Xingar, humilhar, ameaçar, adjetivar negativamente e tudo mais que trate o outro ser humano como objeto e não como sujeito. Essa desqualificação como exercício do poder é o que se considera assédio moral. E, embora pareça ser algo forte, ainda é uma prática comum à algumas empresas, infelizmente. “Por incrível que pareça, é mais frequente do que imaginamos. Ocorre em todo tipo de organização: grande, média e pequena. Multinacional ou nacional. Pública ou privada”, conta Francisco Santos, filósofo-eticista e consultor da Aprendendo a Pensar, acrescentando ainda que essa prática tende a se amplificar quando existem crises econômicas, o que gera um sinal de alerta diante do atual cenário brasileiro.
Ele explica que o modelo que formou o gestor com característica predadora é o grande responsável por isso. “Essas pessoas ´predadoras´, por ocasião de uma situação que exige maiores e melhores resultados, não têm repertório para agir de forma menos truculenta e, perdem a mão exagerando nas cobranças. É pura transferência de medo. Coerção.” O efeito disso não são melhores resultados, mas conflito e ansiedade na equipe. “Trabalhar com medo, não habilita a criatividade nos momentos de crise, pelo contrário, destrói.” Sendo assim, o consultor acredita que a mudança do modelo mental predador deve ser objetivo de todas as organizações, pois já não vê mais espaço para esse tipo de organização. “O capitalismo deve mudar as métricas que demonstram o sucesso de uma empresa. Hoje, essas métricas são apenas da ordem financeira e econômica. Uma empresa é considerada de sucesso se acumulou bens. Isso tem que mudar”, sentencia.
Isso já acontece com as empresas que sabem, efetivamente, “para quê existem” e não precisam utilizar de pressão emocional para obter resultados. Essas engajam e inspiram os colaboradores a agirem em função de uma causa e não de metas sem significados, de acordo com Santos. “Se o líder tem uma postura mais humana e colaborativa, ele dividirá seus objetivos com a equipe e juntos conseguirão atingir o que esperam deles. É óbvio que essa postura deve ser genuína e iniciar com o principal executivo”, completa. Ou seja, é necessário instituir na empresa uma agenda ética para tratar das condutas das pessoas de forma estruturada e reflexiva. Para chegar a isso, primeiramente, a empresa que possui pessoas ´predadoras´ deve reconhecer que isso está acontecendo. Em seguida criar um processo de resignificação do propósito e valores, envolvendo todos da empresa e não apenas alguns executivos. “A colaboração, confiança e respeito são os ingredientes fundamentais para edificar um novo paradigma, mais virtuoso e próspero.”
Na visão de Santos, ninguém acorda todos os dias cedo para trabalhar e enriquecer alguém, mas fazem isso por que precisam ou por que a empresa tem uma causa. Se a causa for “nobre”, no sentido de que contribua para o desenvolvimento da empresa, dos colaboradores, da comunidade, do país e, por fim do planeta, o engajamento é maior e mais perene. “As organizações devem existir para serem ricas, éticas, inspiradoras e perenes. Devem deixar legados e não herança. Devem construir reputação e não imagem de marca”, conclui.