Autor: Marcos Gouvêa de Souza
O cenário está definido e os ajustes agora são de tonalidade. A economia norte-americana terá uma expansão consistente nos próximos anos, a Europa como um todo terá um baixo crescimento estrutural, o Japão continua às voltas com seus problemas econômicos e a Ásia apresentará uma expansão menor que no passado recente, porém bem maior que a média mundial, numa perspectiva onde a vertiginosa queda do preço do petróleo está ajudando a redesenhar economia do mundo. Se na perspectiva externa as cartas estão lançadas, no âmbito interno também já sabemos como será o jogo. Jogo bruto.
Para o Brasil está claro que a conta das opções equivocadas na política econômica nos anos recentes será passada para a sociedade na forma de uma política restritiva de crédito, maiores taxas de juros e o aumento dos impostos, tudo em busca do perdido equilíbrio fiscal. As consequências são facilmente previsíveis com menor crescimento econômico e, possivelmente, um período recessivo no curto prazo e uma lenta eventual retomada nos anos seguintes. No calendário já está registrado que em 2015 teremos o chamado “freio de arrumação”.
Para as empresas mais organizadas e previdentes, os ajustes já começaram na metade do ano passado, com revisão dos planos de expansão, do quadro de pessoal, das práticas de gestão e dos orçamentos, tudo em busca da melhoria da eficiência e da produtividade nas operações atuais, mantendo também o foco no aproveitamento de oportunidades nos novos canais, no mercado digital e na expansão física, porém com um olhar muito mais atento aos resultados e no retorno dos investimentos. Será um período onde a preocupação com os investimentos, os resultados e o retorno do que foi aplicado será muito mais valorizado do que a oportunidade futura. O pragmatismo e a razão falarão muito mais alto do que a visão de longo prazo. É o pendulo empresarial mudando de lado.
Para muitas outras empresas, menos previdentes e cautelosas, começou uma corrida desenfreada para mergulhar nos números, na análise dos negócios atuais, nos investimentos anteriormente previstos, nos orçamentos realizados e, principalmente, na análise fria e calculista de tudo que é feito, e como é feito, para encontrar oportunidades de melhorar o desempenho, que passa a ser a principal motivação empresarial e executiva.
O lado saudável de períodos como esse, e sempre tem algum, é que todos os negócios encontrarão em escala as mais diversas, oportunidades de melhorar desempenho e execução, tornando mais eficientes e produtivas as operações e traduzindo tudo isso em melhoria de resultados econômicos e financeiros imediatos e futuros. O lado perverso é que apenas o setor privado faz essa lição em sua escala mais ampla, promovendo ajustes, repensando quadros, revendo operações, cortando excessos, enxugando negócios e otimizando desempenho, enquanto o setor público permanece, praticamente inatingível, porque tem o recurso de repassar para sociedade os equívocos de suas decisões, inclusive quando deixa de fazer o que é fundamental por conta de eleições.
É desigual e inaceitável. São dois Brasis absolutamente diversos. O privado, de forma geral, cada vez mais eficiente, enxuto e competitivo globalmente, apesar dos problemas estruturais e burocráticos do país e o público, cada vez mais inchado, ineficiente e desalinhado, retardando o avanço e modernização do país.
Mas no momento, passada uma eleição que poderia ter ajudado a mudar essa situação, não há o que fazer no curto prazo a não ser mãos à obra para tentar salvar o período. Mas para o médio e longo prazos, é tempo de muita reflexão sobre os enganos, equívocos e manipulações a que o país tem sido submetido. E refletir como tanto trabalho e esforço do setor privado se esvaem ao dividir a conta com o anacrônico setor público brasileiro.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza