Não é mais novidade que a classe C deixou de ser o motor da economia. Os consumidores conquistaram um novo padrão de consumo, acessando produtos diferenciados, e agora, diante uma desaceleração econômica, querem manter o que conquistaram, segundo o estudo Mudanças do Mercado Brasileiro, da Nielsen. A contribuição dos fatores macroeconômicos considerados para crescimento ou retração do grupo de categorias auditado pela empresa, por meio de projeções conservadoras, será negativa (na ordem de -3.6%) para a movimentação das cestas em 2015, indicando que as pessoas já estão em busca de um ponto de equilíbrio quando o assunto é consumo.
Segundo a Nielsen, 64% dos brasileiros afirmam que, para poupar, diminuem o lazer fora do lar e 13% estão economizando para pagar dívidas atrasadas. “Apesar de reduzirem o lazer fora do lar, eles querem continuar se divertindo”, diz Gloria Tittoto, analista de mercado. Outro dado mostra que houve uma queda de 4,7% no número de visitas ao ponto de venda em 2014, com aumento do tíquete médio em 5,6% a cada visita. Ou seja, as compras estão sendo mais planejadas: o consumidor vai menos vezes à loja, mas gasta mais a cada visita. E pela pesquisa, a classe A + B é a que está puxando o consumo.
Como consequência, o canal Cash & Carry (popularmente conhecido como Atacarejo) teve um crescimento significativo em 2014. Houve a abertura de 47 lojas no Brasil, com 1,4 milhão de lares que passaram a fazer compras neste canal em 2014. “O Cash & Carry é favorecido pela vantagem financeira, atraindo novos compradores e fidelizando o shopper”, afirma Mayane Soares, analista de mercado da Nielsen. Outros dois canais que se destacaram este ano foram o Minimercado e Supermercado, que se beneficiaram de um aumento do número de itens comprados a cada ida ao PDV.
DECISÃO PRECISA
E com o potencial agravamento da crise hídrica e o aumento dos preços da energia e do combustível, esperados para 2015, o cenário não é dos melhores. “A indústria e o varejo terão que ser bem precisos em suas ações. É necessário atuar estrategicamente, pois não há margem para erros. Suas execuções terão o papel de manter a demanda aquecida”, explica Mayane. No ano passado, maiores esforços na execução das ações (como aumentar a disponibilidade do produto, fazer ativações na loja e até mesmo promoções) foram os principais responsáveis pelo crescimento verificado, tanto que, em valor (não deflacionado), as cestas Nielsen variaram 11,6%. “É como um jogo de forças: enquanto as alterações e incertezas do cenário econômico puxam o resultado para baixo, tanto o aumento de preços (inflação) quanto as ações da indústria e varejo impulsionaram as vendas em valor. Como destaques, tivemos um verão muito longo e a Copa do Mundo que ajudaram a impulsionar as vendas no ano passado, entretanto, o que fez a diferença entre estabilidade e crescimento foram as ações de execução”, conclui Gloria.