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Filhos da limitação

Autor: Edilson Menezes
O piloto automático do cérebro atende aos padrões que o ser humano, embora não perceba, adotou há anos como fruto das próprias percepções acerca do ambiente ou como crenças imputadas, sempre com intenção positiva, por quem lhe amava.
– Frutos do mar? Ele não pode comer. Puxou ao pai. Tem alergia, tadinho!
Sem jamais ter feito nenhum teste, são inúmeros os pais que não podem comer isso ou aquilo e por receio de que o filho tenha herdado semelhante restrição, lhe incutem a crença, desde cedo, de que também não podem.
– Desse jeito que você vai na escola, acha mesmo que quando crescer terá um bom emprego? Pode esquecer!
A ameaça de tenebroso futuro gera uma espécie de medo pré-datado, como um cheque ao portador que adiante será resgatado. Uma infância inteira de afirmações negativistas, portanto, terá peso de má conselheira quando surgir a primeira entrevista de trabalho ou o primeiro namoro.
– Solte este dinheiro e vá lavar as mãos bem lavadas. Já não te disse que estas notas passam de mão em mão, que são sujas e cheias de bactérias?
O que este futuro adulto fará, considerando que escutara tal afirmação tantas e tantas vezes na idade infante? Uma vez que o cérebro registra a informação de algo nocivo, uma emaranhada teia protetiva é tecida para que a pessoa não chegue perto daquilo que aprendeu como danoso, nocivo. Não seria exagero afirmar que por isso muitos só conseguem dinheiro suficiente para pagar as contas, como se trabalhassem especificamente para esta finalidade, sem vislumbrar searas mais viçosas.
– Shhhhhhhiiiiiiiii. Faça silêncio, meu filho está dormindo!
Ao contrário do que alguns profissionais especializados afirmam, pode ser muito saudável deixar a criança dormir em meio aos ruídos naturais do ambiente. Afinal, criada com este desnecessário excesso de cuidado, quando tornar-se adulta, esta pessoa será fortíssima candidata à insônia, pois qualquer mínimo barulho a impedirá de ter uma merecida noite de sono revigorante.
– Não posso deixar que ela durma em sua casa. A pobrezinha tem medo de escuro e só dorme tranquila no próprio quarto!
A mãe que diz isso para a amiguinha da filha não faz ideia de quão protecionista tem sido. Adulta, sua filha poderá recusar trabalhos que exijam viagens sob o pretexto de que só dorme na própria cama. Talvez não queira viajar com o marido e os filhos, em férias e, ainda mais grave, pode passar muito tempo a dormir com a luz acesa.
– Quando você estiver na escolinha, se der vontade de fazer número 2, tente segurar e venha fazer em casa, porque o banheiro de lá é sujo!
Por “efeito colateral”, esta educadora abre frente para futuros problemas intestinais e tenho certeza que você conhece adultos que afirmam: “eu só gosto de fazer em casa”. Em outra análise, seguramente você identifica pessoas cujo intestino fica, às vezes, muitos dias sem funcionar.
– Excursão da escolinha para uma fazenda? Não dá. Ela provavelmente tem alergia à picada e nestes lugares há muitos insetos.
Converse com um especialista em alergia e pergunte se ele costuma atender pacientes que apresentam não apenas um, mas vários quadros alérgicos. Cada “não” acumulado na infância sob esta justificativa pode culminar em quadros futuros de considerável fragilidade e baixa imunidade, o que talvez explicaria porque jovens utilizam a “necessaire” de remédios que somente os bem mais experientes costumam precisar.
Sem atenção extrema aos detalhes que envolvem cuidados educacionais, de afirmação em afirmação, de restrição em restrição, vamos formando jovens inseguros e, por fim, adultos cheios de reservas e propensos ao oportunismo de doenças.
Adulto não desenvolve medo de altura, lugar escuro, barata, água ou fogo. O medo é incutido na infância, decerto por algum adulto que também tinha o mesmo medo.
A vida não deve ser chata e cheia de regras ou etiquetas do trato educacional, mas é preciso que exista acuidade, que se perceba o que e porque afirmamos isso ou aquilo para nossos pequenos.
Vislumbrando o futuro, longevos saudáveis não podem ser considerados frutos da sorte e da coincidência. Sem exceção, são pessoas que foram educadas à luz da força, do positivismo e da riqueza, não exatamente financeira, mas da riqueza que não tem preço: do pensamento.
A escolha, como sempre, é apenas sua!
Edilson Menezes é treinador comportamental e consultor literário. Atua nas áreas de vendas, motivação, liderança e coesão de equipes. ([email protected]

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