Autor: Roberto Ventura
Muito tem se falado sobre como o desempenho econômico e o aquecimento da economia trouxeram como consequência negativa a falta de mão de obra, e expuseram isso como um dos gargalos para o crescimento da economia brasileira a longo prazo. Ainda que distante do ideal, o cenário atual carrega grandes conquistas, principalmente para as gerações que conheceram um Brasil de inflação galopante e emprego escasso.
Mesmo assim, estas conquistas não têm sido suficientes para, por exemplo, manter a confiança da indústria na economia. A onda de otimismo que assolava os empresários brasileiros e investidores estrangeiros há dois anos já não existe mais. O Índice de Confiança da Indústria divulgado pela Fundação Getúlio Vargas e o Índice de Confiança do Empresário Industrial pela Fiesp apontam para uma diminuição na confiança do empresário, que tem uma leitura negativa tanto da situação atual, quanto da expectativa futura. Esta expectativa tem um forte peso no resultado da eleição presidencial deste ano, que até o momento, ainda é incerto. E é nesses momentos que a incerteza passa a se tornar um mecanismo de pressão dentro das organizações.
Diante de um cenário que causa temores em vários setores da economia, no qual várias empresas estão reduzindo investimentos e expectativas de crescimento, qual é o papel que o Recursos Humanos deve adotar para auxiliar a sua organização a não perder o rumo em direção às metas e objetivos do negócio?
Ora, a redução nos investimentos e no crescimento implica em maior austeridade na gestão das empresas. Assim como os países afetados pela crise europeia nos últimos anos, em um cenário de crise as companhias devem implementar cortes de custos e maior exigência de performance de suas equipes. Volta a valer o antigo bordão: “fazer mais, com menos”.
Mais do que nunca, o RH deve cuidar para que a organização consiga trabalhar com custos competitivos no que tange a pessoas, da mesma forma como é tarefa de RH a realização de um acompanhamento da performance das equipes e dos times. E aqui é preciso deixar claro que o principal protagonista no desenvolvimento de equipes de alto desempenho e na conquista de resultados é o gestor de cada área. Recursos Humanos tem a responsabilidade de fornecer as ferramentas adequadas para potencializar esses resultados.
Mais do que isso, o RH pode ajudar os gestores a trazer das sombras da subjetividade a gestão do desempenho e posicioná-la sobre dados concretos e análises que trazem subsídios para a tomada de decisão nas organizações. Além do auxílio no desenvolvimento e coaching das lideranças, o RH pode contribuir muito, oferecendo recursos para tangibilização das atividades, possibilitando ao gestor medir com eficácia a contribuição de cada membro de sua equipe, tanto do ponto de vista de resultado quantitativos como do lado comportamental e qualitativo.
Outro ponto para o qual deve-se atentar em um momento de incerteza econômica é a retenção das pessoas-chave da organização. Identificar e reter talentos pode ser crucial para a sobrevivência de qualquer empresa, principalmente em um período de crise. Se, por um lado, o mercado de trabalho está menos aquecido, por outro, perder talentos em um momento de aperto de cinto pode ser desastroso. E, para reter talentos, é necessário primeiro identificá-los. Pergunte a si mesmo: você tem clareza de quais são os talentos da sua organização? Você tem um mapa claro de quem é chave para o sucesso de cada área da sua empresa? A tangibilização dos resultados de que falávamos antes, é o primeiro passo para identificar os talentos, para posteriormente podermos agir com programas efetivos de retenção.
Em resumo, em um momento de crise, abre-se ao RH uma oportunidade. A oportunidade de ter uma atuação realmente estratégica na organização. O RH precisa se posicionar de forma assertiva, buscar inovação e resultados, para equilibrar a relação entre o custo da folha de pagamento e a performance do time. E isso se faz com um trabalho sério de gestão do desempenho e performance, engajamento de equipes em torno das metas e objetivos, e o compromisso das lideranças em assumir o desenvolvimento das pessoas como uma premissa fundamental para o crescimento. Acima de tudo, isso se faz a partir de um olhar e de um posicionamento que tiram o RH do rótulo de área de “suporte” ao negócio, e o traz para o centro das atenções, lado a lado com outros departamentos core para a organização. É um momento precioso, no qual o RH pode aproveitar o gancho das mudanças e transformar a si mesmo em um agente positivo de mudanças.
Roberto Ventura é sócio diretor da Efix.