Memorizar significa aprender?



Autor: Armando Terribili Filho

 

Tanto na área acadêmica como na empresarial é usual relacionar os percentuais 20-30-50 com a utilização dos sentidos humanos nos processos de aprendizagem. Diz-se que, em média, uma pessoa retém cerca de 20% daquilo que ouve, 30% daquilo que ouve e vê, e 50% do que ouve, vê e pratica. A teoria de que o nível de retenção da informação é maior quando se utiliza de forma integrada outros sentidos humanos parece óbvia, pois acrescenta-se a visão à audição e a outros estímulos mentais e motores.

 

Duas indagações são então procedentes: a primeira, se estes percentuais são realísticos; a segunda, se retenção de informação (memorização) significa aprender. Assim, ao atuar como professor na disciplina “O professor como pesquisador”, no curso de pós-graduação lato sensu de formação de professores para o ensino superior em universidade localizada na cidade de São Paulo, efetuei uma pesquisa em classe com duas turmas distintas, a fim de buscar algumas evidências.

 

Os alunos receberam um teste de retenção de informação com trinta palavras, que incluiu nomes de frutas, países, estados brasileiros, personagens históricos, festas típicas, brinquedos, materiais escolares etc. Durante a realização da pesquisa, das trinta palavras, dez foram somente faladas, dez foram faladas e tiveram sua imagem projetada em sala, e as outras dez foram faladas, tiveram sua imagem projetada e os alunos escreveram o nome da figura em papel de apoio.

 

Os grupos de palavras tinham grau de dificuldade similar e distribuição equivalente em termos de conteúdo. A seqüência de apresentação das trinta palavras foi completamente aleatória. Passado um período de tempo, os alunos foram convidados a escrever em uma folha de papel todas as palavras que memorizaram.

 

Intencionalmente, para a primeira turma não foi explicado que os participantes deveriam memorizar o maior número possível de palavras. Os resultados indicaram 5% de retenção para as palavras que foram somente ouvidas, 10% para as ouvidas e vistas, e 45% para as ouvidas, vistas e escritas. Já na segunda turma, informou-se antecipadamente que o objetivo da dinâmica era memorizar a maior quantidade de palavras. Os resultados foram, respectivamente, 18%, 32% e 47%.

 

Na comparação dos resultados obtidos entres ambas as turmas, concluiu-se que a intenção da pessoa é fator relevante na memorização: o “querer” foi algo considerável, já que os índices da primeira turma ficaram aquém dos da segunda. Outra conclusão é que os 18%, 32% e 47% registrados na segunda turma são totalmente aderentes ao tradicional e disseminado modelo 20-30-50 – quanto mais sentidos e estímulos forem utilizados, melhor é a retenção de informação pela pessoa.

 

Este estudo foi baseado em memorização de informação, que não implica necessariamente em aquisição de saber. A informação é condição necessária ao conhecimento, mas não suficiente – ela deve ser interpretada, relacionada com conceitos já assimilados pela pessoa e gerida para que seja transformada em conhecimento. Isso vale para a área acadêmica e empresarial.

 

Aquele que quer aprender deve ter uma postura mais ativa, se envolver nas reflexões e abandonar definitivamente o modelo “pronto para consumo”, porque a construção de saberes é única, pessoal e individual. Por outro lado, quem ensina deixou de ter o monopólio do saber, cabendo a ele ser o orientador da aprendizagem da pessoa, incentivando-a e estimulando-a a pensar, realizar pesquisas e criar situações e ambientes que facilitem o processo de aprendizagem.

 

Armando Terribili Filho é diretor de Projetos da Unisys Brasil e professor da Faculdade de Administração e da pós-graduação na FAAP.

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