Com o aprofundamento da crise econômica desde o ano passado, os brasileiros têm sido obrigados a ajustar o seu comportamento de consumo. Alguns cortaram despesas, outros reduziram a quantidade de itens comprados ou começaram a comprar marcas mais baratas. Uma análise do Ibope DTM, unidade de marketing de relacionamento e big data do Ibope Inteligência, em conjunto com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), revela que o brasileiro está comprando itens mais baratos, o que deixa sua conta menor. Porém a quantidade de ida ao ponto de venda é maior.
O estudo foi realizado no PeopleScope, plataforma que agrega uma base de dados sobre os brasileiros e que classifica a população em 13 macrossegmentos e 42 segmentos. De acordo com a ferramenta, na comparação de 2015 com 2014, o valor médio gasto com produtos de mercado caiu 4,8% e a média de itens comprados diminuiu 0,7%. Por outro lado, a média de visitas ao local cresceu 2,1% nesse período. Esse movimento ocorre, porque os consumidores diminuíram a quantidade de refeições fora do lar e aumentaram o consumo em casa. Elevando a compra, sobretudo, de frutas, legumes e verduras (12,3% em itens e 2,9% em valor), categoria responsável pela maior frequência do consumidor ao mercado (6,3% em média de visitas), já que são produtos perecíveis.
Bebidas alcoólicas e produtos de mercearia também foram os responsáveis pelo aumento das visitas. A média de itens alcoólicos comprados caiu 4,6%, mas o valor médio subiu 1,1% e a ida ao mercado para compra-los aumentou 4,4% no período. Já produtos de mercearia tiveram recuo em valor médio (-3,7%) e quantidade (-0,5%), mas aumento de 1,6% em frequência. Por outro lado, a categoria perfumaria e higiene concentra a maior mudança no consumo do brasileiro. A quantidade de itens comprados diminuiu 8,7%, o valor médio caiu 8,6% e as visitas ao mercado para comprar esses produtos recuaram 5,1%.
Diferenças por segmentos
A análise do PeopleScope mostra que o aumento do consumo de frutas, legumes e verduras foi homogêneo na população. Entre o grupo chamado de realidade humilde, segmento de famílias jovens, residentes principalmente no Sudeste e, em menor proporção, no Nordeste, que gostam de se arriscar e não se importam com tarefas domésticas, o gasto médio com esses produtos subiu 8% e a média de itens comprados aumentou 13,2%. A ida ao mercado para comprar frutas, legumes e verduras por esse grupo, que pouco frequenta parques, praias e eventos culturais, cresceu 5,7%.
No geral, considerando todos os grupos de produtos em um mercado, o consumo das famílias de realidade humilde diminui em relação ao ano anterior: -8% em valor, -4,2% em itens comprados e -3,1% em visitas ao mercado.
Nas famílias promissoras, segmento formado em grande parte por pessoas brancas e proporção significativa de pardos, a média de itens comprados na categoria frutas, legumes e verduras subiu 20,3%. Enquanto o gasto médio cresceu 8,8%. Nessas famílias, nas quais metade das pessoas mora em casas quitadas com dois ou três banheiros, a média de visitas ao mercado por conta desses produtos aumentou 7%. Por outro lado, no geral, o valor médio gasto com produtos de mercado dessas famílias caiu 3,5%, ao passo que a quantidade de itens aumentou 1,6% e a média de visitas subiu 3,7%.
Já entre o grupo chamado de legado estabelecido, que se caracteriza por uma alta proporção de idosos, tanto a quantidade de itens comprados quanto o valor médio e o número de idas ao mercado subiram. Nesse segmento populacional, que, em sua maioria, vive em apartamentos com um ou dois moradores nos bairros mais nobres e tradicionais das grandes metrópoles brasileiras, a média de itens comprados na categoria fruta, legumes e verduras subiu 11,7%. Enquanto a média de visitas cresceu 6,4%. O valor gasto teve a menor elevação: 2,5%.
Ao considerar todas as categorias de produto em mercado, os “estabelecidos” reduziram seu gasto médio em 4,7%, compram 0,7% menos itens e vão 2,4% mais ao mercado.