Autor: Armando Kolbe Júnior
Cinco empresas brasileiras movimentaram o ano de 2019 ao entrar para o rol de unicórnios — startups iniciantes avaliadas em mais de um 1 bilhão de dólares. Segundo o Crunchbase Unicorn Board, o país foi o 3º maior “criador” das criaturas mágicas no ano passado, acompanhado da Alemanha. A dupla ficou atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Essa conquista mostra a importância das startups para o nosso crescimento econômico, exigindo maior atenção do poder público e da população.
Estamos provando nosso potencial para nos desenvolvermos economicamente a partir das startups desde 2018, quando a fintech Nubank tornou-se o primeiro unicórnio brasileiro. A empresa repetiu um grande feito em 2019, sendo a primeira tupiniquim a receber o título de decacórnio — por ter valor de mercado superior a U$ 10 bilhões.
São conquistas que devem gerar competitividade saudável entre os empreendedores brasileiros, pois o crescimento de um incita o desenvolvimento de todos. Ao todo, contamos com 11 unicórnios, sendo estes os que atingiram o status em 2019: Loggi (logística e entregas), Gympass (fitness e esportes), QuintoAndar (imobiliária), EBANX (finanças) e WildLife Studios (jogos eletrônicos).
O mundo das startups, diferentemente das empresas tradicionais, manteve em 2019 o mesmo clima de entusiasmo vivenciado em 2018. O mais importante é que o otimismo não era somente em discursos, mas em dados reais. Especialistas e diversos investidores do mercado de startups, de acordo com a Folha de São Paulo, dividem o Brasil em dois: “o dependente da macroeconomia e das incertezas políticas e o que se descola, ao menos em parte, para viver um ciclo paralelo”. De qual lado queremos estar? A decisão é de cada um!
Porém, manter o status de unicórnio nem sempre é fácil. Por exemplo, a empresa de tecnologia da saúde Theranos (EUA) tinha um valor estimado de U$ 9 bilhões em 2014, mas fechou as portas em janeiro de 2017. Quando uma startup cai depois de vivenciar um momento de bonança, fica conhecida como unicorpse. Geralmente, a empresa perde a confiança dos investidores por deixar de adaptar-se ao mercado ou então por subestimar a concorrência — dois grandes empecilhos no ecossistema de startups.
Algumas ações podem auxiliar que a startup sobreviva, fazendo com que se mantenha sempre competitiva em um mercado de constante inovação. Entre elas podemos citar o monitoramento dos passos dos concorrentes, como preços praticados, relacionamento com os clientes e ações de marketing. Outra condição é estar atento a tudo que surge no mundo das novas tecnologias, sendo estas grandes aliadas no desenvolvimento de negócios.
Para 2020, as projeções estão entusiasmadas e o ano é visto como favorável às inovações tecnológicas. De acordo com uma pesquisa conduzida pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups), 81% dos empreendedores digitais pensam que o acesso a capital vai melhorar em 2020 e 67% acreditam que o mercado terá uma melhora por conta da adoção de tecnologias por parte de empresas tradicionais. O fato de este ano ser eleitoral também traz otimismo, pois os políticos estarão mais atentos ao mercado de investidores e de startups.
As maiores reclamações continuam sendo em relação ao ambiente regulatório brasileiro para empresas de inovação, que ainda sofrem com barreiras burocráticas. Com regulamentações excessivamente rígidas é impossível enquadrar as startups, cujo âmago consiste em um modelo de negócio diferenciado, adaptável e tecnológico. Outro empecilho é a falta de incentivo fiscal para aceleradoras e investidores-anjo, dos quais as startups dependem para receber aportes e crescer.
Em termos legais, ainda não existe legislação própria que dê segurança para quem deseja realizar um investimento em startups. Atualmente, as startups são inicialmente enquadradas como micro ou pequenas empresas, contribuindo pelo Simples Nacional. Porém, isso é um empecilho aos investidores, pois, se fizerem um aporte, a startup deixará de fazer parte do Simples antes que tenha condições de contribuir em outras modalidades.
Já há entendimento por parte do governo brasileiro de que é preciso reduzir a tributação para criação de startups e, com isso, fomentar esses empreendimentos, que são atrelados a riscos. A simplificação da burocracia para startups e investidores pode ser uma das medidas econômicas mais importantes que o Ministério da Economia deve tomar nos próximos anos.
Como cidadãos, mesmo que vivendo fora do mundo das startups, o que podemos fazer é cobrar medidas de incentivo para essas gigantes tecnológicas. Ou ainda, de forma mais simples, nos informar culturalmente sobre seu mundo e propósito. Assim, não seremos pegos de surpresa quando o Brasil tiver seu primeiro hectacórnio, valendo mais de U$ 100 bilhões.
Armando Kolbe Júnior é coordenador do curso de Gestão de Startups e Empreendedorismo Digital no Centro Universitário Internacional Uninter.