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O desafio da liderança no início deste século


Roberto Rinaldi Jr.

Temos visto a questão da liderança ganhar importância no meio empresarial, no qual predominava, até então, a ênfase sobre gestão. O seu conceito normalmente esteve atrelado à capacidade de mobilização de massas apoiado, em especial, no carisma do líder. Nesse sentido, aplica-se com propriedade ao exercício da política, da religião, dos movimentos sociais, pressupondo poder de convencimento para uma causa. Porém, abre espaço para manipulações e falsas expectativas ao depender dos atributos extraordinários de um indivíduo para decidir sobre e por muitos outros.

Mais recentemente, com o crescimento da mídia e do foco na indústria global do entretenimento, foi produzida a figura da celebridade, conveniente pelo poder de estimular consumo. Atletas, artistas de todo tipo e modelos são alçados a uma condição de atrair a atenção de multidões, que admiram seu estilo de vida e desejam suas preferências. Trata-se de um culto à personalidade, da evidência do que parece e não necessariamente do que é.

Em ambos os casos percebe-se que a força do marketing é utilizada para promover liderança, realçando o que atrai e minimizando as fraquezas, criando e incentivando dependências. Descobriu-se que é mais fácil e rápido trabalhar impressões do que construir sobre a realidade, prevalecendo, assim, a forma sobre o conteúdo. É o cenário do virtualismo, da arte da aparência, da inconsistência de valores.

Infelizmente estamos cercados de exemplos no nosso País, que exploram sentimentos e crenças, mascaram jogos de interesse e manifestam corrupção em múltiplas instâncias. O resultado são frustrações contínuas, um apelo à irreverência, uma crise de credibilidade institucional, que contribui para afrouxar os parâmetros morais pela falta de referencial. Sem princípios inquestionáveis, os relacionamentos sociais ficam frágeis e a próxima geração tem que descobrir seu próprio caminho de maturidade através de tentativa e erro.

Um outro aspecto relevante para análise do contexto da liderança é a crescente volatilidade das estruturas, a percepção de que estamos vivendo em meio à instabilidade e incertezas sem precedentes. São tempos de desigualdade social, desemprego, ameaças ambientais, violência caótica e economia imprevisível. Os efeitos da globalização e da era da informação, para citar dois impulsionadores chaves de mudanças, têm promovido uma transição histórica difícil de ser assimilada, numa janela de tempo cada vez mais curta.

O que começou como um desconforto entre gerações, acentuou-se na estratificação etária e tem se desdobrado em segmentações cada vez mais granulares. Vivemos, atualmente, uma revolução de conhecimentos e uma multiplicidade de ideologias, promovendo um campo de batalha em torno de idéias. Isso, aliado à turbulência dos novos tempos, contribuiu para o sentimento de exclusão, para as crises de identidade e de segurança. É o cenário do relativismo, da perplexidade, da falta de propósito. As conseqüências aparecem como índices alarmantes de depressão, por exemplo, fruto da incapacidade de lidar de maneira adequada com as novas relações. Nunca tivemos tantos recursos nem tanta informação disponível, porém isso não significa que o homem e a mulher de hoje vivam mais realizados e felizes do que seus antepassados.

Diante deste cenário, qual o grande desafio da liderança atual? Carecemos de líderes que saibam trabalhar com gente em situação complexa e não apenas administrar recursos. A revolução industrial demandou capacidade de organização, estruturação e otimização no uso dos ativos da empresa, apoiado na competência técnica dos gestores. Hoje, diante dos fatos que descrevemos, as instituições públicas e privadas precisam de líderes que saibam apontar a melhor direção, inspirem pelo seu exemplo e caráter, desenvolvam e mobilizem pessoas para alavancarem prosperidade. Isso não quer dizer indivíduos superdotados e carismáticos, nem apoiados numa plataforma de autoridade hierárquica ou valorizados por um aparato de marketing. Trata-se, antes, de pessoas fortes pela sua autenticidade, pelos seus princípios, pelos seus compromissos com as vidas dos outros.

Líderes assim estabelecem uma plataforma de relacionamento para compartilhar ideais e realizações, estendem a colaboração além das fronteiras de seu ambiente ou organização, fazem acreditar que grandes sonhos são possíveis de acontecer. Afinal, continuamos precisando de homens e mulheres que tragam e sustentem esperança de resultados significativos, cultivando valores interiores capazes de gerar grande valor exterior.

Roberto Rinaldi Jr. é sócio-diretor da ProBusiness, consultoria para transformação organizacional e gestão, em São Paulo.

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