Mulheres vencem o desafio?

*Dieter Kelber

Impulsionadas por um novo modelo da sociedade, na qual a independência feminina passou a ser o novo paradigma, as mulheres vêm gradativamente galgando posições dentro das empresas. Seja na busca de melhores condições financeiras, poder ou satisfação pessoal, elas estão conquistando um espaço no mercado de trabalho que antes era de domínio exclusivo dos homens: o dos executivos. Será esta tendência um indicativo de que as competências femininas começam a se sobrepor a dos seus pares masculinos?

Pelo que temos observado em nossos cursos e treinamentos, a resposta é não. Na verdade, o que tem feito a diferença na disputa entre os sexos é a garra feminina, ou seja, as suas atitudes no dia-a-dia do mundo corporativo. Em busca do reconhecimento e valorização profissional, sucesso na carreira e melhores salários, hoje as mulheres estão muito mais motivadas para o trabalho do que os homens.

Mas se essa garra tem assegurado uma importante vantagem competitiva, por que muitas executivas, até mesmo às que chegaram ao topo (algumas até exercendo cargos na presidência de corporações internacionais) permanecem com uma sensação de “vazio” pessoal?

A essência do problema é de que a maioria dessas mulheres está confundindo os fins com os meios. Em vez de encarar a carreira como um meio para atingir a realização pessoal, elas a enxergam como um fim em si. Daí a frustração com o mundo corporativo, cercado de reuniões intermináveis, negociações, mudanças de cenário de mercado, exigências cada vez maiores dos acionistas, competição com outros executivos e tantas outras atividades que parecem não ter um sentido maior de profundidade? (Tudo isso condimentado pelo estresse cotidiano, claro). É um dos motivos pelos quais, mesmo tendo alcançado a realização profissional, a mulher se questiona se todo o sacrifício (sobretudo o tempo para a família) valeu a pena.

Ressalte-se que essa situação não é um “privilégio” vivido exclusivamente pelas mulheres. Porém, embora seja difícil para ambos os sexos, os homens geralmente sofrem menos com a pressão e a forte competitividade pois, afinal, o mundo corporativo (ainda) é essencialmente masculino. Por pior que seja, eles estão jogando no seu próprio campo.

Este é, aliás, outro fator crítico para a insatisfação das executivas. Por ter de competir “no campo adversário”, muitas acabam adotando uma atitude masculinizada. Aprendem a ser mais agressivas, racionais e individualistas do que os próprios homens para conquistar o seu espaço na empresa. Tal atitude pode gerar resultados de curto prazo, mas sérias conseqüências no futuro.

Pelo que a experiência tem demonstrado, o melhor caminho para a mulher aliar a realização profissonal e pessoal começa por aceitar a sua condição feminina. Ou seja, de que a sua forma de encarar o trabalho é diferente do homem e que, embora não possua certas competências masculinas, possui uma série de outras competências que podem ser tão ou mais importantes para a organização.

Enquanto o homem, por exemplo, executa atividades em série (uma de cada vez), a mulher é capaz de fazer várias tarefas simultaneamente. Enquanto o homem tem facilidade para compreender os aspectos gerais, a mulher capta os detalhes. Enquanto os homens tendem a se acomodar, confiantes nas competências até então desenvolvidas, as mulheres se cobram muito em suas atividades – como executivas ou como mães – e procuram um constante desenvolvimento e aperfeiçoamento.

A partir do momento em que a mulher assumir essa posição e passar a explorar seus atributos (ao invés de substituí-los por atributos masculinos), estará dando um passo importante não só para a carreira, mas também para, no mínimo, reduzir as suas frustrações profissionais e pessoais. O desafio, portanto, está muito mais relacionado em conhecer as suas competências (competência = conhecimento + habilidades) e alinhá-las com as atividades profissionais do que efetivamente tentar competir em pé de igualdade com os homens.

Uma boa notícia nesse sentido é de que as empresas começam incentivar um modelo de gestão baseado em “atributos femininos”: trabalhar com times multifuncionais, gerir por processos e promover a liderança colaborativa ao invés da individual. Os homens que se cuidem pois, pelo jeito, as mulheres têm tudo para virar o jogo do mundo corporativo.

*Dieter Kelber é professor e diretor executivo da Business Processes School, do Instituto Avançado de Desenvolvimento Intelectual-INSADI e é pesquisador pós-graduado associado do Naippe/USP.

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