Autor: Mauro Muratório
Alguns setores da economia, como o de TV por assinatura e de Internet, já surgiram com um modelo comercial que privilegia o consumidor. O usuário paga pelo que usa ou pelo que tem acesso. Verdade seja dita: as operadoras não cobram somente pelo consumo, mas desenham “pacotes” para grupos de usuários com desejos semelhantes E, com isso, viabilizam os serviços que cabem no bolso dos assinantes. A estratégia funciona muito bem. No Brasil, já são mais de 6,4 milhões de usuários e o mercado cresce na casa dos dois dígitos.
O mesmo princípio está para mudar o mercado de tecnologia. Nos últimos quatro anos, ouvimos com cada vez mais freqüência o termo Saas (Software as a Service). Mas até hoje, muita gente explica o conceito, mas pouco se vê de aplicação real. Algumas empresas, a maioria nos Estados Unidos, estão realmente usando aplicações neste modelo. Estudo do Gartner aponta que os gastos com TI devem crescer em 2009, o que certamente impulsionará a implantação de novos modelos e formatos de negócios, como é o caso do SaaS. Segundo a pesquisa, 48% dos 444 CIOs entrevistados projetam aumento no orçamento de TI para o ano que vem.
Utilizarei como exemplo a própria Microsoft, uma das principais interessadas no tema e que apontou a importância do assunto em 2005, com o e-mail/manifesto “The Internet Services Disruption”, do CSO (Chiel Software Architect) da companhia, Ray Ozzie. Aguardando a maturidade do mercado, apenas agora, em 2009, a empresa dá passos experimentais na área com o investimento em data centers e com o lançamento da sua nova plataforma Azure previsto para ocorrer no final do ano.
O conceito é simples. O usuário paga pelo que usa. Como em contas de água e luz, o custo do uso da tecnologia será medido pelo consumo. Muito prático e econômico. Mas se todos concordam que o SaaS é o futuro, que esta tecnologia disponibilizará mais capacidade de processamento por um custo muito mais baixo, o que ainda impede sua adoção imediata?
O principal fator é a desconfiança, especialmente em relação à segurança, disponibilidade e confidencialidade das informações. Ainda são poucos os softwares desenvolvidos para usar adequadamente recursos de hardware e garantir sua qualidade e funcionamento adequados. É também bastante relevante a falta de maturidade do mercado brasileiro de internet; apesar de mantermos o título de segundo país em número de acessos à rede mundial. Quanto maior for à dependência do usuário ao software, mais necessária a redundância de acesso. Outra pedra no sapato desta nova tecnologia é a questão da customização. Por conceito, os softwares disponibilizados neste modelo são os mais padronizados possíveis, o que oferece ganhos de escala.
O assunto está na ponta da língua e nas pautas de reuniões dos CIOs de grandes corporações. Mas quem realmente pode tirar o melhor proveito do SaaS são as médias empresas. Este segmento precisa da capacidade computacional das grandes, mas não tem o dinheiro para investir em infraestrutura ou em equipes de tecnologia. No Brasil, 28% das companhias não têm pessoal dedicado à área de tecnologia da informação, segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Applied Research.
Em todo o mundo, esse universo alcança 64 milhões de companhias com até 500 funcionários, que devem investir mais US$ 550 bilhões em TI neste ano. No Brasil, nada menos do que 98% das empresas são de pequeno e médio portes, de acordo com o Sebrae. Este enorme volume de empresas pagará menos, porque utilizará menos. Ainda assim, o mercado de tecnologia Saas no País está estimado em US$ 24 bilhões. Com a divulgação dos casos de sucesso dos pioneiros na implementação, devemos ver a popularização desta tecnologia em terras tupiniquins em dois ou três anos. Que venham as mudanças!
Mauro Muratório é CEO do Grupo TBA.