Tadeu Alvarenga
Adoro filmes! Quem não gosta? Um dos filmes que emolduraram a minha adolescência foi “Karatê Kid”, reprisado até a exaustão na “Sessão da Tarde”. Vocês se lembram? É um filme de enredo bastante simples, mas que fala de temas como liderança e motivação de uma forma bastante agradável.
O filme conta a história do adolescente Daniel LaRusso que, cansado de tanto apanhar de uma gangue de arruaceiros, busca se defender aprendendo karatê com o mestre oriental sr. Miyagi.
As primeiras semanas de seu treinamento são, no mínimo, decepcionantes: o sr. Miyagi lhe intima a polir carros velhos, pintar cercas e a executar outras tarefas que aparentemente não tem muito a ver com o aprendizado de artes marciais. Para complicar ainda mais, o sr. Miyagi insiste que as tarefas têm de ser executadas segundo certos movimentos específicos.
Um dia, o jovem se revolta contra esta situação – que ele considera injusta – e é nesse momento então que o sr. Miyagi, com a proverbial paciência dos orientais, explica que os movimentos que ele repassou ao jovem são os mesmos movimentos básicos de ataque e defesa utilizados no karatê. Enquanto polia e pintava, o jovem aprendiz se aperfeiçoava nos fundamentos essenciais desta arte marcial.
Existem várias coisas que podemos aprender nesta simples história. Em minhas palestras, cursos e treinamentos, eu utilizo esta mesma metáfora para ilustrar temas diversos como liderança, motivação, aprendizado e mudança organizacional, felicidade e satisfação no trabalho, entre outros. Mas hoje eu gostaria de compartilhar com vocês dois dos mais preciosos ensinamentos que, em minha opinião, nós podemos extrair desta parábola.
Eu descobri, em meus anos como coach e palestrante, que um dos maiores impedimentos à mudança – e isso é verdadeiro tanto para pessoas quanto para organizações – é justamente a crença de que alguma coisa é grande demais ou complexa demais para ser mudada. Isto acontece, principalmente, porque o ser humano tem uma tendência natural a se deixar deslumbrar pelo complexo e a desprezar o simples. Este comportamento, muitas vezes, é um erro, e um grande erro, porque é nas coisas simples que reside a possibilidade de mudança.
Uma empresa, por exemplo, pode ser entendida como uma coleção de saberes e processos, que sempre podem ser modificados e melhorados, gerando como resultado uma melhora na produtividade, no clima organizacional, na satisfação dos clientes, bem como na sua lucratividade. Os japoneses usaram e abusaram desta filosofia de aperfeiçoamento contínuo com os resultados favoráveis que todos conhecemos. Eles deram a esta filosofia o nome de “kaizen”, palavra formada pelos caracteres “kai”, que quer dizer “mudança”, e “zen”, que quer dizer “melhor”, ou seja, “mudança para melhor”.
De forma absolutamente análoga, as nossas próprias vidas são o resultado de nossas atitudes e escolhas, que podem ser igualmente modificadas e aperfeiçoadas, gerando, desta forma, uma maior alegria, uma maior satisfação e uma maior sensação de felicidade e energia – ou seja, o nosso “lucro” pessoal.
O papel do coach – da mesma maneira que o sr. Miyagi o faz no filme – muitas das vezes está em chamar a atenção do coachee para as coisas simples, aquelas que passam despercebidas no dia-a-dia, mas que, ao final da caminhada, fazem toda a diferença.
Um outro aspecto bastante interessante que podemos destacar na parábola do filme – e que tem tudo a ver com a filosofia do progresso contínuo – é relativa à questão do aprendizado. Para que o nosso aperfeiçoamento seja contínuo, é preciso que o nosso aprendizado também seja contínuo. O jovem Daniel não se dava conta que, enquanto ele polia carros e pintava cercas estava, na realidade, aprendendo os fundamentos de uma arte marcial milenar. Na verdade, em todos os momentos de nossas vidas estamos aprendendo, quer estejamos conscientes disso ou não. Aprender, por si só, portanto, não é vantagem: é preciso tornar este aprendizado consciente e, para isto, é necessário esforço, um esforço constante no sentido de aproveitar todas as possibilidades de conhecimento que nos chegam à porta.
O coach muitas vezes atua justamente como um facilitador da tomada de consciência deste aprendizado contínuo. Um conhecido tratado oriental sobre estratégia diz o seguinte: “Se conhecermos o inimigo e a nós mesmos, não precisaremos temer o resultado de uma centena de combates. Se nos conhecermos, mas não o inimigo, para cada vitória sofreremos uma derrota. Se não nos conhecermos nem ao inimigo, sucumbiremos a todas as batalhas”. A busca do conhecimento e, em especial, do auto-conhecimento, é, quase que invariavelmente, a chave-mestra para o desenvolvimento de pessoas e das organizações. É, preciso, no entanto, realizar um esforço consciente para estar realmente “aberto” a este conhecimento – ou passaremos as nossas vidas polindo carros e pintando cercas. O coaching pode ser de um auxílio inestimável a este processo de crescimento pessoal e auto superação.
Tadeu Alvarenga é palestrande e coach. ([email protected])