Autor: Renato Maggieri
O trabalho é uma das áreas que mais proporciona prazer e causa sofrimento aos seres humanos. Durante a minha trajetória como consultor de negócios, encontrei pessoas que realmente se sentem satisfeitas com sua função profissional, ao mesmo tempo que também tenho visto tantos outros que têm em seu trabalho uma grande fonte de desconforto e frustrações. Para a minha surpresa, o que mais percebo é o índice de insatisfação é grande tanto entre os empresários, quanto nos empregados.
Muitos funcionários reclamam de seus patrões e chefes, da rotina, das injustiças na empresa, da falta de perspectiva de crescimento, do salário e, principalmente, do fato de estarem trabalhando para alguém e não para seu enriquecimento.
Do outro lado, ouço empresários se queixarem da ingratidão de seus funcionários, da exigência dos clientes, da falta de estabilidade financeira, dos impostos e, também, de que muitas vezes, depois de pagarem todas as contas sobra pouco – e que apesar de serem os donos da empresa, outros ficam em situação melhor que a deles.
Sabemos que trabalho não é diversão, pois se assim fosse, ao invés de recebermos dinheiro em troca dele, teríamos é que pagar. Contudo, entre a felicidade plena utópica e antessala do inferno existe um caminho a ser percorrido. Realmente acredito que é muito possível ter um trabalho, seja ele como empregado ou como um empreendedor, e sentir-se realizado profissionalmente.
Diante do exposto, fica a pergunta: qual é a razão de experiências profissionais frustrantes?
Não existe um único motivo, há casos de pessoas que vivem para realizar os sonhos profissionais de seus pais, até aqueles que receberam um negócio como herança e se veem obrigados a trabalhar em algo em que não tem a menor habilidade e que não desejavam, entre muitas outras. Contudo, creio que existe uma tríade que engloba a maioria dos casos:
– Não trabalhar no que gosta
O primeiro fator a considerar é saber o que se gosta de fazer. Muitos não sabem dizer qual é o seu sonho e se não sabem onde querem chegar, como saber como ir?
“Trabalhe naquilo que gosta e nunca terá que trabalhar”, já disse Confúcio. Se todos seguissem tal regra, muito sofrimento seria poupado. Ou se jovens antes de decidirem em qual curso universitário deviam se matricular, ou para quais empresas e posições enviar seus currículos, investissem tempo pesquisando, conversando e estagiando, sempre com o objetivo de conhecer a fundo a carreira que estão escolhendo.
– Não trabalhar no que tem mais habilidades
Tenho verdadeira admiração por músicos e adoraria tocar perfeitamente um piano ou um violão. Sei que se decidir e me esforçar para aprender, posso até vir a tocar um desses instrumentos um dia, mas tenho perfeita consciência de que essa não é uma das minhas habilidades naturais e para me destacar como musicista teria que me dedicar muito. Consequentemente, teria uma grande dificuldade em ganhar dinheiro com música.
É fácil perceber isto quando se fala de música ou esportes, mas quando falamos de profissões, esta análise é muito menos óbvia. Deparo-me constantemente com empresários, que não gostam de liderar, com empregados que têm muita dificuldade em seguir instruções, vendedores que não gostam de relacionar-se com pessoas. Aí fica difícil, não é mesmo?
Atualmente, existem testes vocacionais muito bons, mas há um paradigma que isso é coisa para adolescentes que estão cursando o ensino médio. Isso não é verdade, uma vez que o mercado de trabalho está saturado de mulheres e homens maduros, que estão tão perdidos tanto quanto crianças. Todos devem investir em autoconhecimento, por meio de testes vocacionais e análises de perfis – comportamental, temperamento e personalidade – pois quanto mais eu me conheço, mais me respeito e menos me coloco em situações que me frustram.
– Trabalhar sem resultados
Ainda que alguém faça o que sempre sonhou e que se sinta plenamente adequado às funções que desempenha, não há nada mais desmotivante do que trabalhar sem resultados. Sobre isto seria possível escrever um livro, pois há muitos fatores que influenciam no resultado do trabalho e dos negócios, mas posso rapidamente citar alguns poucos: falta de comportamentos empreendedores, mercado em que se atua, os “PÊS” de marketing, dentre muitos outros.
Sem nos aprofundarmos aqui nas causas, posso afirmar que, se uma pessoa está trabalhando por longo tempo em algo que não consegue crescer, ser promovido, galgar posições mais altas – é certo que há algo errado.
A falta de retorno financeiro mina qualquer projeto e destrói todo tipo de sonho. De forma que é muito importante analisar honestamente qual tem sido a performance daquilo que fazemos. Se não houver histórico crescimento ou perspectiva de sucesso, será preciso ter a coragem de romper com essa situação e mudar.
No trabalho gastamos muitas horas do nosso dia, em torno de um terço de nossas vidas. Portanto, não estar feliz e realizado nesta área equivale a dizer que estaremos presos em uma cadeia, sem termos sido condenados por um crime. Afirmo isto porque já estive muito insatisfeito com meu trabalho anos atrás. Fazia bem o que me propunha fazer, as pessoas me admiravam, mas, dia após me violentava. Até ganhei dinheiro, mas adoeci por apenas trabalhar como uma engrenagem fora de medida dentro de um motor. Felizmente, tive a oportunidade e a coragem de mudar.
Hoje, trabalho bastante, enfrento muitos desafios diariamente, mas não considero mais uma violência, pois faço o que gosto, de acordo com minhas habilidades e por isso tenho um bom retorno financeiro do meu trabalho. E esta adequação é fruto do que foi semeado: autoconhecimento, entendimento dos pontos fracos, correção daquilo que era indesejável e assimilação de novos comportamentos voltados ao resultado.
Esta trajetória não é fácil, é trabalhoso, mas vale muito à pena! Tenha coragem de trilhar este caminho e realize-se nesta tão importante área de sua vida!
Renato Maggieri é palestrante e consultor de negócios.