Neste ano, os brasileiros têm enfrentado uma fase complicada que não se trata da economia. O País também passa por outra crise: a de recursos naturais. Como é o caso da luz, que vem pesando no bolso dos cidadãos – em comparação com o que se pagava em 2013, o aumento foi 58%. Sem contar o problema com a água que afligiu, principalmente, o estado de São Paulo, tendo a maior seca desde que a Sabesp passou a ser responsável pelo saneamento, há 30 anos. Por mais que se saiba que o problema não seja apenas e totalmente culpa de São Pedro e a falta de chuvas, que prejudica os sistemas energéticos e hídricos, mas também fruto de uma má gestão de projetos públicos. Assim, o setor de utilities (formado por empresas responsáveis pela entrega de água, energia e gás) acaba se mostrando muito específico e delicado. “Talvez, só o segmento financeiro é mais específico do que esse. Mas com relação a todos os demais, esse é o mais específico, por conta desse componente de negócio, regulatório e ambiental, muito forte nele”, explica José Ricardo Oliveira, sócio de consultoria da Ernst & Young (EY) para o setor elétrico e de saneamento.
Ainda assim, segundo ele, o setor tem passado, sim, por um crescimento. Até 2013, ele vinha apresentando uma evolução muito forte, a partir do racionamento de energia, em 2001, crescendo uma média de 10%, superando inclusive o PIB. Entretanto, junto com esse período positivo, que toda indústria passou, os consumidores também tiveram um crescimento de seu poder aquisitivo. Houve uma grande ascensão da classe média e do acesso ao crédito. Assim, aumentou-se o consumo, com a maioria dos itens adquiridos sendo elétricos (televisão, geladeira, computador, máquinas), o que também tornou um agravante para insumos. E mesmo com a diferença de regulamentação dos três subsetores, em que, hoje, o elétrico se apresenta mais bem desenvolvido, Oliveira ressalta que o setor vem passando por mudanças. Especialmente, para haver uma maior gestão nos recursos naturais e também oferecer um melhor serviço aos consumidores. “A grande transformação ainda está por vir”, diz.
Mesmo possuindo um desenvolvimento, de certa forma, lento se comparado com outros setores. Elas vêm profissionalizando seu atendimento, investindo em tecnologias e assumindo uma maturidade influenciada, até mesmo, das outras indústrias, pois já perceberam a importância que faz um bom relacionamento com os seus clientes, mesmo que no caso deles não haja muito poder de escolha sobre a empresa que fornecerá água, energia ou gás. “Elas terão comportamento parecidos com outras empresas que definem suas estratégias de acordo com o perfil de consumo de seus clientes”, prevê o executivo.
De acordo com Oliveira, tal evolução tem um nome: smart grid. Podendo ser chamado também de rede inteligente, esse é um projeto que ainda está começando a ser implementado no mundo e, no Brasil, já há algumas empresas com atenção voltada a ele, principalmente, as do subsetor eletro. Como explica o sócio consultor, é aplicação de tecnologias, que farão um processo de digitalização na medição do uso da energia. “Quando tivermos acesso a isso, os consumidores poderão decidir se querem um painel solar no teto da casa e gerar sua própria energia e devolver aquilo que sobrar”, conta. Para isso, haverá um medidor tanto nas empresas quanto nas casas dos clientes, a fim de analisar como é o perfil dele e a sua necessidade energética, por exemplo. “O medidor da casa será um mini computador e o cliente poderá interagir com a empresa por meio desse equipamento. Ele vai começar a saber sobre seus hábitos de consumo, ver os horário de pico, saber quando poderá ter energia disponível, possibilidade de energia pré-paga, etc.” O que fará dos consumidores smart clients, com autonomia suficiente sobre aquilo que consomem e cada vez mais voltados à realidade da Internet das Coisas, com todos seus equipamentos ligados à essa central. “Amanhã tudo isso estará mais integrado e trazendo mais alternativas às empresas.”