Autora: Cristina Piton
As experiências vivenciadas dentro das organizações têm trazido preocupação e surpresa. Surpresa pelo fato de estarmos em pleno século XXI, onde se fala em qualidade de vida e bem estar, quando nos deparamos com pessoas adoecidas não no corpo, mas principalmente na alma. A preocupação está no fato das empresas não se sentirem responsáveis por assuntos que não nascem necessariamente dentro da própria organização.
Concordo plenamente que problemas originados por situações psicológicas e espirituais podem nascer na vida social, afetiva e familiar, mas também afirmo que o sistema neurológico e emocional são intimamente ligados e as experiências são trocadas em todos os âmbitos da vida. Uma experiência familiar negativa, por exemplo, afeta o comportamento do ser humano dentro da organização, comprometendo diretamente sua performance.
O ser humano é integrado e quando “adquirido”, o pacote de emoções bem ou mal sucedidas vem completo. As empresas ainda têm dificuldades em perceber o indivíduo como um ser único. As mudanças precisam atingir os quatro planos de existência humana: física, emocional, mental e espiritual. De que adianta as empresas investirem em melhorias de infra-estrutura, mobiliário confortável, software de ponta, telefonia com fibra ótica, backbones, hardware de alta potência, se as pessoas não se sentem “confortáveis” com a organização. O medo tem inibido as relações.
As pessoas atualmente tem que demonstrar atualização, eficiência, alta performance, excelente relacionamento interpessoal, equilíbrio, motivação e felicidade. Mas, imagine se você tivesse que trabalhar em uma área que foi realocada, caso contrário teria sido demitido, tem um “chefe” incompetente, sua avaliação por competência é sempre subjugada, seu salário é totalmente defasado em relação ao próprio departamento, simplesmente por esperar o próximo alinhamento salarial. Bastante contraditório, não?
A empresa sofre impactos contínuos com a pressão externa, ora pelo governo, pelos impostos, pelas leis oportunas, ora pela própria crise social, política e econômica. O ser humano por ser inteligente e pensante tem que se equalizar e reajustar, aceitar a mudança, ser participativo e não pode, em hipótese alguma, “sentir”, porque não há espaço para isso. A velocidade está a todo vapor e as relações abaladas, porque as pessoas não se veem. Percebemos o outro naquilo que interessa, no que é relevante para o sucesso do negócio. Quando digo que as pessoas estão doentes dentro das organizações é porque elas não estão sabendo lidar com tudo o que estão sentindo, não conseguem traduzir seus sentimentos para gerar ações ou ao menos para pedir ajuda. Se não identificamos o que sentimos, como poderemos ter consciência e transformar em novas opções?
As quatro vertentes que conduzem o ser humano precisam ser revistas pelas empresas. Ginásticas laborais reduzem absenteísmo e turn-over, mas não garantem que as pessoas fiquem felizes. É necessário uma reavaliação do que realmente as pessoas precisam. Muitas vezes, elas estão clamando por atenção, conversas informais, eficiência das interfaces, mudança de postura da liderança e revisão dos processos.
As empresas investem milhões em palestras sobre atitude, ética e relacionamento, mas esquecem que esses atributos começam pelo board, boss, pela holding e pelo conselho. Os valores são definidos pela forma que as pessoas são tratadas e não pelos bunners pendurados em cada sala freqüentada. O ser humano para ter alta performance precisa estar inteiro, não em frangalhos. As empresas não precisam montar SPAs, universidades corporativas, mesquitas ou sala com divã, mas precisam reavaliar como querem ficar daqui para a frente. Se, apenas o pronto socorro será suficiente ou se a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) será com pacientes crônicos e quórum garantido.
Cristina Piton é diretora executiva da CP One inteligência em talentos humanos. ([email protected])