Autor: Régis Lima
Oriundo dos estudos do campo da psicologia, o termo “zona de conforto” se refere à uma série de comportamentos, ações e escolhas que têm como objetivo manter o indivíduo em questão envolto em uma sensação de segurança e de proteção dos possíveis males que o aguardam para além das barreiras pré-estabelecidas entre o que lhe é ou não familiar. Mas, vale lembrar que conforto e comodidade nem sempre são sinônimos de bem-estar: muitas vezes, estas condições, justamente por não trazerem um desafio para a pessoa, seja na esfera profissional ou pessoal, acabam por propiciar um ambiente letárgico e dormente, o qual limita o descobrimento de novas capacidades que poderiam ser até então inéditas ao indivíduo.
Em seu artigo nomeado como “Trabalho duro supera o talento”, o escritor americano Ed Latimore ressalta que de todas as suas conquistas, 99% do teor delas advém do esforço genuíno, enquanto somente 1% reside em seu talento. E este dado também pode ser aplicado em uma escala mais ambiciosa que dialogue com profissionais de muitos segmentos diferentes: talentos e habilidades podem ser adquiridos através do estudo com o passar do tempo, dado que a capacidade de absorção de novos conhecimentos da mente humana é surpreendentemente ampla.
Logo, entende-se que permanecer na zona de conforto, seja no campo acadêmico, na carreira ou nas relações interpessoais de alguém não implica necessariamente que ele estará satisfeito, e sim, apenas conformado com a situação atual. E é esta cultura de conformidade que precisamos identificar e combater.
Afirmo isso porque, especialmente no âmbito profissional, a tomada de decisões difíceis é uma realidade constante que demanda uma maturidade e até mesmo, uma ousadia de nossa parte que precisa estar sempre em exercício, caso contrário, quando nos depararmos com uma adversidade que exija uma postura de firmeza, estaremos colocando em risco as conquistas de nossa carreira e todos méritos futuros que ela poderia nos trazer.
Esta premissa de reinventar a si mesmo e as próprias perspectivas profissionais não quer dizer que devamos iniciar empreitadas descontextualizadas e arriscadas ao extremo todos os dias, ela só demanda um grau de adaptação da nossa parte. Adaptação esta que não vem da noite para o dia e que precisa se tornar parte da nossa conduta de trabalho, de visão de mundo, de pessoas e de nós mesmos, portanto, precisa ser regularmente praticada.
Identifique os seus medos
Frequentemente, por estarmos tão imersos em nossa realidade de proteção e segurança, não nos damos conta de que muito daquilo que estamos evitando pode ter um grande potencial enriquecedor às nossas vidas a longo prazo. O coach motivacional Anthony Robbins caracteriza este comportamento como uma dinâmica de dualidade entre a busca pela satisfação e medo constante de experiências dolorosas, implicando assim que todas nossas atividades são em função de um fator ou de outro. Por mais abstrato que este conceito possa parecer em um primeiro momento, treinar o reconhecimento das razões que nos levam à determinada ação pode ser algo muito positivo, pois estaremos capazes de detectar a raiz do problema e trabalhar sobre ela.
Além disso, é preciso também compreender que a ausência da dor não necessariamente significa que estamos vivenciando uma experiência positiva e prazerosa. Muitas vezes, a permanência neste meio termo é o que nos leva a desenvolver diversos males que nos afetam em todas as esferas da vida, tais como ansiedade, depressão e uma insegurança crônica que nos faz duvidar de nossas capacidades em praticamente todos os aspectos de nossas vidas.
Não existe uma fórmula pronta para o crescimento intelectual
Ainda que estejamos discutindo o levantamento de perguntas e porquê é necessário arriscar-se sempre que possível, também precisamos entender que cada indivíduo possuí o seu tempo e o seu processo mental de absorver novos conhecimentos. Portanto, algumas medidas básicas são sempre necessárias para o exercício do questionamento e do aprendizado de algo novo, tais como cultivar o hábito da leitura de diferentes materiais, produzir novos conteúdos através da escrita, estar disposto a escutar outros pontos de vista e leva-los em consideração, definir objetivos básicos a serem alcançados e o hábito de observar o comportamento de pessoas com realidades diferentes das nossas.
Assim, estaremos permitindo que um novo rumo seja traçado, por mais que não saibamos exatamente qual ele é ou para onde pode nos levar. Os passos deste caminho não precisam ser os mesmos para cada pessoa. Eles só precisam ser tomados enquanto ainda é possível fazê-lo.
Aprenda a interpretar os sinais da sua mente
Como nem sempre temos a disponibilidade de parar nossa rotina e realizar toda esta análise, raramente estamos atentos ao que tanto a nossa mente quanto nosso corpo querem nos dizer. Digo isso me baseando na definição estabelecida em 1908 de “zona de conforto” pelos psicólogos Robert M. Yerkes e John D. Dodson, que determinaram que ela consiste em um estado entre a satisfação e o descontentamento, ou seja, ela consiste em um conforto relativo.
Um conforto superficial que pode muitas vezes esconder necessidades muito maiores em sua profundidade. Dito isso, levemos em consideração reações sintomáticas do corpo e da mente humana, como a ansiedade, a inquietude, o estresse e o inconformismo. Elas podem estar querendo nos dizer algo que este estado de comodidade não permitiu ser notado ainda, que é de nossa natureza sempre buscar por algo a mais.
Em respeito aos nossos limites, recomenda-se que este processo seja feito de maneira gradativa através de um estudo sobre nós mesmos que nos traga mais informações a respeito de onde exatamente procuramos chegar e quais qualidades temos conosco nesta jornada.
Quando nos aventuramos para além de nossas fronteiras, sempre iremos voltar com uma bagagem – a qual pode ser tanto positiva quanto negativa. Assim, um espaço neutro que nos permita analisar, interpretar e absorver as vivências adquiridas como um aprendizado é essencial para que exista um equilíbrio dentro de nossas ações. A zona de conforto em si não é um estado ruim, ela só precisa estar inserida em uma dinâmica de constante troca, questionamento e apresentação de novas perspectivas.
Benefícios como o aumento da criatividade, da inteligência competitiva e da autoconfiança e da independência são só alguns dos itens que compõem uma longa lista advinda desta cultura de equilíbrio entre o risco e o espaço que conhecemos como nosso lar. Este caminho será indubitavelmente diferente para cada pessoa e por conta disso, exigirá uma inteligência emocional forte o suficiente para a interpretação correta dos fatos particulares a cada um.
Comecemos então pelas bordas, pelas beiradas como quem faz uma especulação de mercado antes de adquirir definitivamente um novo terreno para uma edificação. Assim, podemos ponderar o quanto cada um destes espaços exigirá de nós e como devemos nos dividir entre suas respectivas vantagens e desafios.
Régis Lima é diretor executivo na Lumen IT.