Velhos moldes de ensino não criam novos líderes

Ana Lúcia de Mattos

Estamos imersos em intensas mudanças sociais, políticas, tecnológicas, econômicas e culturais que estão transformando nossa sociedade. No ambiente das organizações (que precisam compreender e se adaptar rapidamente e constantemente para sobreviver), busca-se um novo perfil profissional, composto por indivíduos que sejam, mais do que bons técnicos e administradores, também líderes criativos, inovadores e colaborativos.
Reunir todas essas competências é o grande desafio do momento para os executivos e para as instituições de ensino, treinamento e qualificação. Para se chegar a esse nível, é necessária uma quebra de paradigma em relação à forma como as pessoas encaram o aprendizado e como as instituições encaram o ensino.
Para os profissionais, a imagem de que o auto-desenvolvimento está relacionado apenas aos conhecimentos técnicos e gerenciais precisa dar lugar a um conceito holístico de aprendizado. Ou seja, de que, junto com o lado racional, ligado ao hemisfério esquerdo do cérebro (relacionado ao objetivo e analítico) é essencial também desenvolver o emocional, ligado ao hemisfério direito (subjetivo e intuitivo).
Em relação às instituições, o desafio está em criar novos conceitos, metodologias e ferramentas que extrapolem o modelo expositivo-analítico (ou seja, o das “salas de aula”) e agreguem novas formas de aprendizado e aquisição de conhecimento.
Uma experiência instigante nesse sentido vem sendo realizada na Suécia. Batizada de Treinamento Ativo-Reflexivo, essa nova forma de aprendizado reúne aulas tradicionais com meditação, exercícios de integração ao meio ambiente e jogos empresariais. O objetivo é estimular o desenvolvimento de todas as capacidades potencialidades do indivíduo, tanto as relacionadas à razão quanto à emoção, o tangível e o intangível, o concreto e o abstrato, o óbvio e o sutil e, principalmente, a relação eu-tu.
Um dia de treinamento ativo-reflexivo (geralmente realizado em um ambiente totalmente novo para os participantes) começa com exercícios de meditação, visualização criativa e respiração para melhorar a memória, reduzir os níveis de estresse, aumentar a auto-estima e a concentração. Segue-se a isso a parte ativa do treinamento, uma série de exercícios lúdicos em que as pessoas são estimuladas a usar todas as suas competências de ponta como comunicabilidade, tomada de decisão, administração de tempo, gerenciamento do estresse, aprender a aprender e aprender a ensinar, com todo o seu potencial.
Por seu lado, os jogos empresariais proporcionam aos alunos a oportunidade de aprender fazendo, a forma mais efetiva de auto-conhecimento, pois trabalha o lado esquerdo e o direito do cérebro de forma harmoniosa. Ao fim de cada jornada (que dura um dia inteiro) volta-se ao intangível. Retomam-se os exercícios de contemplação e introspecção; os alunos são levados a refletir sobre as atividades realizadas e discutir suas experiências e emoções com os outros participantes.
Os treinamentos realizados até agora com esse novo conceito tem demonstrado resultados expressivos. Por meio de um mergulho no intangível, temperado com os confrontos trazidos pelos desafios simulados do cotidiano, as pessoas não só aprimoraram suas competências como também descobriram possuem de outras habilidades até então adormecidas.
A experiência sueca deve ser imitada e aperfeiçoada dentro de pouco tempo em outros países, pois abre um novo campo de desenvolvimento e treinamento profissional que, como já foi dito no início, vem a atender a uma necessidade das pessoas, das organizações e da própria sociedade. E com toda a sua riqueza cultural e étnica, tem-se no Brasil excelentes condições para adotar esse conceito e utilizá-lo em sua plenitude.
Ana Lúcia de Mattos de Santa Isabel é consultora e pesquisadora do Instituto Avançado de Desenvolvimento Intelectual (INSADI). ([email protected])

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