Geração Y chega ao mercado de trabalho



Autor: Alexandra Periscinoto

 

Trabalhar com jovens é um desafio constante. Cada geração é fruto da educação que recebeu dos pais e também da interação com o ambiente e a sociedade. Nos últimos anos, o mundo vem passando por diversas revoluções, que alteraram profundamente o comportamento das pessoas. O surgimento da Internet e a revolução digital, por exemplo, trouxeram avanços sem precedentes. No mundo do trabalho, isso traz um desafio interessante: começam a chegar ao mercado os jovens que cresceram regidos pelos bits e bytes do mundo digital. Chamados de geração Y, esses jovens têm menos de 30 anos e possuem características muito próprias – e o choque cultural acontece quando passam a ser comandados pelo pessoal de outras gerações.

 

Mais do que evitar conflitos, ter uma política de recursos humanos que entenda a geração Y pode trazer um excelente ganho de produtividade. Moldados pelo imediatismo da Internet, a geração Y necessita de estímulos para desafiá-la a oferecer o que tem de melhor: a ousadia, a criatividade, a facilidade para realizar tarefas múltiplas e o espírito questionador. Algumas dessas características, inerentes no espírito dos jovens, foram levadas ao paroxismo pelo mundo contemporâneo. De um lado, seus pais, libertários da década de 60, que viveram a utopia do “é proibido proibir”, estimularam ao máximo o espírito contestador dos jovens. O acesso fácil às informações, trazido pela internet, temperou o caldo de cultura. O resultado é que, para extrair ao máximo as potencialidades dessa talentosa geração, é necessário abrir-se ao diálogo. Fazê-los entender é muito mais producente do que simplesmente mandar. Para essa geração, a hierarquia não é um argumento-fim. Sem contar a falta de formalidade desses jovens, cuja educação sempre privilegiou a individualidade – e suas manifestações.

 

Outra característica marcante dos jovens da geração Y é a capacidade de realizar diversas tarefas ao mesmo tempo. Não surpreende mais encontrar um deles falando ao celular, digitando no MSN e assistindo tevê, enquanto come um sanduíche. Ao mesmo tempo em que isso comprova as habilidades multifacetadas necessárias para conseguir equilibrar diversas atividades, muitas vezes esse aspecto também vem junto com a dificuldade de esperar a concretização de um projeto de longo prazo. A tendência a dispersar a concentração não é algo incomum. Para fugir dessa armadilha e buscar a maior produtividade da geração Y, uma das alternativas é, por exemplo, dividir um projeto mais longo em etapas mais curtas, com metas e prazos predeterminados, cujos resultados podem ser obtidos com maior rapidez.

 

Com características tão peculiares, principalmente para a geração anterior – que teve de se adaptar, à marra, às modernidades tecnológicas, e para quem o mundo digital não é o habitat natural, é compreensível que surjam dificuldades na comunicação entre eles. No call center, por exemplo, que é provavelmente o setor da economia que mais emprega jovens, esse desafio é permanente. Mas, também, muito gratificante, pois essa nova geração induz à renovação e traz um espírito de inovação às empresas – e ambas as características são a alma da sobrevivência, no longo prazo, de qualquer negócio. As empresas precisam rever seus treinamentos e sistemas de mensuração de resultados, para melhor refletir o mundo contemporâneo e os jovens que ajudarão a construir o futuro.

 

Alexandra Periscinoto é presidente da SPCom, que tem mais de quatro mil funcionários, a imensa maioria com menos de 30 anos.

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