Autor: Edilson Menezes
Digamos que o pai esteja conversando sobre trabalho com o irmão, e seu filho, que brincava ali por perto, procure entrar na conversa, dizendo:
– Por que vocês precisam trabalhar?
Durante a infância, é muito comum que pais e adultos presentes na vida de uma criança digam, sempre que ela procura expressar sua opinião:
– Não se meta em assunto de adulto!
Como esta reprimenda quase sempre acontece na frente de qualquer pessoa, o constrangimento é inevitável. Sim, se há um comportamento que aprendemos por instinto é a vergonha. Pior ainda quando o outro adulto da conversa abona a bronca:
– Este menino é fogo, está sempre querendo meter o nariz onde não é chamado. O que tem de pequeno, tem de intrometido!
Na cabeça da criança, antes curiosa para saber se a sua opinião estava certa e desejosa por entender sobre um tema que tanto escutava dos adultos, ela agora percebe que é melhor cuidar mesmo de seus brinquedos, pois o papai e o titio riram dela e isso não lhe pareceu nada bom.
O tempo passa e a criança vai para a escola. Mais de 40 alunos em sua classe. Um dia, por exemplo, ela decide questionar o professor, alegando que segundo aprendeu, a cegonha é o símbolo da vida. A maioria ri alto e até o professor não consegue evitar a gargalhada. A criança começa a murchar na cadeira, arrependida de ter perguntado.
Mais alguns anos se passam. Já na faculdade, acumulando tanta insegurança durante sua vida, ela acaba gaguejando e se enrolando ao apresentar o trabalho de conclusão. Os amigos que se saíram muito bem novamente lhe presenteiam com algo que ela até já se acostumou: risos.
Aos trancos e barrancos, o ensino superior é concluído e logo em seguida, surge a oportunidade dos sonhos: aquele emprego tão desejado. Dia da entrevista… Tensão, medo, frustração antecipada e o desejo de desistir antes mesmo de sentar-se diante do selecionador.
A pessoa decide ir com medo e tudo. Como é um ser humano excelente, o selecionador percebe a timidez muito acima da média, observa uma pessoa tipicamente cabisbaixa e com dificuldade para olhar nos olhos, mas sentencia intimamente:
Por trás desta timidez, tenho certeza de que há muito profissionalismo. Vou aprovar e contratar!
Começa o trabalho dos sonhos. Todos nós sabemos que a pressão corporativa exige decisões diversas, rápidas, assertivas e diárias. No caso dela, cada decisão adotada gera uma reflexão prévia:
– Será que estou fazendo a coisa certa?
– Será que se eu errar vão rir de mim?
– Será que se eu errar vou perder o emprego?
Esta pessoa seguirá acertando aqui e errando acolá, mas sempre com estas indagações no íntimo, até que vivencie um treinamento comportamental e entenda ou resgate sua essência.
Assim como acontece na vida real, enquanto você acompanha a vida da personagem que nos permite refletir neste artigo, provavelmente já nem lembramos do momento original em que ela teve contato com o deboche diante de sua opinião. Mas, vou lhe ajudar: foi no dia em que pai e tio, há décadas, cercearam-na do direito à intelectualidade.
Eu tenho certeza que há muitas crianças em sua vida. Filhos, netos, sobrinhos e priminhos. Com uma palavra encorajadora ou um sorriso de deboche, você pode inserir uma fagulha empreendedora ou cravar nela o invisível e tóxico medo de errar.
Às vezes, a pessoa opta por calar para que não seja submetida ao erro ou acerto. Não raro, entretanto, a vida exige muito mais do que este silêncio que ela pode oferecer.
E como sempre, a escolha,acredite, é apenas sua!
Edilson Menezes é treinador comportamental e consultor literário. Atua nas áreas de vendas, motivação, liderança e coesão de equipes. ([email protected])