Autor: Charles Bezerra
A última vez que o mundo foi desenhado, fato que ocorreu durante a revolução industrial, mudamos praticamente tudo, a maneira como trabalhamos, moramos, comemos, o nosso lazer, transporte, como educamos nossos filhos, etc. Tudo isto foi feito, mas esquecemos de um pequeno detalhe: o meio ambiente. Agora, com a evolução da tecnologia e do modelo de produção, estamos redesenhando tudo novamente. Desta vez, mais atentos ao meio ambiente, pois estamos aprendendo que os recursos são finitos e precisam ser cuidados.
Estamos vivenciando a maior revolução que a humanidade já passou. A mudança de um mundo onde a riqueza é baseada no fazer coisas para outro em que a geração de riquezas está baseada no pensar, servir e aprender. O escritor Alvin Toffler já abordava o assunto na década de 70.
Inúmeros sinais dessa mudança já estão presentes na nossa sociedade. Até pouco tempo atrás, quando consumidores usavam um produto ou serviço que não funcionava bem, achavam que o problema estava neles, que não eram inteligentes o suficiente para operar um aparelho ou entender um serviço. Hoje, os consumidores não pensam mais assim. Agora acham que a culpa é do produto ou serviço, que o problema está na empresa. Parece uma simples transferência de culpa, mas o impacto desta mudança é fundamental. A sociedade tem mais acesso a informações e está, cada vez mais, conectada. Nossa tecnologia é, cada vez mais, mutável e produz novidades em uma velocidade nunca antes vista.
A única certeza é de que a regra do jogo mudou. As velhas fórmulas não funcionam neste novo contexto. O sistema está se auto-alimentando e exigindo monitoramento e respostas quase que instantâneas. Organizações e pessoas estão sem saber como agir.
Em meio a essa extrema competição, quem não for capaz de se reinventar, de mudar tão rápido quanto o contexto, de encontrar novas fontes de lucro antes das existentes se acabarem, ficará obsoleto. Empresas realmente não têm escolha, precisam inovar. Inovação é o que cria diferenciação, que é a mesma coisa que se distanciar da concorrência. Inovar está ligado à criação de algo novo que se torna amplamente adotado. A linha que demarca o que é inovador ou não é, sem dúvida, a aceitação dos consumidores.
Apenas falar sobre inovação não faz com que ela aconteça. Inovação é o fruto de um processo que requer todo um complexo ecossistema. Uma boa analogia é o plantar. Inovar requer sementes, que seriam as mentes das pessoas onde todas as conexões acontecem. Requer uma liderança atenta em criar condições certas, o solo fértil, a cultura certa, tudo para que as inovações brotem. Assim, como em agricultura não conseguimos garantir que iremos ter safra, em inovação não existem garantias, há dias de sol e de chuva. Não existem fórmulas. Em meio a tudo isso, é preciso pensar a oferta e demanda de inovação. Qualquer agricultor sabe que precisa plantar a próxima safra.
Cada vez mais, é preciso que os processos de inovação funcionem a todo vapor. Quem tiver uma boa idéia hoje e não implementar logo, corre o risco de ser passado para trás pela concorrência, que agora é global. Porém, muitas organizações enfrentam problemas, não porque os competidores foram melhores, mas porque elas erradamente acreditam em mitos. Coisas do tipo: “inovação é apenas para quem trabalha com alta tecnologia” ou “inovação é apenas para empresas de grande porte”. E assim, não plantam e, por isso, não colhem.
Inovar é pensar e criar o futuro. Requer mudanças, provocá-las e gostar delas. A novidade é saber navegar nesta complexidade sem se perder. Há várias opções para as organizações que desejam se preparar para inovar sistematicamente. Algumas empresas brasileiras estão fazendo exatamente isso, montando laboratórios de inovação, investindo em novas metodologias e ouvindo opiniões externas. Mesmo em tempos difíceis, alguns sabem que precisam investir nas questões como “para quem fazer”, “o que fazer” e “por que fazer”, não ficar apenas com a questão “como fazer”. Frente a esse cenário, uma única coisa é certa, apenas as organizações que estão plantando e preparando o terreno hoje vão colher inovações amanhã.
Charles Bezerra é Ph.D. em design e diretor-executivo do Gad’Innovation.