apagão profissional”. A falta de mão de obra e a dificuldade de reter talentos nas empresas geram reclamações do tipo:
1. Temos muitas vagas que demoram a fechar por falta de candidatos.
Eu pergunto: Suas vagas são bem descritas e estão bem “embaladas”? Nelas fala-se sobre oportunidades de crescimento e diferenciais da empresa? Você tem um vídeo institucional mostrando como é a cultura da empresa?
A resposta é NÃO.
2. Na minha região é complicado contratar.
Eu pergunto: Sua empresa tem estratégias de atração nas proximidades da empresa? Tem um profissional recrutando ou pensando em estratégias de captação regional? Faz atração em agências governamentais, igrejas, templos, universidades, escolas, sindicatos regionais, feiras e eventos?
A resposta é NÃO.
3. Faltam profissionais experientes e prontos.
Eu pergunto: Sua empresa tem um programa para contratar e formar profissionais menos experientes? Estão treinando e preparando jovens potenciais para assumir mais responsabilidades no futuro?
A resposta é NÃO.
4. O turn over está alto e custando caro. Não consigo reter meus funcionários.
Eu pergunto: As vagas são oferecidas aos funcionários antes do selecionador buscar profissionais no mercado? Seus funcionários são estimulados a desenvolver-se, pois podem ser aproveitados internamente e serem promovidos? Os líderes estão “motivados” com a causa de Atração e Seleção?
A resposta é NÃO.
De fato existem alguns setores com mais dificuldades em contratar funcionários, mas após ouvir os NÃOs os lembro de como tais problemas eram resolvidos no passado e que contratar bem e formar para o futuro sempre foram fatores cruciais de sucesso para os negócios. Por esta razão, no princípio os próprios donos de empresas eram responsáveis por contratar. Falo de estatísticas que mostram que as empresas de maior longevidade são as que contratam melhor, ou seja, novamente a solução está em olhar o passado, pensar em novas combinações e fazer o “basicão”.
Arrisco uma explicação para a dificuldade em fazer o “basicão” atualmente. Em primeiro lugar, somos ensinados nas instituições educacionais a decorar coisas e seguir modelos prontos, ao invés de pensar no sentido e no por que das coisas. Em segundo lugar, hoje se emprega pouco tempo na atividade de pensar sobre como as coisas funcionam.
As diversas distrações e facilidades tecnológicas acostumaram as pessoas a chegarem às respostas. Isso as tem levado a não usarem seu tempo para estudar e entenderem o princípio das coisas, enfim, como são feitas as coisas e quais os conceitos que dão sustentação à sua existência. Posso dar vários exemplos, o meu preferido é o da luz elétrica, então vejamos: A pessoa aperta um botão e a luz acende, e ao perguntar se a pessoa sabe por que a luz acende, a resposta é simples, porque apertei o botão.
Pois bem de maneira simplista posso dizer que para a luz acender é necessário uma estrutura sincronizada e organizada, que começa com a armazenagem de água, turbinas poderosas em hidroelétricas, torres de transmissão, postes de distribuição, transformadores de energia, fiação interna no estabelecimento e, por fim, o botão.
Este é um caso típico do que vemos hoje em muitas situações, a perda do contato com o básico, a origem. Graças aos avanços tecnológicos, é verdade que um toque no botão acende a luz. No entanto, saber como as coisas acontecem e seus princípios básicos nos fazem entender às diferentes variáveis que podem, quando necessário, nos levar a pensar em soluções criativas para contornar restrições, assim como imaginar novas combinações que tragam soluções inovadoras.
Reflita sobre os problemas em seu dia a dia e pense se fizer novas combinações do que já viu, vivenciou ou observou no passado é o melhor caminho para você solucionar problemas e evitar perda de tempo. Na dúvida opte por fazer o simples, o “basicão”.
Cezar Antonio Tegon é presidente da Elancers e sócio diretor da Consultants Group by Tegon.