Gladis Costa
Imagine esta situação: você coloca um anúncio num site de comunicação, procurando um/a estagiário/a para a área de marketing da sua empresa. Dá instruções bem claras para onde devem ser enviados os currículos (o certo é curricula, não é?) e dá um outro e-mail, sem ser o do trabalho para que os candidatos enviem seus dados, mas menciona no texto o nome da empresa, de qualquer forma.
Dias depois, você recebe no seu e-mail do trabalho, no e-mail da empresa, um currículo de uma candidata. Não só você. Você e o seu diretor. No e-mail, além do currículo, a candidata acrescenta “uma folha de rosto”, alardeando suas qualidades, seus talentos e sua ambição de trabalhar e crescer muito.
Começou mal, muito mal. Primeiro não seguiu as orientações dadas. Quem não sabe seguir instruções, tem uma trilha muito complicada na empresa. E às vezes, é num simples episódio como este, que você detecta um ou outro traço negativo de personalidade do candidato. É claro que certa “rebeldia” é saudável, até aconselhável, às vezes, mas é preciso, primeiro, conquistar este espaço, entrar na empresa, entende? É preciso de uma senha, uma licença para fazer isto! É preciso ter autorização para ser “rebelde”.
Mas nesse mesmo dia, a gerente da empresa manda um e-mail para a candidata, explicando que ela não participará da seleção, porque fez tudo errado (não escreveu desta forma, claro), explica que ela não seguiu as instruções como indicado no e-mail, depois ainda tentou “vender” seu peixe para o chefe da gerente. Errado, errado, errado! Ninguém quer contratar uma pessoa que já nasceu com o DNA para “puxar o tapete” de outras pessoas, porque é o que parece, não? Manda o e-mail para o endereço errado e ainda copia o chefe da gerente? Deu um tiro no pé.
A candidata muito candidamente (perdoe-me o trocadilho), rebate: diz que é assim que os estudantes aprendem na escola, a terem iniciativa. Ainda culpa os professores. “Foram eles, foram eles” parece gritar. Diz que “já está cansada de procurar emprego, tem contas pra pagar, a família está pegando no pé e por isso, resolveu pegar pesado mesmo” e ainda diz que é capaz de fazer qualquer coisa para conseguir o emprego. Mas conta que fez tudo com a melhor das intenções.
Resumo da ópera: agiu errado, culpa os outros, é muito ansiosa e parece ter uma sede de vingança contra o mundo. Você contrataria alguém assim? Eu, não. Esta menina não é uma candidata, é um problema social que você está trazendo para a empresa. Fuja.
Dizem que de boas intenções o inferno está cheio. Eu não estranharia se amanhã esta mesma candidata mandasse um outro e-mail, agora para o endereço certo, usando um outro nome, ou até mudando de sexo, quem sabe, aparecendo com um ralo bigodinho?. Ora, a história dá margem à imaginação, não é? Ora, foi ela quem disse que faria “qualquer coisa” para conseguir a vaga. Não teve uma estagiária que decidiu “queimar algumas etapas”, mandando eliminar (matar mesmo) a concorrente para que ela tivesse uma chance maior? Fato recente, hein.
Como alguém disse dia desses. “Não basta ser honesto, tem que parecer honesto”. A primeira impressão conta e muito. É preciso ter cuidado com a impressão que se deixa numa situação como esta, porque por meio deste primeiro contato, você estabelece expectativas, manda mensagens e se estas estiverem erradas, quem perde é o candidato. A empresa tem outras mil opções, já o candidato…
Já li algumas pesquisas que dizem que a primeira impressão é indelével, que uma vez criada, é muito difícil mudar. Embora o discurso da candidata aí de cima seja: “Eu só quis mostrar minha iniciativa” o entrevistador pode receber outra mensagem. Ele pode entender algo como: “Espere até eu entrar aí para ver o que vai acontecer com você”. Exagero? Com certeza, mas é só para mostrar que às vezes a gente dá um tiro no pé, apesar das nossas boas intenções.
Gladis Costa, gerente de Marketing e Comunicação e Instrutora Certificada do HDI Brasil