O Brasil está inovando?

Grandes empresas pelo mundo têm mudado sua forma de relacionamento com os clientes aproximando-os dos processos de criação de produtos e serviços. Chamado de cocriação, o processo ainda não é realidade em terras brasileiras, onde muitas das multinacionais inovadoras têm sedes operacionais. A constatação foi do publicitário e sócio da agência A Ponte Estratégia, André Torretta, que participou do seminário Design Experience: a revolução dos serviços, promovido na sexta-feira, 20, pelo Conselho de Criatividade e Inovação da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo, FecomercioSP.
 
“Não existe inovação no Brasil porque aqui as empresas não são abertas. As empresas não querem perder o poder para o consumidor”, relata Torretta. Para o publicitário, a cocriação é a grande inovação do futuro. “A inteligência coletiva é mais poderosa do que a individual. Agora quem decide é o consumidor e quem não mudar, vai perecer. O modelo que deu certo no passado não vai mais funcionar”, complementa.
 
Outros especialistas concordaram que o modelo antigo – o de criar a demanda e não de percebê-la – se esgotou com o advento da internet e a evolução do perfil do consumidor, cada dia mais exigente. “O comando das vendas passou do empresário para o consumidor com a era digital. Precisamos entender como conviver com isso e ter diferenciais para atender”, diz o presidente do Conselho de Criatividade e Inovação da FecomercioSP, Adolfo Melito. Segundo ele, o varejo vai precisar passar por uma mudança de cultura, observando a interação do consumidor com seu produto e sua marca: “Muitas vezes será necessário trabalhar com valores intangíveis, como a emoção e os sentidos, para liderar nessa tendência”.
 
Para o professor e responsável pela empresa Trade Marketing, Francisco J. S. M. Alvarez, o crucial é atender ao cliente da maneira como ele quiser, independentemente do canal de venda. “A experiência de compra agora é sensorial. É uma interação lúdica, indo além do ato da compra. O varejo precisa despertar e entender que o ´como se compra´ impacta mais na satisfação do cliente do que ´o que se compra´, afirma.
 
As estratégias de venda devem ser montadas com base em um estudo sobre a experiência do consumidor, com foco exclusivo na necessidade real do cliente. De acordo com Lincoln Seragini, presidente da Seragini Design de Ideias, as empresas precisam aprender rápido a lição e implementar os conceitos. “É muito difícil hoje se diferenciar e competir com produtos e serviços. Temos de investir na busca de ideias e de novas demandas. A experiência faz diferença e cada marca tem seu apelo próprio, como Disney e Apple”, diz.
 
Para instigar novas ideias e projeto empreendedores que busquem melhorar a percepção do consumidor, durante o evento na FecomercioSP foi feito o lançamento oficial da Creative Business Cup Brasil, competição internacional para empreendedores ligados à economia criativa. A iniciativa, que no Brasil recebeu o nome de Nação Criativa e é liderada pela Endeavor em parceria com a Projecthub, surgiu na Dinamarca em 2010 e, neste ano, contará com 45 países participantes. Os empreendedores criativos interessados em participar têm até 20 de outubro para se inscrever pelo site http://www.creativebusinesscupbrasil.com.br/.
 
O secretário recém-empossado de Economia Criativa do Ministério da Cultura, Marcos André Carvalho, participou do debate apresentando as iniciativas do governo federal para incentivar projetos e negócios criativos. “Estamos discutindo um novo comportamento da sociedade, que é baseado no conhecimento e valor agregado. Precisamos de projetos práticos que potencializem e ajudem a acelerar o desenvolvimento da economia criativa no Brasil”, disse.  Segundo ele, a secretaria está com vários projetos, incluindo inaugurar 13 incubadoras em 2014 no País por meio do projeto Brasil Criativo. Além disso, ainda estão em estudo a criação de um selo Brasil Criativo, oito observatórios de economia criativa, bolsas de pesquisa no CNPq para pesquisadores de economia criativa, proposta de novos marcos legais, linhas de financiamento e crédito e programas de educação.
 
Também participaram das discussões a superintendente do Instituto Marca Brasil, Daniela Bitencourt, apresentando o case premiado da Serra Carioca de economia da experiência para o turismo; o superintendente executivo do Bradesco Dia e Noite, Jeferson Honorato, falando das iniciativas da instituição para melhorar a interação com seus clientes; e dois dos idealizadores do Creative Business Cup Brasil, Lucas Foster e Marcela Coelho, da Projecthub e Endeavor, respectivamente.

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