Treinamento: quem paga a conta?

Autor: Edilson Menezes
Há muita empresa por aí alegando que o próprio funcionário deve arcar com treinamento. Costumam dizer:
– Se vai fazer bem pra ele, por que a empresa deve pagar? Amanhã, ele se demite e nós ficamos com a conta!
Do outro lado, ainda temos funcionários supondo que podem promover a terceirização do sucesso pessoal. Querem vencer, destacar-se, encontrar a remuneração dos sonhos, mas acham que o patrão deve pagar esta conta.
– Eu vou tirar dinheiro do bolso pra fazer treinamento? Se a empresa quiser, ela que pague pra mim!
Escutei estas frases muitas vezes. Como sempre procuro explicar para a pessoa física e também para o empresário o que é justo e injusto sobre investimento em educação alternativa, penso que é hora de fazê-lo de maneira mais abrangente. Vou elencar benefícios e responsabilidades sobre o interesse que é de ambos.
Treinamento integralmente técnico: os empresários não podem, sob nenhuma hipótese, treinar colaboradores sobre um novo sistema, quem sabe novas tarefas que atenderão aos requisitos técnicos de uma certificação recém-conquistada, e cobrar, seja parcial ou totalmente, dos funcionários. Fazê-lo é o equivalente a treinar um policial para que atire bem e depois descontar o treinamento e o valor da arma. Não faz sentido algum.
Treinamento técnico-interdepartamental: imagine se o programa de trainees, mundialmente respeitado, cobrasse do trainee pela experiência que ele adquire conhecendo cada setor da organização. Eu sei, você deve ter pensado: “é obvio que está errado”. Então, aproveite e pense se é justo que a empresa ofereça ao seu gerente comercial um curso de “contabilidade para leigos” e como contratou um instrutor externo, decida cobrar 20% deste investimento do gerente. É injusto. Mas, e se o desejo for inverso? Se o gerente comercial entender que está na hora de conhecer um pouco mais de contabilidade? Digamos que este gerente proponha para a empresa que invista, rateando metade do custo com ele. É justo. O que muda é o interesse. O empresário deve pagar integralmente para ter funcionários mais completos e funcionários devem ter consciência de que coçar o próprio bolso é digno.
Treinamento técnico dissociado: às vezes, a estrutura de instalação exige cursos como brigada de incêndio, segurança patrimonial ou coletiva, por exemplo. Na indústria, também são comuns cursos sobre equipamentos de proteção individual ou coletiva. Há empresa que cobre do funcionário, seja em valor ou descontando as horas ausentes no “banco de horas”. Além de um terrível engano, empresário que assume esta postura coloca sobre o próprio colo uma bomba-relógio e alimenta o desejo futuro de ação trabalhista.
Treinamento lúdico dissociado: neste quesito existe uma confusão enorme. O funcionário não pode pedir que a empresa se responsabilize por um curso de massagem, alegando que usará a técnica nos profissionais, em horário de almoço, para relaxar a equipe. Neste caso, a aposta é pessoal e o compromisso também assim deve ser.
Treinamento lúdico associado: tenho um amigo, Sergio Naguel, que é especialista no método batizado como “palestra em roda”. Através da lúdica dança circular, o focalizador (quem está ministrando o evento) é capaz de traçar fortes analogias e gerar resultados extraordinários para as pessoas e a empresa. Vamos supor que o líder peça à empresa que honre os custos de sua formação como focalizador de danças circulares. Aí sim, existe uma associação entre o que se vai aprender e os resultados diretos advindos da técnica. Tanto o investimento total da empresa como o parcial serão justos.
Treinamento emocional dissociado: um comportamento treinado sem conexão com a realidade da empresa não passa de treinamento pessoal. Explico: digamos que a diretoria queira contratar um palestrante para trabalhar a habilidade de liderar, mas imaginemos ainda que a empresa esteja vivenciando, no exato momento da contratação, a maior queda histórica de suas vendas. Neste caso, contrataram o cara errado. Primeiro, é preciso despertar os maiores recursos da inteligência emocional para aumentar as vendas. E, depois, com a situação voltando à normalidade, podemos trabalhar a ludicidade em favor dos líderes. Neste quesito, sob nenhuma hipótese, devemos cobrar algo do funcionário. Às vezes, empresas o fazem e justificam que é preciso dividir custos porque a situação não está boa. Pior ficará se tirar do bolso do funcionário um montante que não deveria sair de lá.
Treinamento emocional pessoal: para exemplificar, diversos institutos brasileiros ministram um treinamento que trabalha quatro emoções básicas; medo, raiva, alegria e tristeza. É uma imersão roteirizada de 30 horas em prol da inteligência emocional. As empresas não podem e não devem investir em 100% de um investimento como este. Os benefícios que a pessoa acessará serão usados em casa e no trabalho, portanto é saudável que cada um honre com 50% do valor.
Treinamento emocional profissional: todo evento contratado com os olhos direcionados à empresa devem ser de absoluta responsabilidade pessoa jurídica. Tenho observado empresários que contratam um profissional para trabalhar o aspecto comportamental em favor das competências e sob a alegação de que “vai ser bom para o currículo do funcionário”, acabam dividindo o investimento. A estratégia não poderia ser mais errada. Se você tem um funcionário de 30 anos que nunca treinou sua inteligência emocional e desconhece os limites de sua performance, é incoerente supor que ele gostará de pagar por isso somente porque você o convenceu que é importante. Um evento in company, ainda que ministrado fora dos muros corporativos, é de responsabilidade igualmente corporativa. Não se cobra nada da pessoa! 
Cuidado com uma tendência que tenho observado: empresas que ainda não tinham este hábito começam a fazer convenção anual, para se encaixar ao modelo de empresas americanas e europeias, mas acabam “descontando os dias de evento nas férias dos profissionais”.
Agora que empresas e pessoas físicas já têm uma noção sobre o que é certo, errado e quem deve pagar pela educação alternativa, só me resta deixar uma última dica.
O treino constante oferece maiores e reais chances de evolução. Há quem se permita treinar e quem invente desculpas. Há empresas que treinam e empresas que se lamentam.
A escolha, como sempre, é apenas sua!
Edilson Menezes é treinador comportamental e consultor literário. Atua nas áreas de vendas, motivação, liderança e coesão de equipes. ([email protected])

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