Carlos Louzada
A recente visita do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, divulgada na imprensa sob os brados de “vai Lula, ajuda o Brasil”, renderam acordos que ampliarão ainda mais o fluxo de negócios entre Brasil e China, que atualmente corresponde a mais de US$ 6 bilhões. Parece ser plenamente justificável do ponto de vista financeiro o interesse do Brasil em estreitar relações com Pequim. A China é a maior potência econômica mundial em ascensão. A taxa de crescimento médio do país é de 9% a.a. na última década, colocando-a como 6ª maior economia global.
No entanto, estes acordos sofrem algumas implicações: a principal delas é ter conhecimento se as empresas brasileiras – não só aquelas que exportam, sobretudo, aquelas que não o fazem e terão que concorrer com os produtos importados da China no mercado interno – estão preparadas para enfrentar esta competição no que diz respeito à qualidade, custo e prazo de entrega.
Numa economia globalizada, qualquer oportunidade perdida por falta de competitividade representa um risco enorme de não participar de negócios no futuro. Levando-se em consideração o tamanho e taxa de crescimento da economia chinesa, não podemos correr este risco. Quando tomamos conhecimento que, de maneira geral, a produtividade na indústria brasileira está estagnada desde a desvalorização do Real em 1999, conforme pesquisa do Iedi, é ingênuo pensar que estamos preparados para uma competição mais séria, num mercado totalmente aberto e globalizado. É claro que existem exceções, que somente confirmam a regra e nem estamos fazendo referência ao “custo Brasil”.
As empresas nacionais devem se preocupar com a reversão do quadro de estagnação da produtividade, trabalhando fortemente em aumentos exponenciais de qualidade, reduções de custo e diminuição dos prazos de entrega, simultaneamente. Para que isto ocorra, a empresa deve adquirir uma cultura de mudanças, que começa com seu principal dirigente, a parte mais difícil do processo.
Contudo, os acordos apresentam aspectos positivos óbvios. O crescimento industrial e agrícola brasileiro para atender um mercado com gigantesco potencial consumidor que, segundo analistas, pode se tornar a maior potência econômica do mundo em 2020, arrastando o Brasil para posição de maior potência agrícola mundial no mesmo período.
Vale refrescar a memória de que estes acordos não são nenhuma novidade. Desde o governo militar de Figueiredo ao ex-presidente FHC foram realizadas visitas à China. O importante é estar preparado para estes acordos e assim efetivamente darmos o salto na direção do crescimento da economia. Isto é o que não fizemos até agora, repito, com raras exceções, e temos pouco tempo para fazer, pois a economia global não espera pelos participantes atrasados.
Acredito que o posicionamento do governo brasileiro deverá ser o do aumento de relações com a China, UE, EUA, sem substituir bons acordos com países da AL, porém, fazendo sempre acordos que atendam nossos interesses e não impliquem exclusividade ou subordinação. O governo Lula apenas segue esta orientação com uma dose excessiva de propaganda, provavelmente preocupado com as críticas que fazia quando era oposição.
Carlos Louzada é diretor Superintendente da TBM Consulting Group, empresa que tem consolidada a sua presença no mercado chinês desde o final do ano de 2003, trabalhando e desenvolvendo a competitividade de empresas naquele país. Para mais informações, visite o site www.tbmcg.com ou envie um email para [email protected]