Autor: Roberto Santos
Por anos, a habilidade intelectual e os conhecimentos técnicos eram características que a maioria dos empregadores procurava nos candidatos durante o processo de seleção. A crença comum era a de que como o mundo dos negócios exige racionalidade e pensamento crítico, não havia espaço para emoção ou personalidade. Ainda assim, a crescente literatura em torno do assunto sugere que há uma priorização de profissionais com um alto nível de inteligência emocional.
Já é muito conhecida a máxima que se popularizou a partir de resultados concretos de pesquisas de clima e engajamento de colaboradores: as pessoas não deixam as organizações, elas deixam os chefes. Muito provavelmente, se formos medir o grau de QE dos chefes “afugentadores” de talentos, vamos encontrar “ignorantes emocionais”. Estudos mostram que profissionais com pouca inteligência emocional – caracterizados pela rudeza nos relacionamentos e pouco controle sobre seu humor e emoções – têm impacto sobre os colegas e a organização como um todo. Algumas pesquisas, por exemplo, indicam que cerca de dois terços das pessoas prefere evitar o contato com esses profissionais.
Mas afinal, o que é inteligência emocional? Muitos consideram a inteligência emocional o outro lado da moeda do QI, ou Quociente Intelectual. Não é suficiente mostrar uma forte competência em apenas uma dessas medidas – ao contrário, os melhores candidatos devem ter um bom equilíbrio entre ambos.
E o que é, exatamente, a inteligência emocional? Em resumo, o Q.E., medida da inteligência emocional, é a capacidade de uma pessoa ler, interpretar e responder às emoções, tanto as suas próprias quanto às dos outros. Pessoas com um alto nível geral de Q.E. são hábeis para perceber, controlar e compartilhar as emoções. Essa capacidade geral pode ser detalhada ou aprofundada em seis componentes da inteligência emocional: os intrapessoais são o autoconhecimento, a autoregulação e a percepção das próprias emoções; e os interpessoais são a expressão, empatia e influência sobre os estados emocionais dos outros.
Esta competência emocional contribui significativamente para se criar um ambiente de colaboração e trabalho em equipe, crucial para qualquer organização. Profissionais com inteligência emocional têm mais facilidade para interagir de forma positiva em um grupo, não importa o quão diversificado seja o perfil dos outros membros do time.
O alinhamento para o maior grau de interdependência e complementaridade de uma equipe são ingredientes essenciais para que possa atingir harmonia nas relações e alta performance, em torno de um objetivo comum. Isso só é possível quando habilidades de comunicação interpessoal, empatia e de negociação estão presentes. Estas habilidades são direta e significativamente influenciadas pelo quociente emocional dos membros da equipe.
Para a liderança, a inteligência emocional é fundamental. Várias organizações, aliás, há muito tempo não selecionam seus gestores com base somente nos conhecimentos e experiências profissionais. Na era da inteligência emocional, os melhores líderes devem usar suas habilidades para gerenciar pessoas de origens multiculturais e multigeracionais – e a inteligência emocional é chave para isso.
A inteligência emocional pode ser desenvolvida e já existem várias ferramentas para isso. Algumas avaliações mais modernas de personalidade, que “medem” o nível de inteligência emocional que possibilita ao indivíduo conhecer quais componentes do Q.E. deve desenvolver, e até processos como o coaching, onde a pessoa busca e pratica formas de comportamento diferentes para se desempenhar melhor em suas interações com subordinados, chefes e pares.
Se você quer ter uma empresa saudável, não apenas financeiramente, mas também em termos de clima organizacional, está mais do que na hora de pensar em conhecer o nível de inteligência emocional de seus gestores, pois a era dos chefes-primatas que entregavam resultados às custas de gritos e assédio moral definitivamente acabou.
Roberto Santos é sócio diretor da Ateliê RH.