Censura às marcas?

Muitas pessoas podem não achar, ou ainda não pararam para pensar, que as propagandas também possuem a função de informar. Ao apresentar aos clientes sobre determinado tipo de produto ou serviço, elas mostram também dados antes não conhecidos, funções e conteúdos que podem ser de interesse do consumidor. Nesse sentido, é preciso de muito cuidado quando se cria restrições a ela, pois, ao mesmo tempo em que pode querer procurar evitar práticas abusivas, estará reduzindo as chances de acesso ao conhecimento do público.
No caso da publicidade infantil, é preciso atenção de ambos os lados, porque se será ruim às crianças e seus responsáveis a limitação à informação, as marcas, não somente aquelas que possuem o público infanto-juvenil como alvo, precisam de cautela ao seu conteúdo, para que não faça com que a criança consuma ou utilize produtos e serviços errados  ou da forma errada. “Contudo, proibir por completo é quase uma censura”, afirma João Gabriel Chebante, consultor de branding e marketing de empresas e especialista em construção de marcas. “A partir do momento que você veda a publicidade, você deixa de informar, deixa de dar a oportunidade à criança de conhecer coisas e isso deixa de ser positivo.”
Um exemplo de campanha publicitária, mas também educativa, foi a da Valisère, em 1987, com o slogan “Meu primeiro sutiã”, que tratava sobre o momento em que a menina se tornava uma mulher, e marcou a história da propaganda brasileira. “Tenho dúvidas se conseguiríamos colocar essa campanha no ar hoje em dia, porque vão dizer que vai tocar na sexualidade da criança. Mas, mesmo na época, é um comercial puro, tranquilo e que informa”, explica Chebante. O especialista não é totalmente contras às mudanças na publicidade infantil, ele também concorda que não é possível deixar que o mercado funcione sem um controle, mas não se pode privar a liberdade, seja das empresas ou do público. “Criticou-se por muito tempo o fato de o cigarro Camel utilizar um camelo na sua imagem, pois, dependendo do ponto de venda onde ele estivesse, poderia ser um incentivo à criança. Eu concordo. Mas, ao mesmo tempo, cortar, deixa de ser legal, deixa de ser interessante.”
Outra consequência viria também para a mídia, pois com mais restrições, a quantidade de campanhas pode vir a diminuir e, com isso, a perda de um faturamento. Além de que será um desafio maior se comunicar e criar novas estratégias para esse segmento. Ainda que 70% do poder de escolha dos clientes seja feita nos pontos de vendas, o acesso à marca e seu reconhecimento acontecem por meio dos anúncios na mídia.  “O desafio de vender ou de criar soluções se torna mais difícil. Ficando mais difícil, dependendo da empresa, começa a correr o risco de regredir no mercado, porque você não tem mais pessoas que conhecem, as vendas diminuem, o produto se torna menos atrativo e, com isso, irá descontinuar.”
Segundo o especialista, uma solução para as empresas voltadas ao público infantil é se espelharem em marcas de outros dois negócios e que são tão restritos quanto, que é a de cigarro e a de medicamentos. Mesmo com as limitações, são segmentos que continuam a crescer, porque investiram em outros elos da cadeia. “Ainda que haja crise, o mercado fármaco cresce mais de 10% ao ano no país”, aponta.

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