Designer organizacional como novo papel de RH

Autor: Marco Ornellas
 
Modelos e práticas de Recursos Humanos estão sendo colocados em xeque pelo mundo complexo em que vivemos. A necessidade já não se restringe a novas soluções para gerenciamento de pessoas, mas à construção de um modelo de governança capaz de atender aos desejos da sociedade e do ser humano de hoje e do futuro.
Pesquisas apontam que 90% dos CEOs buscam inovação e transformação digital. 70% dos líderes atuais não são capazes de liderar na era exponencial. Somente 44% das empresas estão preparadas para a mudança e somente 10% dos conselheiros entendem o universo digital. Colapso: essa é a previsão para os próximos anos.
Na mesma direção, existe uma visão unânime dos executivos de RH que entrevistei para a minha tese de mestrado em Biologia-Cultural sobre a falência do modelo atual de governança. As práticas presentes hoje são percebidas como sem utilidade ou valor. É notório que elas não respondem mais aos desafios da organização de hoje e são incapazes de fazer a ponte para o futuro.
Sustentamos um novo papel para RH, o de Designer Organizacional, profissional que se apoia na empatia, na colaboração e na experimentação para redesenhar as políticas, processos, culturas e modelos, de acordo com a realidade de cada organização e com os crescentes desafios impostos pelo mercado.
Como afirma Herbert A. Simon, um dos fundadores do conceito de designer: “É designer todo aquele que desvia o curso das ações com o objetivo de transformar situações existentes em situações preferidas”. No caso do Designer Organizacional, além da geração de soluções, ele produz aprendizados e amplia as competências organizacionais, cuja proficiência está no grupo e não apenas nos indivíduos.
Lean, Ágile, Canvas, Scrumm, Growth Hacking, Design Thinking, Valuation, MVP são termos do empreendedorismo exponencial e disciplinas importantes que todos precisaremos aprender, mas não adianta começar pelo telhado, quando a fundação ainda não foi estruturada.
Ao promover uma profunda reflexão estratégica e coletiva, o Designer Organizacional adquire um posicionamento mais assertivo sobre o presente e o futuro da empresa. Sob essa identidade, o executivo de RH não precisa mais se esquivar de confrontos, porque tem a segurança e um olhar único para as estratégias. Para se tornar esse ator proativo do sistema, eu penso que o profissional e a área de RH precisam fazer três movimentos essenciais:
Desapegar – Enterrar definitivamente o chapéu das atividades operacionais. Desapegar significa se desfazer de algo, libertar-se da burocracia e de um banco de dados rico, mas subaproveitado, e promover, finalmente, a transformação digital.
Doar – Doar significar entregar-se ou, ainda, fazer uma transferência de bens ou benefícios. Ao mesmo tempo em que entrega para a tecnologia o que ela pode fazer melhor e mais rápido, reconhece e confia no protagonismo e na responsabilidade dos líderes e colaboradores da empresa onde trabalha. E o motivo é simples: a gestão de recursos humanos não é mais uma fronteira do RH.
Descobrir – O Designer Organizacional é o profissional curioso que enxerga os problemas complexos como parte do seu dia a dia. Seu jeito de pensar é diferente: ele explora cenários, simplifica os dilemas e constrói projetos centrados em pessoas, a partir de conceitos e premissas de várias outras escolas do conhecimento.
O Designer Organizacional tem esse instinto apurado. Eu costumo dizer que é um caminho conectado à essência para a mudança e a transformação organizacional. Ele só desapega, doa e descobre porque entende a profunda relação de interdependência entre todos no universo. É por isso que ele ajuda a empresa a repensar seu próprio propósito e, a partir disso, redesenhar papéis, prioridades, planos, investimentos e outros fatores fundamentais à realização da estratégia.
É isso que o Designer Organizacional faz. É isso que o RH, com as competências adequadas, pode fazer pela sua empresa.
 
Marco Ornellas é coach, membro do International Coaching Federation (ICF) e Consultor com 25 anos de experiência.

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