Autor: Wladimir Benegas
No primeiro quadrimestre de 2010 foram vendidos quase três milhões de computadores, segundo dados do IDC, o que coloca o Brasil entre os primeiros países do mundo no número de computadores instalados. Com certeza o governo tem seu mérito e é um dos grandes incentivadores a indústria de TI com suas isenções de impostos, porém o que tenho observado é uma preocupação somente na venda do hardware por parte dos fabricantes.
É verdade que em toda pesquisa o crescimento em percentual da internet é assustador, porém mais de 65% da nossa população não tem acesso a mesma e os 35% restante tem uma Internet de péssima qualidade a custo altíssimo, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2008 (PNAD), do IBGE.
Os números acima são dados que evidenciam a necessidade de uma maior preocupação por parte da cadeia de fornecimento de tecnologia. Junto à inclusão digital, é preciso pensar com mais ênfase na inclusão social. Não vemos nenhum fabricante de computador realmente preocupado em colocar conteúdo educacional junto aos seus computadores para atender a essa classe mais sacrificada e preocupada com sua inclusão e ascensão social.
Não foi apenas uma vez que ouvimos da boca dos mesmos (não podemos generalizar) de que “colocamos o Linux porque é mais barato e com certeza o usuário vai tirar e colocar um sistema operacional pirata”. A preocupação é somente com o preço e não com o usuário. E o que ocorre no momento seguinte? Uma frustração por parte do consumidor. Um sentimento de que foi enganado. Que comprou uma caixa preta sem utilidade.
Eu mesmo tenho um exemplo vivo dentro de casa. Nossa secretária do lar comprou um computador para sua filha e chegou em casa toda contente (apesar do sacrifício de ter feito um financiamento de 17 meses). Ela tinha certeza que era um investimento no futuro de seus filhos.
Não tardou dois dias, que chegou aborrecida porque o computador tinha um tal de Linúx (isso mesmo, Linúx) que sua filha não conseguia fazer nada. Depois de diversas tentativas, danificou o sistema operacional e o levou a uma assistência técnica onde colocaram um Windows pirata e… cobraram mais R$ 50 para fazer o micro funcionar.
Hoje o computador é como foi a Barsa em minha infância. O sonho de todo pai era comprar uma enciclopédia para que seus filhos melhorassem de vida, se aplicando aos estudos e olha que ele fazia um tremendo sacrifício para comprá-la e colocar em um lugar de destaque na estante de casa. Aqueles que não podiam comprar a Barsa, compravam os fascículos semanais de Conhecer e montavam sua enciclopédia. Mas todos com um objetivo: Fazer com que seus filhos melhorassem de vida por meio do conhecimento.
Com o computador é a mesma coisa, principalmente para as classes C e D que fazem um tremendo sacrifício para comprarem seus computadores, quando na verdade, estão levando para casa somente um carnê do qual vão se lembrar nos próximos 12, 18, 24 meses.
Sem conteúdo, o computador vira um console de jogos piratas e com muita sorte, para quem tem acesso à internet, um instrumento para entrar nas redes sociais. Não sou contra essa disseminação da informática, muito pelo contrário, mas precisamos pensar um pouco mais em como suprir a população de conteúdos de qualidade e de forma barata, que chegue ao consumidor mais necessitado de informações.
Com certeza se conseguirmos esse objetivo, teremos cumprido nossa missão de inclusão digital e social em nosso país. É preciso mudar regras de negócio, incrementar “serviços”, sistemas que aprimorem a funcionalidade de um computador de forma relevante. Se nós temos gênios que criaram a internet, o computador, os sistemas, o hardware, dente muitos outros recursos tecnológicos, certamente também dispomos hoje de ferramentas que permitem atender a uma demanda carente de informações. Basta buscar, integrar e.oferecer em prol de algo muito maior: o crescimento do capital intelectual de todos os brasileiros.
Wladimir Benegas é sócio-diretor da TSP.