Eric Garmes, CEO da Paschoalotto

Governança como pilar de progresso: como antecipar, responder e transformar em tempos de crise

Uma prática que pode fazer a diferença é a realização de avaliações de risco periódicas e a presença de equipes dedicadas a mapear tendências e possíveis ameaças

Autor: Eric Garmes

Historicamente, a governança corporativa foi tratada como uma linha de defesa, uma forma de evitar que crises afetassem as operações e, por consequência, a reputação da empresa. No entanto, com a velocidade das mudanças globais e a complexidade crescente do mercado, é necessário repensar essa abordagem.

Hoje, as empresas precisam de uma governança que vá além da proteção, transformando as crises em oportunidades para inovar, crescer e fortalecer a relação com o mercado. Neste ano, a aderência média das empresas à governança foi de 67%, uma alta de 1,7 ponto percentual em relação a 2023. É o que aponta a pesquisa “Pratique ou Explique 2024: Análise dos Informes das Companhias Abertas Brasileiras”, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

A governança pode – e deve – ser uma ferramenta de progresso é isso começa com três pilares fundamentais: antecipação, resposta rápida e transformação sustentável.

É preciso desenvolver uma capacidade de antecipação sólida. Muitas crises poderiam ser mitigadas ou mesmo evitadas se as empresas se dedicassem a monitorar mais de perto as tendências que se desenham no horizonte. Pense, por exemplo, em como algumas grandes companhias de tecnologia anteciparam mudanças regulatórias relacionadas à privacidade dos dados e passaram a investir em políticas de conformidade antes mesmo que essas leis fossem impostas.

Google e Apple, por exemplo, já se movimentavam na proteção de dados de usuários antes de o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR) entrar em vigor na Europa, demonstrando que uma governança que antecipa riscos também protege e, além disso, melhora a reputação da marca.

Para que isso aconteça, o conselho de administração e os executivos precisam estar atentos não apenas ao balanço e aos resultados financeiros, mas também às novas expectativas do mercado, avanços tecnológicos e ao cenário regulatório em constante mudança. Uma prática que pode fazer a diferença é a realização de avaliações de risco periódicas e a presença de equipes dedicadas a mapear tendências e possíveis ameaças – uma vigilância que não visa apenas a defesa, mas também a criação de novas oportunidades.

Mesmo com esse preparo, as crises podem surgir de forma inesperada. E é aí que entra a importância da resposta rápida e transparente. Empresas que comunicam com agilidade e clareza durante um momento de crise não apenas reduzem os impactos negativos, mas também reforçam a confiança dos clientes e investidores. Quando a pandemia atingiu o setor de aviação, muitas companhias se destacaram por sua resposta ágil e transparente ao comunicarem ajustes operacionais, reembolsos e políticas de segurança, reforçando sua imagem de responsabilidade e cuidado.

Um protocolo bem definido de comunicação de crise, combinado com treinamentos regulares das equipes e o uso de tecnologias de comunicação, é um diferencial poderoso nesses momentos. A transparência durante uma crise mostra que a empresa não tem nada a esconder, criando uma ponte de confiança com o público e com os colaboradores, que se sentem mais seguros e engajados.

Por fim, a governança que visa transformar uma crise em oportunidade deve promover uma transformação interna e sustentável. Muitas vezes, crises evidenciam pontos fracos em operações, em produtos ou mesmo na própria cultura organizacional. Quando isso ocorre, a questão não é apenas resolver o problema imediato, mas sim entender como esse ponto pode ser aprimorado para fortalecer a empresa a longo prazo.

No cenário corporativo de hoje, a governança de impacto é uma necessidade para empresas que desejam não apenas sobreviver, mas também prosperar, mesmo em tempos desafiadores. Afinal, empresas que olham para a governança não como uma barreira de proteção, mas como um alicerce para o crescimento, estão se preparando para um futuro mais forte e resiliente.

Eric Garmes é CEO da Paschoalotto.

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