A atual realidade exige o encontro entre colaboradores possuidores de uma alma digital e líderes com um grau crescente de humanismo e que crie um ambiente extremamente aberto e colaborativo. Muito acima dos cargos estão, agora, as funções, muitas delas ainda sequer catalogadas no Ministério do Trabalho. Desenvolvidas por profissionais muito mais voltados para espaços onde possam crescer em aprendizado contínuo, se realizando em seus propósitos que se casam com os da organização. O “show me the money” vai dando lugar o “show me the meaging”, priorizando organizações mais universitárias do que as clássicas. Esse é um breve resumo do amplo painel em que se constituiu, hoje (16), a 246ª live da série de entrevistas dos portais ClienteSA e Callcenter.inf.br., que contou com as presenças de Beatriz Nóbrega, superintendente de gente, gestão e experiência do cliente da Digio, e Romeo Busarello, vice-presidente de marketing e transformação digital da Tecnisa.
Dando rumo ao debate, Beatriz enfatizou, de cara, que os modelos tradicionais estão desgastados e, então, surge a necessidade de se buscar profissionais com uma alma digital e trazer esse fundamento para a gestão. Segundo a executiva, todas as organizações e profissionais estão tendo, atualmente, de aprender de forma constante, e muito disso na prática. “A verdade, agora, é que, quanto mais a gente se movimenta, mais conseguimos ficar em pé. Tudo requer uma grande velocidade de aprendizado. Pesquisas apontam que uma das habilidades exigidas de todos nós é a tecnologia. Esse é um skill considerado para todos nós, pois, sem ele, não teremos a fluência digital necessária para o desempenho das funções. Minha experiência profissional anterior foi em uma empresa de tecnologia, e me transferi a um banco digital que, na realidade, é também uma organização dessa mesma natureza.” Em sua avaliação, a partir daí é que vêm as habilidades humanas, que permitem ao profissional ter liderança sobre si mesmo, sobre os projetos e as atividades. “São pessoas que permitem permear colaboração dentro da empresa. Realizamos mais quando o fazemos juntos, sendo que os desafios são nossas melhores oportunidades, justamente porque nos obriga a agir coletivamente, unidos. Essas habilidades humanas, tanto as cognitivas, de soluções de problemas, quanto as mais sociais, como a colaborativa, de empreendedorismo, etc, são cruciais para que, junto com as de tecnologia, possamos enfrentar os amplos desafios da competitividade atual.”
Por sua vez, anunciando a disposição de fazer várias provocações, Romeo iniciou explicando como opera com seus times na Tecnisa, dentro da nova realidade. Utilizando de uma apresentação, seu primeiro slide trouxe a expressão: “Não importa quão brilhante é a sua ideia. Se você entrar sozinho no campo de batalha, vai acabar perdendo para quem estiver atuando em equipe”. Para reforçar a tese, mostrou outra tela com a formação do time de marketing atual na empresa: UX, growth hacker, gestor de comunidades, CX, data scientist, UX writer, nutritor de leads, conteudista, agile marketing, CS, POX e jardineiro de web – profissionais que, conforme detalhou, não vêm de grandes escolas de economia e administração e que 60% são prestadores de serviços. “O data scientist, por exemplo, mora no interior do Paraná e eu o vejo não mais que duas vezes por ano. Meus conteudistas estão espalhados pelo mundo e o meu agile marketing vejo um única vez em 12 meses. Nosso jardineiro de web é um senhor de 78 anos que reside no interior de São Paulo. A função tem esse nome porque ele faz um trabalho remoto de erradicação das ervas daninhas que brotam no website da Tecnisa. Ou seja, é um trabalho de eliminação permanente das informações ultrapassadas, conforme a organização vai avançando em seus anos de existência e se transformando.” O executivo reforçou que são profissões emergentes, não catalogadas no ministério do Trabalho e que não constam dos currículos universitários. Por essa razão, ele recomenda aos profissionais não fazerem mais cursos de longa duração, mas sim os rápidos e frequentes. Pois, não há mais como tentar a aprender em um curso extenso, lá na frente, algo que o profissional precisa resolver hoje.
