Autor: Raphael Machioni
Já é uma tradição aqui no Brasil. Além de oferecer bons salários e um ambiente de trabalho adequado, as empresas sabem que precisam ir além para contratar e manter os bons profissionais. No caso, significa oferecer benefícios condizentes com as tarefas e os desejos dos colaboradores. Os vales de alimentação, refeição e transporte são os exemplos mais corriqueiros. Contudo, a questão é que atualmente não basta apenas proporcionar essas vantagens para reduzir a saída de funcionários; é preciso também garantir que eles possam usufruir da melhor forma que quiserem.
As empresas brasileiras ainda têm uma grande dificuldade de reter seus talentos e evitar o turnover, expressão que representa a taxa de rotatividade de uma empresa. Em 2016, no auge da crise econômica, por exemplo, 40% das empresas brasileiras tiveram altos índices de desligamentos, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Nem mesmo quando o país estava com a economia sólida esse indicador foi positivo: entre 2012 e 2014, essa taxa foi de 82%, segundo a consultoria Robert Half – a média global era de apenas 38%.
Os dados reforçam que o salário e uma possível estabilidade não servem mais como os principais ganchos para recrutar novos colaboradores. Em um cenário de intensa competitividade e grande especialização entre os profissionais, as empresas precisam se tornar mais atrativas. Foi-se o tempo em que elas ditavam as regras na hora da contratação – agora o poder está nas mãos dos trabalhadores, os quais sabem que podem encontrar algo que lhes agradem em outro lugar. Essa é uma realidade comum a diferentes setores e segmentos.
Além de contratarem melhor, as organizações precisam traçar planos que evitem a saída de colaboradores que já estão em seu quadro – a redução do índice de turnover também depende dessa capacidade. Dessa forma, é necessário respeitar as “tribos” que se formam no dia a dia da companhia. O grupo de funcionários que, por afinidade, gosta de almoçar junto ou trabalhar nos mesmos projetos representa uma importante comunidade reunida naturalmente e que espera ser respeitada em seu trabalho. Quando essa relação está em harmonia, o negócio tende a crescer.
É nesse ponto que entra a oferta de vantagens da empresa. Para atingir os dois objetivos listados, é necessário oferecer benefícios flexíveis, ou seja, que dão liberdade para os profissionais gastarem como quiserem. A empresa pode fornecer um auxílio-creche, por exemplo, mas se um colaborador não tiver filhos, ele não consegue usufruir desse recurso. Com a flexibilidade, todo o dinheiro é depositado em uma conta única, que permite à pessoa utilizar de acordo com seu perfil e seus objetivos. Essa tática é vital por possibilitar que o trabalhador fique mais motivado ao perceber que a empresa entende suas necessidades. Assim, ele não só consegue produzir mais, como pensará duas vezes antes de trocar de emprego se tiver essa possibilidade.
A entrada da tecnologia em diferentes setores automatizou processos e permitiu que o conceito de experiência do consumidor fosse mais bem trabalhado pelas empresas, possibilitando o surgimento de serviços personalizados e eficientes. Agora é o momento de levar essa ideia também ao público interno. É preciso valorizar os profissionais que trabalham para a companhia e, principalmente, entender seus anseios e motivações. Quando o empresário consegue oferecer aquilo que seus empregados mais desejam, o ambiente fica mais saudável para todos e o negócio está pronto para crescer.
Raphael Machioni é sócio fundador da Vee.