Autor: Paulo Henrique Pichini
Monetização de dados em ação é algo que pode ser visto, por exemplo, na Netflix. Ao apostar no streaming de filmes e séries de TV, essa nativa digital foi pioneira, também, no uso de dados para categorizar a preferência de cada usuário. Isso é feito dentro de um grupo de 2 mil tipos de gostos, oferecendo diferentes séries e filmes até mesmo a pessoas da mesma família. A customização da oferta Netflix contribui para a fidelização de sua extensa base de usuários: 125 milhões de assinantes em 2018. O diferencial competitivo da Netflix vem da base de dados comportamentais sobre seus usuários. Os eventos rastreados são infinitos: quando o usuário dá pausa num filme, quando ele abandona de vez uma série, de que dispositivo digital ele acessa a Netflix, em que horário, etc. Desse mar de dados extrai-se, com a ajuda de Analytics, o dado refinado, que alia informações concretas com a lógica de negócios para aumentar a rentabilidade da empresa, corrigir rotas e realmente antecipar transformações.
Conquistas como estas justificam o fato de que, até 2023, estima-se que o mercado de monetização de dados atinja a marca de US$ 3,12 bilhões (dados do instituto MarketandMarket).
Mas nem só de nativas digitais vive a monetização de dados. Hoje, em São Paulo, grandes espaços públicos e corporativos já incorporam os sensores IoT e a inteligência digital que permitem acompanhar o trajeto e as ações de cada visitante, construindo um mapa comportamental que irá alimentar uma aplicação de monetização de dados. A monetização de dados aplicada, por exemplo, a um shopping center, um hotel ou um centro de convenções, irá construir perfis de visitantes, documentar a experiência prazerosa ou difícil e, a partir daí, gerar inovações e novos negócios. O uso de sensores de video analytics, RFID, Beacon, entre outros, geram Metadados que, somados a pesquisas em redes sociais (Facebook, Twitter, etc.) enriquecem ainda mais a construção do perfil dos visitantes a esses espaços, em São Paulo.
Um quarto de hotel repleto de sensores IoT, por exemplo, vai memorizar as preferências de “cena” – luz, som, temperatura, etc. – de um determinado hóspede. A cada vez que esse visitante retornar ao hotel, o quarto vai se “lembrar” dele e acolhe-lo de maneira totalmente personalizada. E, conforme o Dashboard (resultado customizado, online, real time, da interação do Data Lake com Analytics) aplicado a esse hospede indicar, será possível sugerir a ele serviços que intensifiquem ainda mais essa boa experiência. Um hóspede, por exemplo, que demande uma “cena” de quarto de hotel com luminosidade suficiente para ler livros em seus momentos de descanso, pode receber em seu celular um convite para uma noite de autógrafos que aconteça na livraria do shopping ao lado.
Para atingir metas como essa, é necessário levar a digitalização de espaços ao seu máximo: ambientes que antes eram vistos como uma sala de reuniões, um restaurante ou o corredor de um shopping são “acesos” por sensores muito sofisticados e variados que coletam, 24×7, dados sobre o que acontece nesses espaços. Da mesma forma do que ocorre nas nativas digitais – empresas com ambientes virtuais onde mapear o comportamento do usuário é algo rotineiro -, um espaço físico como esse, em São Paulo, incorpora valores que, antes, só se encontrava em meio digital. Mais do que investir em tecnologia, trata-se de transformar o negócio e antecipar o futuro.
A monetização de dados depende da digitalização de verticais tradicionais para alcançar sua plenitude.
Uma recente pesquisa feita pela consultoria McKinsey com 2000 CEOs de empresas globais lançou luzes sobre quão valorizada é, hoje, a bandeira de monetização de dados. Esse levantamento sugere que o uso da monetização de dados em indústrias variadas está crescendo nos últimos dois anos. Quem lidera esse movimento (além de nativas digitais como Netflix, Amazon, Google, Facebook, etc.) são as verticais de finanças e Telecom – setores já bastante digitalizados. Entrevistados dessas duas últimas verticais acreditam que o uso da monetização de dados está por trás de 20% das inovações de negócios geradas recentemente. E, finalmente, 70% dos CEOs entrevistados reconhecm que as mudanças futuras de seus mercados dependerão da monetização de dados.
Para que a monetização de dados vá muito além de um ambiente como a Netflix, porém, há uma curva de aprendizagem à frente. O mar de dados sobre clientes, usuários e prospects só irá fazer sentido se, antes, a empresa tiver colocado ordem na casa e usufruir de uma visão Data Lake/Analytics interna. A cabeça do gestor do negócio tem de mudar – a visibilidade que as novas tecnologias trazem vai além de qualquer instinto ou estratégia já testada no passado. Nos melhores casos, instinto e Data Lake/Analytics coincidem plenamente. Nos piores, rupturas podem estar a caminho. O instinto suportado por dados analíticos é muito assertivo, e gera resultados.
É necessário que a corporação defina se irá desenvolver internamente os times de Metadados, IoT, Data Lake e Analytics ou ser irá contratar inteligência no mercado, em forma de consultoria.
Em todos os casos, é recomendável contar, dentro de casa, com a figura do Chief Data Office (CDO), um evangelizador que luta diariamente para levar a cultura de dados a áreas e processos ainda não desbravados. Ampliar o uso de sensores IoT e o cruzamento de dados com, por exemplo, informações retiradas de redes sociais, são ações críticas para esse profissional. Seria importante, também, formar ou contratar o Chief Analytics Officer (CAO), expert voltado à análise de negócios e a construção de modelos realmente inovadores. São pessoas que misturam o perfil de cientista, um descobridor de novos continentes, com o caráter humanista de quem acredita na transformação de pessoas e processos.
A monetização de dados já está aqui. A hora, agora, é de mergulhar nos cases locais e globais, desaprender velhas atitudes e avançar para o que é, de fato, novo.
Paulo Henrique Pichini é CEO & President da Go2neXt Cloud Computing Builder & Integrator.