Autor: Ruy Shiozawa
Não controlamos nada. Esse é um excelente ponto de partida para uma ampla reflexão sobre o que é liderar em um cenário corporativo contemporâneo e multigeracional. Todo mundo já está cansado de saber que as novas tecnologias da atualidade impactaram profundamente a sociedade. A maneira com que as pessoas se relacionam, pensam e agem hoje não é a mesma que era há apenas dez anos. Essa mudança também causou impacto profundo nas relações de trabalho. Então, como liderar nos dias de hoje? Isso também mudou? Para responder a essa pergunta, vamos recuar um passo e entender o conflito que ocorre em muitas das organizações contemporâneas.
O modelo hierárquico rígido nas empresas funcionou muito bem na origem – a Revolução Industrial – e por muitas décadas depois. Hoje, obviamente esse modelo não se sustenta mais. Então, por que tanta resistência? E, ainda mais perturbador, por que essa resistência vem do “topo da pirâmide”? Aliás, na maioria das vezes, em detrimento do desempenho da empresa. A resposta é simples: esses líderes à moda antiga têm medo de perder o controle. Para eles, temos uma má notícia: já faz algum tempo que o líder não controla mais nada.
O mundo contemporâneo simplesmente tem muitos canais, muitas possibilidades de interação. A vida profissional está cada vez mais interligada à vida pessoal. O ambiente físico, o escritório é cada vez menos necessário. Equipes são formadas por pessoas em diferentes unidades da empresa, em diferentes regiões e até mesmo países! As pessoas nunca estiveram tão dispostas a compartilhar suas experiências; a comunicação de uma via é cada vez menos aceita. Em um ambiente desses, as palavras “controle” e “poder” estão tão obsoletas quanto as tecnologias criadas na Revolução Industrial.
Mas então, como liderar em um novo cenário corporativo? Há duas décadas, a consultoria global Great Place to Work® realiza a pesquisa Melhores Empresas para Trabalhar em mais de 50 países. Com base na experiência conquistada pela análise anual de mais de 7 mil empresas ao redor do mundo e 12 milhões de funcionários na América do Norte, América Latina, Europa, África, Oceania e Ásia posso enumerar três dicas básicas para fomentar uma liderança eficiente e inspiradora.
1. Crie uma cultura de compartilhamento
Para criar uma cultura de compartilhamento é necessário que esse valor seja disseminado cotidianamente no ambiente de trabalho. Um exemplo é Elektro – eleita, em várias edições, uma das Melhores Empresas para Trabalhar – Brasil – que escolhe eletricistas aleatoriamente para fazer apresentações para executivos de outras empresas que visitam a companhia para entender melhor a cultura. Por quê? Não faz diferença se é o CEO ou o eletricista que vai falar sobre a empresa; ambos têm a mesma percepção do que é a empresa e a cultura organizacional.
2. Networking não é só para arrumar emprego
Pouco importa qual é a posição ocupada pelo funcionário. A real influência dentro de uma organização só é obtida por meio de uma rede de “seguidores” – aliás, não muito diferente do que ocorre nas mídias sociais. Os reais líderes utilizam a cultura de compartilhamento e transparência para engajar colaboradores de diversas áreas da empresa em projetos ou planos de ação. Assim, quando é hora de passar da teoria à prática, se o trabalho foi bem feito, o projeto já nasce com diversos apoiadores, tornando as chances de sucesso da ação exponencialmente maiores.
3.Uma vez estabelecida, a rede é capaz de tomar decisões
Uma vez que a comunidade é criada em torno de um objetivo comum atingido com sucesso, ela passará a trabalhar em conjunto em outras ocasiões – o que melhora (e muito) a tomada de decisão. Dessa forma, haverá uma diversidade muito maior de perspectivas, visões e pontos de vista. Quando a decisão é tomada e implementada com sucesso, ainda mais confiança é criada, fortalecendo ainda mais os vínculos entre as pessoas. Disso resulta um ciclo virtuoso, capaz de engajar cada vez mais os colaboradores.
Ruy Shiozawa é CEO do Great Place to Work Brasil.