Autor: Luiz Aurélio Baptista
Quando a economia dá sinais de fragilidade, é comum, em muitas empresas, iniciarem-se os cortes orçamentários reduzindo-se gastos com treinamento e marketing. Não são poucos aqueles que se mostram contrários a estas medidas pela lógica de que é justamente em tempos desfavoráveis, que necessitamos de pessoal qualificado, visibilidade e ações de marketing, capazes de não só identificar ameaças, mas novas oportunidades de mercado.
Entretanto, na prática, esse tipo de corte é o que geralmente ocorre. Neste cenário atual, é desafiador para as áreas de gestão de pessoas, manterem, além de projetos de retenção dos bons talentos, ações motivacionais, sem ainda se distanciar dos programas de capacitação.
É certamente um momento para se observar se a empresa tem o desenvolvimento humano e organizacional como parte estratégica de seu negócio, e não apenas como um apêndice de custo.
Porém, como ocorre no universo comercial, também na área de Recursos Humanos muitas vezes a crise pode significar grandes oportunidades! Se focarmos especificamente a questão da capacitação, a solução pode estar muito mais perto do que imaginamos: dentro da própria empresa!
São os possíveis multiplicadores, isto é, colaboradores que possuem algum conhecimento estratégico de interesse da organização, seja técnico ou não, e que, treinados, podem desenvolver uma capacidade, mínima que seja, de preparar aulas e repassar conteúdo para outras pessoas.
Muitas vezes estes talentos estão ´escondidos´ no seu posto de trabalho, camuflados pelos processos do dia a dia e até com atribuições não relacionadas ao aproveitamento de seus importantes conhecimentos.
Essa ´garimpagem´, como o título deste artigo sugere, é facilitada se a empresa possui um sistema de registros atualizados em relação aos talentos, currículo acadêmico, cursos extracurriculares e outras habilidades de seus recursos humanos.
Um elenco de resultados positivos pode vir deste tipo de programa de multiplicação do conhecimento, ainda mais considerando o pequeno custo envolvido.
Para a empresa, observadas as precauções jurídicas de maneira a não ser caracterizado o desvio de função do multiplicador, as vantagens são muitas: começam pela redução de custos com formação ou reciclagem, passando pela possibilidade de treinar um número maior de pessoas com menor prejuízo à operação pois, realizado de maneira opcional, fora do horário de expediente, nas dependências da organização, não haveria a ausência do colaborador. A atividade estaria sob controle, com melhor avaliação da qualidade do evento e direcionamento do curso para a realidade e necessidades da organização. Ou seja, trata-se de uma forma simples de desenvolver e reter talentos.
Também para o multiplicador as vantagens são várias: voluntário, ele é remunerado por suas horas extras gastas nas atividades de preparação e realização do curso, além de estar se atualizando e desenvolvendo novas habilidades de liderança e oratória. Ademais, não deixa de ser uma oportunidade de vitrine, capaz de ampliar seu horizonte de carreira.
Para os colaboradores, é a possibilidade de adquirir novos conhecimentos e de se desenvolver profissionalmente, com a comodidade de local e horário.
Sempre escutamos que um negócio é bom quando o é para os dois lados. Pois temos aí uma iniciativa do RH que pode ser boa para os três lados: empresa, multiplicador e colaborador.
Luiz Aurélio Baptista é diretor de RH da Dígitro Tecnologia.