CEO da Regus & Spaces do Brasil defende a flexibilidade dos espaços de coworking como alternativa para a nova e inexorável forma de trabalho
A metamorfose operada no universo do trabalho com a chegada da pandemia – que acelerou a transformação digital e favoreceu novos modelos -, ocasionou dois principais dilemas. De um lado, o que fazer com os sérios problemas psicológicos ocasionados aos colaboradores em um teletrabalho sem muita estrutura condizente e assumindo inseguranças na produtividade. De outro, empresas com menor necessidade de espaços físicos, mas sem saber se essa economia de custos acaba ou não se esvaindo em outras despesas inerentes ao universo do home office e suas consequências. Equacionando esses e outros problemas que apontam inexoravelmente pela saída do modelo híbrido – e a importância da alternativa do coworking nesse contexto -, Tiago Alves, CEO da Regus & Spaces do Brasil, ao participar, hoje (22), da 430ª edição da Série Lives – Entrevista ClienteSA, desenhou os pilares de sustentação desse novo sistema flexível de trabalho. Autor do livro “Nem Home Nem Office: O futuro do trabalho é híbrido”, recém-lançado, ele mostrou como as mudanças nas organizações convergem para um novo modelo de trabalho com os escritórios do futuro.
Fazendo questão de lembrar, logo de início, a dimensão adquirida pelo tema do home office no surgimento da crise sanitária global, há praticamente dois anos, movimento que chamou, de forma bem-humorada, de “home forced”, Tiago expôs que, naquele momento, as pessoas eram colocadas em casa para o trabalho à distância independente de haver ou não estrutura, política de teletrabalho, ou mesmo um entendimento de quais pessoas reuniam condições para essa mudança abrupta. A emergência em prol da saúde coletiva impunha isso e, no aparente caos, esse exercício de flexibilidade acarretou muitos desafios e benefícios. Dentro disso, ele recordou também que tudo isso e a atual transição se tornaram viáveis por causa de uma Medida Provisória do governo autorizando, já que, pela CLT, classificada pelo executivo como um tanto desconectada com os tempos atuais, inibe aspectos da flexibilidade do modelo de trabalho, alimentando questões sindicais.
Diante de todo esse cenário, em meados de 2021, as organizações passaram a ver com bons olhos a questão do modelo híbrido, como, talvez, a melhor alternativa para o pós-pandemia. Com um porém, segundo o CEO: ninguém ainda sabe direito no que consiste exatamente esse novo sistema flexível.
“Parecia, no começo das análises, algo muito simples. Seria um modelo que permitiria que as pessoas trabalhassem de forma revezada em casa e no escritório, em programações mais opcionais ou impostas. No entanto, surgem complicadores. Existe, na nova economia, as reflexões dentro do tripé custo, agilidade e risco, tanto para os colaboradores como para as empresas.”
Como exemplo, ele cita as decisões sobre a compra ou aluguel de um automóvel, fazer ou não investimentos nas casas e nos escritórios, definições sobre mobilidade, etc. Em resumo, as decisões não são tão simples assim.
Em discussão nos fóruns internacionais, o trabalho híbrido acabou se tornando verbete até no conceituado dicionário de Oxford, definindo o modelo em cinco pilares de flexibilidade, conforme relatou Tiago: de local de trabalho, seja em casa ou no escritório, de horário, de jornada, remuneração por produtividade ou outra e, por fim, da gestão de performance. “Pois é muito mais difícil fomentar cultura pelo digital, pois, por exemplo, assiduidade e comportamento do dia a dia e outros fatores não podem mais fazer diferença no todo da análise do desempenho do colaborador.” Atuando justamente no conceito de coworking, assentado no conceito da flexibilidade de trabalho, a Regus e a Spaces têm não só se beneficiado dessa nova realidade, como podem contribuir com o debate. Razão pela qual o executivo acaba de lançar o livro, que se propõe a debater, em quase 200 páginas, “Como as Mudanças nas Organizações Convergem para Um Novo Modelo de Trabalho com os Escritórios do Futuro”.
Em resumo, o executivo entende que esse modelo de flexibilidade é algo que norteará as decisões das pessoas e organizações nas próximas décadas. Esse é, apenas, o momento embrionário ou o limiar dos estudos e aplicações desse modelo. Trata-se de algo novo, em termos globais, e opiniões de “gurus” da atualidade podem ser meros palpites não fundamentados. Para ele, um dos sinais mais evidentes de que o problema precisa ser bem estudado é a constatação de que nunca se falou tanto na saúde mental dos funcionários, aos quais a nova realidade é mesmo impactante, levando grandes empresas a criarem até áreas específicas para cuidar desse problema. Dessa forma, recomenda que se atente a cada um dos pilares citados, estudando-se caso a caso.
Outro aspecto levantado pelo CEO é de que forma as economias geradas pelas companhias nas eventuais reduções de espaços acabam refletindo em lucro de fato, pois surge necessidade de recursos para dar assistência aos colaboradores, investimento em internet para os mesmos e mais a estrutura adequada para cada um, etc. “Tomando como exemplo um trabalhador paulistano, ele mora em um ambiente com dimensões médias de 49 m2. Como fará para possuir ali um local de trabalho que não seja improvisado e com as mínimas condições de ergonomia – como as previstas em lei?” E reforça o mote do seu livro citado: “a política do trabalho híbrido é a chave para o futuro das organizações”, o que tem de ser fundamentada em uma consulta à base de colaboradores.
Ao longo do bate-papo, Tiago pôde ainda responder a várias questões do público que foram desde o momento estratégico ideal para a adoção do modelo híbrido, até as mudanças das ultrapassadas formas de comando e controle para um novo tipo de liderança, além do desaparecimento, na prática, do tradicional “horário comercial”, a ilusão inicial sobre o aumento de produtividade no início da pandemia, quando todos estavam inseguros e em uma imperceptível jornada de trabalho estendida, às mudanças culturais, etc. E, por fim, embasado também em pesquisas, a relação entre o conceito dos escritórios flexíveis oferecidos pela sua organização com esse futuro do trabalho híbrido. Ou seja, a utilização de espaços ociosos como franquias na oferta de locais para coworking.
O vídeo com o bate-papo na íntegra está disponível em nosso canal no Youtube, o ClienteSA Play, junto com as outras 429 lives realizadas desde março de 2020. Aproveite para também para se inscrever. A Série Lives – Entrevista ClienteSA volta amanhã (23), recebendo Altino Cristofoletti Junior, CEO e sócio-fundador da Casa do Construtor, que falará de um negócio que se renova da mesma forma que a relação com o lar; na quinta, será a vez de Nicolas Scridelli, CEO de Triider e habitissimo; e, na sexta, encerrando a semana, o Sextou debaterá o tema “Proptechs: De onde vem a inovação no setor imobiliário?”, com os convidados Julia Fulco, head de comunidade da Terracotta Ventures, Daniel Gava, CEO e Cofundador da Rooftop e Uriel Frenkel, Co-CEO e sócio-fundador da SI Advisors.