Autor: Adriana Baraldi e Erick Krulikowski
A gestão da criatividade tornou-se um desafio. De um lado para as organizações que pretendem sustentar, economicamente, seus negócios por meio da inovação. De outro, para o universo artístico e cultural, que está cada vez mais presente nas pautas econômicas e que, recentemente, recebeu destaque no Ministério da Cultura por meio da criação da Secretaria de Economia Criativa, cuja missão é conduzir o desenvolvimento econômico por meio do apoio dado aos profissionais, micro e pequenos empreendimentos criativos brasileiros, tornando a cultura um eixo estratégico nas políticas públicas de desenvolvimento do país.
Criatividade, como um recurso para o crescimento econômico, pode ser uma quebra de paradigma que requer a união de conceitos artísticos, científicos, sociais, ecológicos e econômicos. Trata-se de um tema interdisciplinar, transversal que deve posicionar-se também como estratégico, aproveitando a disponibilidade de recursos tecnológicos que, atualmente, facilitam as conexões; a diversidade contemporânea e o trabalho colaborativo que aparece fortalecido em contra partida a um modelo tradicionalmente competitivo.
Nesse contexto, dimensões subjetivas que tradicionalmente transitam pelo universo criativo passam a frequentar também o ambiente de gestão das empresas e dimensões objetivas, características da tradicional administração de negócios passam a serem incorporadas ao universo artístico e cultural, gerando estranheza, tensão e desafiando os gestores. Para adaptar-se a nova realidade é preciso, por um lado trazer para o ambiente dos negócios a originalidade típica do ambiente artístico e, por outro, levar os padrões de gestão clássicos do ambiente de negócios para o cultural, quebrando paradigmas e criando novos modelos que ultrapassem expectativas e os limites imaginários estabelecidos por um padrão de comportamento que já não se sustenta.
Para acompanhar esse movimento sócio econômico e cultural, novos perfis de liderança para os negócios são esperados tanto pelas organizações que pretendem inovar como por aquelas cuja atividade principal é voltada ao setor cultural.
Esse novo personagem é flexível, curioso, experimenta e descobre novas maneiras para fazer as coisas. Tem capacidade para observar e associar temas distintos, conectar pessoas e trabalhar com elas, facilitando a criação de algo novo por meio da formação de redes de relacionamento que se mesclam as equipes de trabalho, que por sua vez são multidisciplinares e demandam um trabalho motivacional individual e coletivo.
Modelos de gestão que aproximam o setor público e privado, o universo acadêmico e o não acadêmico, trabalham interesses econômicos e sociais em comum, por meio de equipes motivadas e focadas, que valorizam a diversidade, a multidisciplinaridade técnica e artística já mostraram resultados positivos e hoje são referencias internacionais na utilização de criatividade como recurso para o desenvolvimento. Cidades como Londres, Berlim, Barcelona e Amsterdam, por exemplo, reconheceram o papel da criatividade no contexto econômico e alavancaram novas possibilidades de negócios em diferentes setores.
No Brasil não é diferente: por um lado, cidades como Paraty/RJ, Tiradentes/MG, Guaramiranga/CE e Cataguases/MG já trabalham esse modelo de gestão cultural, social e econômica de maneira integrada. Por outro lado, por meio de iniciativa da Secretaria do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do estado de São Paulo alguns municípios destacam-se com espaços que oferecem oportunidade para as empresas transformarem pesquisa em produtos de mercado, aproximando universidades, centros de pesquisas e escolas, do setor produtivo. São projetos do Sistema Paulista de Parques Tecnológicos que estimulam o empreendedorismo e promovem desenvolvimento por meio da educação, ciência, tecnologia e inovação. Ambos, alicerçados em um recurso comum, a competência criatividade.
A união dessas competências cultural, artística, científica e tecnológica pode potencializar o desenvolvimento do país por meio da integração dos setores, de diferentes saberes, da gestão de relacionamento entre pessoas com interesses em comum, cujo trabalho, pode proporcionar o amadurecimento do mercado brasileiro que, pelo tamanho é, naturalmente, um destaque global.
Criatividade já é parte da pauta econômica e o Brasil, apesar do senso comum o considerar um país criativo, teve essa dimensão entre as destacadas como uma oportunidade de melhoria na última avaliação da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI) onde o país ficou em 47º lugar do ranking global de avaliação de patentes, reforçando a relevância do tema no ambiente científico e relacionando criatividade a produtividade intelectual.
A dinâmica de mercado contemporânea vem de encontro ao equilíbrio necessário para administrar negócios utilizando a criatividade como um recurso e para administrar ações culturais, fortemente relacionadas ao potencial criativo, como uma possibilidade importante de crescimento econômico.
A gestão da criatividade nos negócios e dos negócios criativos é um tema novo, que exige profissionais com capacidade de lidar e criar em cenários e interesses, aparentemente, conflitantes. Este equilíbrio pode mudar o perfil das empresas, artistas e produtores no Brasil e impulsionar a economia nesse momento de crises e oportunidades.
Adriana Baraldi é especialista em criatividade para inovação, além de consultora e professora universitária. Erick Krulikowski é sócio diretor da i Setor.