Autor: João Alberto da Silva Neto
Relegado por muitos anos e deixado para segundo plano, o Nordeste tem se tornado a vedete da economia do país quando o assunto é consumo. No último ano, o consumo dos nordestinos cresceu 2,4%, enquanto a média no Brasil caiu 0,5%. Vale destacar que nenhuma outra região atingiu tal desempenho neste período, sendo a classe média o principal motivador, com uma contribuição de 71% desse crescimento, de acordo com pesquisa da Nielsen.
Segunda região mais populosa do país, o Nordeste tem 27,8% da fatia de habitantes no Brasil e população continua aumentando a representatividade no crescimento populacional. O PIB formado pelos nove estados equivale a 13,5% do País, enquanto São Paulo, bem mais rico, responde sozinho por uma fatia superior a 30%. De acordo com pesquisa divulgada pelo IBGE, a Região Nordeste aumentou sua participação na economia em 0,5 ponto percentual.
Os números acima representam não apenas o poder de consumo dos moradores da região Nordeste que têm um histórico de carências enormes, mas o aumento das oportunidades de negócios que essa área do país oferece, o que significa um grande potencial reprimido e muitas oportunidades e espaço para crescimento. A ascensão da população à classe C contribuiu para a melhora da qualidade de vida dos nordestinos que vêm mostrando o seu apetite por compras nos últimos. Quem mais sente esse boom são, principalmente, as empresas locais que vêm registrando um crescimento nas suas redes de lojas, aproveitando o espaço em lugares desprezados até então pelas grandes varejistas.
Não podemos deixar de citar alguns fatores que contribuíram para a realização desse fenômeno. Acredita-se que a melhoria de vida dos moradores seja reflexo dos programas sociais disponibilizados pelo Governo. Vale lembrar que as iniciativas de transferência de renda e as políticas compensatórias não são capazes de fazer alguém mudar de classe social, mas podem elevar o consumo de produtos básicos, movimentando o comércio local e, isso acaba aumentando a massa salarial e alavancando uma economia que só era puxada pelo consumo.
Mas não é só isso que impulsionou o fôlego das famílias nordestinas. Acrescenta-se o aumento da oferta de empregos formais com a chegada de grandes empresas que viram na região uma boa opção visto que o Sudeste já apresenta várias áreas saturadas. A entrada de mais gente no mercado de trabalho significa oportunidades para pequenos e médios fornecedores de todas as cadeias produtivas que ganham força quando há mais emprego. Citamos ainda instalação do Porto de Suape, em Pernambuco, e grandes obras de infraestrutura que garantem a geração de emprego como a ferrovia Transnordestina (que liga os estados do Piauí, Pernambuco e Ceará) e a transposição do rio São Franscisco.
A explicação para esse aquecimento está no cenário econômico do País. Entre os fatores não podemos deixar de citar a disponibilidade de crédito para financiamentos e a oferta de produtos imobiliários, atendendo a uma demanda que não tinha condições de ter uma moradia própria e a implementação de investimentos de grande porte, como os do Programa de Aceleração do Crescimento, PAC, e do Minha Casa, Minha Vida. Os avanços regionais no Norte e Nordeste foram influenciados também pela exportação de minérios no Pará, pela indústria de transformação, no Amazonas, e pela agropecuária, no Maranhão.
Especialistas analisam que a ascensão do Nordeste ainda vai longe. Com um maior poder de consumo, outras questões vêm a reboque e vão fortalecer a cadeia de desenvolvimento. Um maior número de pessoas que deseja melhorar a escolaridade em busca de uma vaga em uma universidade. Formados, eles passarão a ganhar mais, aumentando assim o consumo, fortalecendo os varejistas e incentivando os empreendedores. Logo, a demanda da indústria cresce fazendo crescer junto o mercado de trabalho.
Por outro lado, a região com maior poder de consumo ainda tem inúmeros desafios a enfrentar como a questão de infraestrutura e a guerra fiscal entre os estados. Discussões à parte, o que vemos é um consumo local com base sólida, em crescimento e um mercado não só está aquecido, como também é sustentável. A região brasileira que antes era tida como um sem fim de miséria hoje pode ser considerada um mar de oportunidades.
João Alberto da Silva Neto é sócio da KPMG responsável pelos escritórios da Região Nordeste.