Guerra total ao spam

No início, poucos sabiam o seu significado. Depois que aprendemos, começamos a identificar alguns e até achar graça. Mas passado o primeiro contato, resta a constatação de que o spam é o próprio inferno cibernético: o primo mais popular do vírus, irmão da pirataria e cunhado da perda de tempo. Se a tecnologia nos trouxe agilidade e foi criada para facilitar a vida, é bem verdade que ela também nos atribulou com um pouco mais de responsabilidade. Nesse tempo de “milissegundos” e de responsabilidade ampliada, o spam é mais que um incômodo; ele beira à tortura. E extrapolando o raciocínio, se – mais que nunca – “time is money” – então o spam é um ralo por onde escoa o lucro e de onde extravasa o custo inútil.

Um estudo realizado pela Nucleos Research chegou à conclusão que as mensagens não solicitadas são responsáveis, anualmente, por prejuízos de US$ 874 por funcionário. Estamos falando apenas de prejuízos relacionados à perda de produtividade. Este e outros estudos concluíram que os funcionários gastam entre 33 e 40 minutos semanais para eliminar as mensagens indesejadas. Os filtros de mensagem ajudam, mas não são suficientes.

Não se trata de defender ou não o uso de filtros. Mas se não houver conduta ética no universo corporativo – e de forma realmente geral e irrestrita – de nada adiantam os filtros. Mesmo criticando o spam e louvando o espírito ético, muitas empresas respeitáveis estão praticando o spam em suas ações de e-mail marketing. Quando são vítimas de e-mails aleatórios, trazidos em enxurradas, chamam isto claramente de spam. Mas quando despejam milhares de mensagens para endereços de desprotegidos prospects… ah, sim: trata-se de CRM pró-ativo ou mala-direta eletrônica e não de spam declarado. Há quem, ironicamente, alegue a ausência de leis mais claras sobre o e-commerce para justificar, vejam só, sua própria prática de spam. E alegam isto quase como um lamento de quem diz: “se inexiste regra clara, não há como segui-la, pois não”?

Aos desamparados spamistas, a notícia ruim é que não só nos EUA ou no primeiro mundo em geral o spam já possa dar em processo. Recentemente, aqui nas plagas sulistas, um juiz colombiano deu o exemplo, condenando uma empresa que não parava de enviar e-mail a um cidadão que já tinha solicitado por mais de uma vez sua retirada do mailing. E a moda começa a pegar. Outra notícia para os spamistas é que o spam não funciona. A idéia central é a de que quanto mais gente receber a mensagem, mais conhecida a empresa e mais vendido o produto. Certo? Absolutamente errado. Este pensamento é medíocre. Se a quantidade de informações que recebemos diariamente é imensa, para que guardemos algo na memória é preciso que nos interessemos. E quanto maior o volume de informação, menor interesse na informação particular e anônima. Aliás, a diminuição do interesse é inversamente proporcional ao aumento da irritação.

Um conselho elementar à empresa que se diz respeitável é não sucumbir às promessas de mailing com bilhões de e-mails a preço de banana. Outro conselho é procurar informação sobre o que venha a ser o tão falado e tão pouco conhecido “marketing de permissão”. Existe internacionalmente um código de ética quase que consensual sobre como utilizar o e-mail marketing de forma ética, pertinente e responsável. Em linhas gerais, estas orientações se fundamentam no respeito aos destinatários das ações e, também, no uso adequado da internet, o que certamente contribuirá para as empresas alcançarem os resultados desejados e construírem um relacionamento sólido e de confiança mútua com clientes e prospects. Este código de boas maneiras não precisa ser inventado. Pode ser obtido até na própria internet junto a entidades interessadas no avanço do e-mail marketing e na contenção do spam às masmorras da história.

Frederico De Marchi é executivo de marketing da Baan Brasil ([email protected])

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