O Brasil ainda está longe de compreender a real importância do investimento social. Basta dizer que 59% dos R$ 425 bilhões investidos no ano passado pelos governos federal, estaduais e municipais na área social tiveram como destino medidas assistencialistas, sendo que os 41% restantes seguiram para ações de efetiva transformação social. Os dados, extraídos de balanços orçamentários de 2005, mostram ainda que o gasto social brasileiro é o maior da América Latina, comprometendo 21,9% do PIB (Produto Interno Bruto). Isso tudo, no entanto, não traduz políticas públicas voltadas ao investimento social.
É necessário enxergar assistência social como o conjunto de práticas que visam à emancipação do indivíduo. São essencialmente medidas que garantam ao cidadão fragilizado condições para alcançar seus direitos. E não é preciso muita profundidade para entender e assumir o raciocínio de que investimentos em áreas como educação e saúde é que garantem amparo. Todo benefício gerado nestas esferas tem como reflexo a independência em relação à máquina pública para quem vive em situação de pobreza.
Parece incoerente, portanto, que a maior parte dos recursos da área social sejam reservados à Previdência ou a programas assistencialistas. Estes últimos, normalmente paliativos, são responsáveis por promover a dependência dos menos favorecidos em relação ao auxílio prestado principalmente pela União. É o tipo de cultura que não contribui para a formação de comunidades autônomas.
Nessa salada de conceitos e idéias, é comum jogar todas as práticas de esforço individual e coletivo dentro do mesmo debate, misturadas ao conceito de assistencialismo. Ao mesmo tempo, é usual tirar a credibilidade de tudo que não atende por um nome como filantropia ou responsabilidade social. Se, no entanto, a proposta for simplificar o raciocínio e buscar o equilíbrio nas ações de cunho social, basta refletir sobre o significado do verbo ‘assistir’.
Criar uma cultura de engajamento para causas comuns, tomar consciência de quais são as necessidades da comunidade ao redor e exercer cidadania são iniciativas simples, mas que podem fazer a diferença. O fundamental, no entanto, é transformar a mentalidade de quem tem a obrigação de tomar as medidas certas para fazer do Brasil um país melhor. As exigências atravessam as fronteiras do Terceiro Setor.
A despeito do que ainda pensam representantes da classe política, é preciso ampliar o espectro e pensar a assistência social sem cultivar o assistencialismo. O mesmo raciocínio se aplica ao mundo corporativo. Ações que refletem a consciência de cada profissional vão além do que empresas socialmente responsáveis podem fazer para diminuir a desigualdade de classes. A responsabilidade social empresarial é hoje questão de estratégia.
Garantir aos cidadãos carentes uma oportunidade é investir na educação e gerar empregos. Não há assistencialismo que resista a um cenário de pessoas desocupadas e sem perspectivas profissionais. Responsabilidade social pressupõe buscar as melhores alternativas considerando o cenário e os recursos disponíveis. Assim, damos passos largos em direção a uma realidade mais digna, possibilitando a cada pessoa buscar seu próprio sustento e construir um futuro.
Beno Krivkin é presidente da Afras (Associação Franquia Solidária), entidade responsável por organizar, estimular e difundir práticas de responsabilidade social no franchising. ([email protected])