É possível motivar alguém?


Muito já se falou, muito já se escreveu e muito já se discutiu sobre motivação. Entretanto, se você demonstra interesse pelo assunto, é porque acredita que ainda há algo a ser dito, a ser aprendido, a ser questionado, a ser aceito ou a ser rejeitado sobre motivação.

Conceitualmente, ninguém motiva ninguém. O que pode ser feito é incentivar ou estimular alguém, uma vez que a motivação é intrínseca à pessoa. Por isso, muita gente a traduz como “ter vontade de”. Há muitos artigos sobre o tema escritos por psicólogos, administradores, pedagogos e sociólogos que evidenciam o aspecto multidisciplinar da motivação, que por sua vez afeta as pessoas em suas atividades diárias, sejam elas profissionais, escolares, familiares, sociais ou de lazer.

Naturalmente, a dimensão profissional da motivação tem recebido mais ênfase. São inúmeras teorias, com destaque para quatro delas: Teoria Comportamentalista, que tem como alicerce a relação estímulo-resposta e é contestada por alguns autores, porque se sabe que as pessoas são diferentes e reagem de forma divergente aos estímulos recebidos com base em sua individualidade; Teoria das Necessidades de Maslow, ou Pirâmide de Maslow, que apresenta as necessidades humanas de forma hierarquizada e diz que o ser humano busca atendê-las de acordo com uma seqüência pré-definida: necessidades fisiológicas, de segurança, sociais, de auto-estima e de auto-realização; Teoria das Expectativas, que descreve a concretização de uma ação como uma decisão pessoal, baseada nas recompensas esperadas e no esforço estimado para sua realização; e Teoria dos Dois Fatores, ou Teoria Higiene-Motivação de Herzberg.

Com relação à última teoria, no contexto empresarial, são considerados fatores de higiene aqueles que não causam motivação, mas, se ausentes, trazem insatisfação, como o salário, condições de trabalho, relacionamentos e status. A designação “fatores higiênicos” decorre de uma analogia à área hospitalar: as condições de higiene em um hospital não garantem melhorias ao paciente, mas sua ausência traz conseqüências que degrada seu estado de saúde.

Há empresários que ainda acreditam que o salário traz motivação ao profissional. Na realidade, salário é um instrumento utilizado para contratar ou reter uma pessoa, pois se sabe que, mesmo recebendo um salário muito bom, depois de alguns meses a pessoa o incorpora ao seu orçamento e o internaliza como algo normal e rotineiro.

De acordo com a Teoria dos Dois Fatores, os itens motivadores são aqueles que efetivamente causam satisfação: crescimento profissional, conhecimento, responsabilidade e reconhecimento (inclusive a premiação), que, na relação com a área hospitalar, representariam aqueles que trazem reais condições de melhoria ao paciente.

Embora o tema motivação seja polêmico, há uma verdade: a realização de uma ação depende única e exclusivamente da própria pessoa. Por isso, é importante que todo gerente conheça e reconheça cada membro de sua equipe como único e distinto, respeitando-o e procurando entender seus valores, expectativas e ambições. Não estamos falando em manipulação de pessoas, tampouco em paternalismo protetor. Expurgue-se também do contexto os excessos de sentimentos. Deve ser incluída, porém, a criação de um ambiente de confiança mútua, no qual as pessoas aceitem novas responsabilidades, ensinem e aprendam, e sejam reconhecidas por suas conquistas, para que possam se sentir realizadas por sua atuação profissional.

Todo gerente deve incentivar e estimular os profissionais de sua equipe, porque possui habilidades para fazer com que ela esteja sempre motivada para alcançar os objetivos de um projeto ou organização.

A cultura da empresa e as políticas internas existentes podem facilitar ou dificultar esse processo. Contudo, há gerentes que, por apatia ou comodidade, ficam paralisados diante das adversidades, transformando estes itens em subterfúgios para ocultar sua incompetência e falta de vontade para “fazer e acontecer”.

Bons gerentes são aqueles que utilizam da melhor forma possível os instrumentos gerenciais disponíveis na organização. São aqueles que, com liderança, agem de maneira pró-ativa para promover avanços, ao compartilhar informações e conhecimento, definir claramente as responsabilidades e procurar desenvolver, capacitar e premiar os profissionais de sua equipe. Para estes, a palavra “gerente” deve ser escrita com “G” maiúsculo.

Armando Terribili Filho é diretor de projetos da Unisys Brasil e professor da Faculdade de Administração da FAAP.

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