Romeo indicou ainda que os novos profissionais estão preferindo as empresas universitárias. “Por 32 anos, o maior contratante de engenheiros da Politécnica da USP foi o Itaú. Hoje, é o Nubank. O talento prefere trabalhar numa organização onde possa aprender, onde haja pluralidade, líderes inspiradores e mais informalidade, o que pode ser encontrado mais numa empresa universitária do que numa clássica.” E arrematou com um novo slide: “Onde não posso ser, prefiro não estar”. Concordando e complementando, a superintendente da Digio afirmou que, por se tratar de um país relativamente jovem, o Brasil, nesse panorama, está bem atrás em relação aos mais desenvolvidos. Há oito anos, ao participar de um intercâmbio executivo no hemisfério norte, percebeu que havia, entre os grupos, pessoas com 55, 60 anos ou mais ainda se preparando para desafios em outros países. “Ou seja, não é mais nossa história que conta, mas o tamanho das nossas ideias e nosso mindset de desenvolvimento. É a ousadia da nossa criatividade que fará a diferença. Não importa a idade e nem a formação universitária. O que conta será sempre o desenvolvimento contínuo dentro da organização.” Retomando a palavra, o VP da Tecnisa garantiu que, aos 55 anos de idade, os headhunters não o procuram mais, apesar de estar e se sentir no ápice dos seus conhecimentos e energia. “O job scripton de seleção é mais ou menos assim: tem que conhecer o digital, etc., mas possuir menos de 40 anos de idade. E são empresas que dizem acreditar na diversidade. Esquecem que idade também está dentro desse conceito.”
Perguntado sobre a facilidade ou não de encontrar muitos dos 12 cargos que exibiu na tela, Romeo informou que todos são complexos e difíceis de encontrar. “A maioria deles, como sou professor, surge na minha rede. Sou da geração do ‘show me the money’, mas hoje os jovens são da turma do ‘show me the meaning’. Hoje, todos estão mais preocupados com as horas úteis do que com horas extras. Deus criou o mundo em sete dias porque não havia legado. Caso contrário demoraria sete anos. Eu mesmo, nos últimos anos, venho me reatualizando para entender tudo o que acontece.”
Questionados sobre os “soft skills” propostos atualmente ao chamado líder 4.0, ele respondeu que, como uma liderança, quando vai contratar um colaborador atualmente, pensa em três competências: um profissional bom de trabalho, de cerveja e de xadrez. Ou seja, o primeiro skill é o da entregabilidade e boa execução. No segundo caso, é ser bom para atuar em equipe, num processo de co-criação, já que a maioria das organizações antenadas hoje operam com squads multidisciplinares. Ou seja, estar à vontade em torno de uma mesa, para ser apoiado ou contrariado. No terceiro aspecto, a necessidade é porque toda empresa é uma instituição política. “Quem não souber mover as pessoas, poderá ser engolido pelo mundo corporativo.” Por sua vez, Beatriz corroborou, indagando: “como um líder faria para que essa pessoa, boa de trabalho, cerveja e xadrez, se sinta num espaço no qual ela possa ser, se desenvolver e alcançar o seu propósito?”. E finalizou, enfatizando a necessidade do encontro entre uma alma digital e um líder humano.
O vídeo com o bate-papo na íntegra está disponível em nosso canal no Youtube, o ClienteSA Play, junto com as outras 245 lives feitas desde março de 2020. Aproveite para também se inscrever. A série de entrevistas terá sequência a partir de segunda-feira (19), recebendo André Luiz Gomes Carneiro, COO da Interfile que falará sobre a reinvenção do BPO pelo digital; na terça, será a vez de Adriano Galvão, vice-presidente de vendas e marketing da Microsoft; e, na quinta, Ana Cláudia Badra Cotait, presidente do Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura da ACSP.