O cliente em primeiro lugar

Todo o mercado – seja o lado dos consumidores, seja o das empresas – está passando por grandes transformações recentemente, com as inovações tecnológicas, a forma com que elas impactam os relacionamentos e o poder que trouxeram para os consumidores. Mais exigentes, eles são mais difíceis de fidelizar, buscando uma experiência além de uma simples compra. 
As transformações trazidas pela tecnologia, além de automatizar processos, serviram para trazer mais controle para os clientes, um poder diferente do que tinham antes, quando eram retratados de forma passiva. Nesse novo cenário, se destacam aquelas empresas que conseguem se adaptar às mudanças sem perder a essência, continuando a conquistar clientes e inovar frente aos concorrentes.
Para falar um pouco sobre o novo panorama na gestão de clientes, entrevistamos Nicolau Camargo, Diretor de Clientes e Operações do Sem Parar. Para ele, o diferencial é focar sempre no consumidor e não na concorrência. A conversa completa você acompanha abaixo:
São visíveis as profundas mudanças da atividade de gestão de clientes nos últimos anos.
Como vê essa grande transformação pela qual todo o mercado – dos consumidores às empresas – está passando?
 
Muitos pensam que a transformação digital está totalmente ligada à tecnologia, quando o grande desafio é realmente colocar o cliente no banco do motorista das empresas. Nós como clientes não paramos de subir a barra, pois temos cada vez mais facilidade de acesso e opções para escolher. Do lado das empresas, isso deixa de ser uma opção para se tornar uma questão de sobrevivência no médio prazo. Isso trouxe uma complexidade muito diferente para a cadeira de gestão de clientes, mas também junto outro patamar de reconhecimento e conexão com a estratégia dos negócios.
 
Quais são as principais mudanças, na sua visão, que estão ocorrendo dentro da área de gestão de clientes nas empresas? São culturais, tecnológicas, de processos, capacitação de pessoas?
 
Todas as bases citadas são importantes. Eu destacaria uma questão cultural que também passa por conectar os diferentes interesses dentro da empresa em prol do cliente, é uma política do bem, muito difícil de ser executada, pois é necessário entender muito da empresa e ter muito carisma na execução. Usar a tecnologia de forma estratégica também é uma pauta fundamental, temos muita tecnologia disponível, o diferencial está em como usar, como aplicar e realmente gerar valor para o cliente, não a tecnologia por si só, e sim como meio.
 
A que fatores atribui essas mudanças?
 
Atribuo à transformação digital que se impõe nas empresas dado todo ciclo de desenvolvimento que nós, como clientes, não paramos de subir a barra para as empresas.
 
Qual o grande desafio nesse cenário de constantes mudanças? De gestão interna, de conhecimento de mercado, de identificação dos hábitos dos clientes?
 
Acredito que o maior desafio ainda é quebrar os silos departamentais das grandes empresas, de forma que o fluxo de valor para o cliente seja realmente fluído e não impactado por hierarquias e estruturas que não agregam valor para o cliente. 
 
Quem tem que ditar o ritmo da inovação e em qual modernização investir? O cliente ou a empresa?
 
O cliente e o mercado vão sempre subir a barra, a tecnologia está cada vez mais acessível e de fácil utilização. Acredito que o desafio hoje é a empresa ser capaz de surpreender o cliente, e acredito que tem muito espaço principalmente promovendo uma forte diferenciação na qualidade do serviço.
 
Como vocês estão trabalhando para acompanhar as transformações na área de gestão de clientes?

Focando no cliente mais do que nunca e tendo muita humildade de sempre aprender com tudo que o mercado faz de melhor. Acredito também que o diferencial é justamente focar no cliente, não no concorrente.

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O cliente em primeiro lugar



Autor: Marcos Moreno

 

Há alguns anos, o especialista em negócios Philip Kotler profetizou que, em uma década, empresas que não colocassem o cliente em primeiro lugar não conseguiriam estar presentes no acirrado mercado, seja qual for o segmento que atue. O período de tempo estimado para esta transformação já passou, entretanto, as empresas que são reconhecidas como tendo o foco no cliente são consideradas na vanguarda do nosso tempo. O que aconteceu? Por que ainda nos surpreendemos quando somos tratados dignamente? Por que ainda ficamos satisfeitos quando finalmente conseguimos cancelar um serviço que não nos atende bem, tendo explicado nossos motivos para diversos atendentes? O que impede que a ´era do cliente´ se torne uma realidade no mercado brasileiro?

 

O que sustenta toda e qualquer decisão de mudança em corporações é a busca por maiores ganhos ou para evitar futuras perdas. Portanto, a decisão de adotar uma estrutura organizacional que priorize o cliente se dará por meio da comparação dos investimentos necessários em processos, pessoas e tecnologia versus perspectivas de lucro futuro, mantendo os padrões de atendimento atuais.

 

Como ainda nos sentimos como consumidores de segunda classe, percebe-se que as empresas não priorizaram a mudança de padrão de atendimento. É preciso entender o que envolve uma decisão administrativa para a empresa focar o cliente, até para compreendermos o que a impede de tomá-la.

 

O processo de mudança envolvido em entender e atender a nuance de cada consumidor é bastante complexo e nenhuma corporação conseguiu alcançá-lo em um curto período de tempo. Portanto, a cobrança por resultados imediatos é um dos fatores que torna a escolha por esta filosofia bastante desafiadora.

 

Quais são, de maneira geral, as resistências não expressas que impedem a implantação deste modelo?

 

– Achar que sabe melhor do que ninguém o que quer o seu cliente;

 

– Deduzir que “somos melhores” que os nossos concorrentes, somos bench marketing no mercado;

 

– Pensar que estes novos modelos são apenas modismos e, que, portanto, será uma perda de tempo e energia tentar implantá-los;

 

– Experiências passadas de processos de mudança traumáticas;

 

– Atribuir o baixo desempenho ou indicadores como margem de lucro em declínio a fatores externos como economia, maturidade do mercado e etc.

 

Quais são os principais pontos para uma implantação bem sucedida de um modelo de atendimento com foco no cliente:

 

– Conseguir o comprometimento de todas as áreas da empresa com o conceito de ´cadeia de ajuda´;

 

– Mudança no papel das lideranças da empresa, transferindo maior poder e responsabilidade para os pontos de contato com o cliente;

 

– Sensibilização e entendimento de cada um dos funcionários da empresa com o seu papel perante a agregação de valor para o cliente, não importando se é de uma área, meio ou fim (contato com o cliente);

 

– Realinhamento dos processos internos para refletir em ações casadas com as expectativas dos clientes e com flexibilidade para mudanças rápidas;

 

– Investimento tecnológico que suportem todos os processos realinhados e que permita agilidade de respostas ao cliente;

 

– Obter por parte do cliente o reconhecimento das melhorias, sob sua óptica e as recompensas oriundas de entregar um produto ou serviço de acordo com os critérios e especificações esperados.

 

O momento da virada da percepção do cliente é poderoso, pois se entra num circulo virtuoso onde cada um dos colaboradores da empresa percebe os ganhos e o comportamento é reforçado naturalmente. Gerando assim resultados cada vez mais consistentes e reforçando a crença de que este é o melhor caminho para os objetivos individuais e corporativos.

 

Marcos Moreno é consultor sênior da Muttare.

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