Alfried Plöger
As entidades de classe, cumprindo importante papel no contexto da nação, mobilizam-se de forma muito positiva para exercitar uma prerrogativa fundamental da democracia: o direito de reivindicar, sugerir e participar das decisões que afetam diretamente a vida da população. Assim, é muito positivo observar os movimentos, cívicos e ordeiros, relativos à luta contra a Medida Provisória 232, que aumentou os impostos dos prestadores de serviços e, por conseqüência, estabeleceu o risco de uma escalada de preços na economia, considerando que todos os segmentos são clientes do setor apenado com mais um ônus tributário.
Na verdade, a MP 232 parece ter sido a gota d´água que faltava para que transbordasse a represa de insatisfações das classes produtivas brasileiras, quase afogadas nos juros altos, impostos escorchantes, ausência de linhas de crédito e edição de medidas provisórias na calada da noite. Muda governo, mas persistem os obstáculos à produção. Um deles é relativo ao câmbio, que preocupa particularmente o setor gráfico, cujo empenho no comércio exterior foi imenso nos últimos anos.
Estudo divulgado pela Fiesp mostra que, deflacionado pelo Índice de Preço no Atacado da Indústria de Transformação, o câmbio está no mesmo nível de 1997. Detalhe: naquele ano, o Brasil amargou déficit superior a US$ 6 bilhões em sua balança de pagamentos. Assim, não é desprezível o risco de estagnação ou retrocesso nas exportações, fundamentais ao crescimento da economia. O esforço exportador da indústria gráfica tem sido amplo e múltiplo. Abrangeu investimentos vultosos, a ampliação do ensino profissional e do treinamento da mão-de-obra, processo de normalização realizado pela Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica (ABTG) e aprimoramento de qualidade. Mais recentemente, a criação de consórcios de exportação, coordenados pela Regional São Paulo da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf), deram novo impulso às vendas externas.
Trata-se de um projeto amplo, multidisciplinar e articulado, com foco nas exportações. Os resultados apareceram, conforme indicam os números de 2003 e, agora, o balanço de 2004, quando as exportações brasileiras de produtos gráficos cresceram 2,88%, alcançando US$ 193,7 milhões. Pelo segundo ano consecutivo, tivemos um desempenho positivo da balança comercial do setor, que encerrou 2004 com superávit de US$ 85 milhões (mais 17% em relação a 2003).
Todo este avanço, que custou alguns anos de investimento, mobilização e empenho do mercado e seu sistema associativo, pode ser comprometido pela renitência do governo quanto à presente política cambial. Os industriais gráficos sabem que, hoje, o seu produto tem qualidade similar à dos concorrentes estrangeiros, mas não é melhor. Por isto, é preciso, além de toda a saga do aporte tecnológico e conquista de padrões mundiais de qualidade, agregar competitividade quanto ao preço. E este talvez seja o mais extraordinário feito, pois as gráficas têm conseguido exportar, em valores FOB, sob condições internas de impostos, juros e encargos muito mais severas do que na média internacional. Porém, o Custo Brasil, somado ao câmbio atual, reduz muito nossa capacidade de competir, e ninguém irá pagar para exportar.
Alguns poderiam argumentar que o câmbio atual favorece a compra de insumos importados. Esta verdade, contudo, é apenas parcial, pois sabemos que, no universo das commodities, os preços são internacionalizados, independentemente do jogo cambial. Então, é melhor poder exportar cada vez mais, ampliando o faturamento em dólares e euros.
As gráficas engajam-se e apóiam a mobilização da classe empresarial brasileira. Não é mais possível produzir e competir em pé de igualdade contra outras nações, pagando os juros mais altos do mundo e impostos superlativos, somados a uma taxa cambial que conspira contra o comércio exterior. O ato de produzir deve ser uma atividade planejada, passível de lucro e capaz de distribuir renda, por meio de salários dignos. Assim, é inaceitável vê-lo transformado em aventura.
Alfried Plöger é presidente da Abigraf Regional São Paulo (Associação Brasileira da Indústria Gráfica) e da Associação Brasileira das Companhias de Capital Aberto (Abrasca).