Autor: Leonardo Torres
Hoje em dia, uma das palavras mais recorrentes no mundo corporativo é “empatia”. Definida popularmente como “a capacidade de se colocar no lugar do outro”, as empresas, os jornais, os livros “modinhas” e os coaches têm se apropriado dessa palavra para promover uma dinâmica de trabalho colaborativa nas empresas, que supostamente geraria certa felicidade, motivação, bem-estar no ambiente de trabalho, entre outras coisas.
Parece que a palavra “empatia” foi evocada no mundo corporativo junto com a demanda da inclusão social e da igualdade, essas, por sua vez, de extrema importância e urgência em nossa sociedade. Entretanto, a forma com que o mundo corporativo tem pensado e agido na implantação tanto da empatia quanto da inclusão social parece responder a uma lógica cartesiana, pautada pelas normas, leis, etc., e que não percebe o bullying, o assédio e a discriminação que acontece dentro da empresa entre colegas, pois isso não é revelado nos números e gráficos sobre responsabilidade social das corporações.
A empatia não é um instrumento. Em seu livro “A Era da Empatia: lições da natureza para uma sociedade mais gentil”, Frans de Waal mostra que a empatia é uma condição humana. Hoje se tem falado da empatia como se nós, seres humanos, não fôssemos empáticos. Uma das características que nos manteve vivos e resilientes desde os tempos mais primevos foi o gregarismo (a vida em grupo), cujo um dos cimentos é a própria empatia.
Talvez nós repetimos tanto a frase “empatia é se colocar no lugar do outro” que esquecemos o que realmente ela é. Mas, acredito que essa frase esteja errada, pois a empatia não é lógica. Uma pessoa não precisa pensar, refletir e filosofar sobre estar no lugar do outro. Basta conviver (no sentido de viver juntos e não suportar). A empatia não passa pelo crivo da racionalidade. É mais do que se sentir no lugar do outro, pois isso seria somente julgar ou entender o outro a partir da nossa lógica e das nossas experiências. Empatia é estar na pele do outro, e assim sentir o mundo a partir do outro, de seu lugar, de suas experiências, de suas verdades.
A empatia nos faz perceber a complexa rede que liga cada ser humano e entender que, na verdade, somos um só, colaborando: “co-laborando”, ou seja, trabalhando juntos para um fim que beneficie a todos. Pergunto se, neste mundo Hobbesiano em que “o homem é o lobo do homem”, ou seja, é extremamente competitivo, e as empresa visam o lucro e nada mais, se existe uma honesta empatia, inclusão e igualdade. Talvez tenhamos que pensar em uma nova lógica econômica. Uma lógica pautada pela frase de Boaventura de Sousa Santos: “temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades.
Por fim, essa digressão pode indicar que estamos pensando em empatia da forma errada. Afinal, empatia gera alteridade: o aceitar e entender o outro, mesmo que suas ideias, ideais e opiniões sejam totalmente diferentes. Basta entrar nas redes sociais, um dos pontos centrais de sociabilização atual, para perceber que a alteridade já não está mais lá. A diferença é vista como o bode expiatório, pronto para o derramamento de sangue.
A pergunta final é: “a quem serve o Graal?”. No caso: “para que a empresa quer implantar a empatia, a inclusão e a igualdade?”. Seria perfeito se realmente as empresas estivessem buscando e investindo cada vez mais em seus funcionários, em prol deles próprios. Mas ela também poderia estar seguindo essa lógica para tentar se enquadrar em uma demanda social, usando a imagem da inclusão e da empatia para si e, de fato, ser somente mais uma propaganda.
Leonardo Torres é doutorando, com bolsa Prosup Capes, e mestre em comunicação e cultura midiática pela Universidade Paulista, professor e palestrante.