Autor: Paulo Henrique Pichini
No ano passado comemoraram-se os 10 anos de computação em nuvem – a pedra de toque foi lançamento do serviço AWS, em 2006. Mas, na verdade, o conceito de nuvem surgiu muito antes, tendo sido pensado pela IBM já na década de 70. A base desta visão era somar uma visão típica de mainframes a máquinas virtuais. Esse conceito não usava o nome de “cloud” e era, ao mesmo tempo, futurista, arrojado e ditatorial. O cerne de sua proposta de negócios era que a IBM – líder absoluta em mainframes – tivesse exclusividade na prestação de serviços de TI para toda a humanidade.
Este conceito seguiu vivo, adotando outras roupagens nos últimos 40 anos (Grid Computing, SaaS, etc.).
Hoje podemos mirar 10 anos para frente e afirmar que, em 2027, a computação em nuvem estará mais presente do que nunca.
Eis alguns dos fatores que fortalecem essa certeza:
– Virtualização sem volta. Seguiremos testemunhando o processo de virtualizacão não só de máquinas, mas de todos os recursos de rede, datacenter e aplicação. O conceito SD* (Software Defined) começou com o SDN (Software Defined Networking), mostrou força na sigla SDDC (Software Defined Data Center) e só faz crescer. Onde estiver o termo Software Defined, o mercado encontra camadas e mais camadas de tecnologias de virtualização que transferem para o software habilidades que antes dependiam de hardware muitas vezes proprietários. Essa realidade será default em 2027 e será vista pelos gestores como algo essencial para garantir a escalabilidade da nuvem, um “non-stop environment” onde provisionamentos e mudanças acontecerão “on the fly”.
– A App Revolution é para valer. Até 2027 veremos cada vez mais investimentos em software ou processo de transformação de aplicações com arquitetura aberta e de fácil manutenção. Será possível, inclusive, fazer essas adaptações/transformações on the fly, sem riscos de queda de sistema. A aplicação legacy ou terá desaparecido ou terá sido transformada em Web ou Mobile App. As razões para isso são muitas: o sistema legacy é caro demais, grande demais, lento demais para ser desenhado, implementado e disponibilizado. Uma de suas maiores fraquezas é a interação com o smartphone. Da interface ao core, o legacy é singularmente inadequado ao mundo mobile. Por isso seu destino é mudar, ou morrer.
– Cloud API darão elasticidade à nuvem. As API (Application Programming Interface) são essenciais para integrar aplicações e outros recursos da nuvem de forma lógica e eficaz. Em 2027, o mercado usará rotineiramente modelos de API para nuvem para conectar “n” ambientes e plataformas. As principais API serão modulares, atuando de forma independente do ambiente onde rodam nativamente. Isso gerará uma nuvem onde diferentes aplicações se interconectarão automaticamente de forma elástica e robusta.
– O data center nasce e vive na nuvem. Em 2027, os poucos data centers conservadores e pertencentes a uma única empresa ou governo que existirem terão cada vez mais portas de conexão com a nuvem. A verdade é que todo data center estará fadado a fazer parte da nuvem. Para muitos, a nuvem nasceu para servir de área de transbordo da TI. No futuro, no entanto, veremos a nuvem como uma realidade onipresente, a base sobre a qual data centers nascerão do zero, numa velocidade go-to-market que mal podemos imaginar agora.
– A Internet das Coisas mostrará a que veio. Hoje as principais barreiras para a disseminação do IoT são as questões de segurança e de interoperabilidade entre dispositivos de diferentes fabricantes e plataformas. Até 2027, esses desafios terão sido equacionados e o resultado será um mundo com projetos de TIC em que dispositivos IoT tão diferentes um do outro como um forno industrial e um marca passo serão vistos como endpoints totalmente programáveis, gerenciáveis e seguros. A grande infraestrutura por trás da operação do IoT será a nuvem.
– A nuvem é a fundação de todo o universo digital. A verdade é que em 2027 talvez nem falemos mais de nuvem – ela será uma infraestrutura tão onipresente e essencial como a terra, como o ar que respiramos. A nuvem será o habitat natural e seguro de todo tipo de aplicação, das mais complexas soluções corporativas, governamentais e militares ao mais recente game de realidade virtual. Grandes grupos irão armazenar seus dados – agora intimamente ligados ao BigData e a soluções Analytics que todo dia influenciam a direção dos negócios – em cloud data centers e cloud data bases. Será normal contar com bases de dados de mais de 100 petabytes (1 petabyte = 1000 terabytes).
A crise econômica e política que o Brasil tem vivido nos últimos 3 anos tem reforçado o foco do mercado em cloud – muitos são atraídos pelo custo on demand e pela flexibilidade deste modelo, plenamente capaz de crescer ou encolher de acordo com o ritmo dos negócios.
Mas a computação em nuvem é muito mais que isso. Hoje, e nos próximos 10 anos, toda inovação tecnológica encontrará na nuvem seu habitat natural.
Paulo Henrique Pichini é CEO e president da Go2neXt Cloud Computing Builder & Integrator.