É imprescindível que os esforços alocados à IA estejam alinhados aos dos profissionais qualificados, responsáveis pela sua implementação e aprimoramento
Autor: Matheus Pagani
A inteligência artificial se tornou um tema recorrente na sociedade e, em especial, no ambiente dos negócios Diante da possibilidade de otimizar tempo, custos e qualificar a performance operacional, executivos de diversos segmentos têm dedicado grande parte de seus investimentos nesta tecnologia. Mas isso abre espaço para uma reflexão importante: concentrar todos esforços na ferramenta é o melhor caminho? Não há mais espaço para a expertise e inteligência humana nas melhores tomadas de decisão para os negócios? .
De fato, não há como negar que, nos dias de hoje, existe uma superexploração do tema por parte de investidores e do próprio público, de um modo geral. Por mais que as impressionantes potencialidades da tecnologia justifiquem o entusiasmo, fica claro que estamos diante de um cenário em que precisamos adotar um olhar mais cuidadoso sobre os esforços empregados em sua implementação.
Prova disso está no próprio mercado. Segundo o “Estudo Talent Trends 2024”, realizado pela Randstad, 65% dos negócios ampliaram seus orçamentos em IA neste ano. Em contrapartida, mesmo com este avanço, o levantamento indica ainda que 56% das organizações encontram dificuldade para acompanhar a rápida adoção da tecnologia, alegando até mesmo que a transformação esteja ocorrendo em um ritmo acelerado demais.
Este desequilíbrio cria a impressão de que estamos vivendo uma espécie de síndrome de FOMO (do inglês “fear of missing out”, que pode ser traduzido como “medo de ficar de fora”) no mundo empresarial, onde, muitas vezes, as organizações parecem alocar recursos substanciais à IA apenas para não se sentirem afastadas do “hype” que acompanha a tecnologia.
Não há aqui intenção de minimizar o caráter revolucionário da IA. De fato, a ferramenta tem o potencial de redefinir praticamente todas as atividades e ocupações do trabalho humano. No entanto, o atual entusiasmo pode estar levando a um certo exagero nos investimentos destinados a ela, criando um cenário perigoso, em que as expectativas são excessivas sobre suas capacidades de transformação digital.
É fundamental que esses investimentos sejam proporcionais e que não comprometam recursos que teriam outra destinação por parte das empresas. Até porque, é imprescindível que os esforços alocados à IA estejam alinhados, por exemplo, aos dos profissionais qualificados, responsáveis pela sua implementação e aprimoramento.
No próprio caso da gestão comercial, é imprescindível que haja sinergia entre a inteligência da máquina e de quem a utiliza. Uma base de dados bem preenchida, atualizada periodicamente e com possibilidades analíticas trazidas pela IA são fundamentais, mas sua utilidade estará limitada se não existir uma equipe capaz de realizar aplicação eficiente destas informações.
Hoje, estamos diante de uma etapa da jornada tecnológica que exige uma abordagem mais equilibrada e estratégica. Investidores, gestores e tomadores de decisão precisam ser cautelosos, tendo em mente a importância de não concentrar todos os seus recursos na IA em detrimento de outras áreas que tendem a ser tão importantes quanto. Somente assim será possível gerar valor efetivo e permitir que os negócios alcancem o topo de seu potencial.
Matheus Pagani é CEO e cofundador da Ploomes.