A VIII Pesquisa Nacional sobre Responsabilidade Social aferiu dados referente ao ano de 2006 de 3.110 empresas, localizadas em todas as regiões do Brasil. Desenvolvida pelo IRES (Instituto ADVB de Responsabilidade Social), o estudo visa obter e fornecer informações mais precisas sobre a atuação das organizações em programas socialmente responsáveis, a evolução deste entendimento no contexto das empresas e do mercado, além das tendências sobre o tema.
Entre os destaques, vale ressaltar o aumento de 28% do valor investido pelas empresas pesquisadas em projetos sociais. Em 2005 elas aplicaram cerca de R$ 332 mil, já em 2006, o valor foi de R$ 425 mil. Ainda sobre investimentos, 62% das empresas declararam que pretendem implementar novos programas em 2006 e aumentar os recursos em média 42% em relação ao que está sendo feito. Em 2005, o aumento dos recursos em novas ações foi de 38%.
Segundo Livio Giosa, diretor do Instituto ADVB de Responsabilidade Social (IRES), “com os resultados desta pesquisa percebemos que, afinal, as empresas estão, de forma construtiva, passo a passo, fazendo a sua parte. Que estas atitudes sirvam realmente de exemplo e estímulo para que entidades, organizações em geral e até o governo se apercebam, de vez por todas, que somente depende de cada um dar o passo certo e rápido para o resgate social do nosso país”.
Do total da amostra, 92% das organizações desenvolvem projetos de ações sociais voltadas para a comunidade. Deste número, em 71% delas há um incentivo para a participação ativa de funcionários-voluntários. O estudo constatou ainda, que em 97% das empresas há o envolvimento direto da alta administração. O reflexo disto é que em 87% destas organizações, a responsabilidade social faz parte da visão estratégica na hora de tomar decisões. Internamente, 54% das organizações desenvolvem ações destinadas aos funcionários e 71% realiza projeto para os parentes dos funcionários.
A área de Recursos Humanos ainda é a mais citada como o departamento que responde pelos programas. As cinco principais áreas focadas como receptadoras das ações são, pela ordem de incidência: educação, meio ambiente, cultura, saúde, desenvolvimento comunitário e mobilização social. Já as categorias beneficiadas são jovem, criança e comunidade em geral.
Quanto à propagação destas ações, as empresas não evoluíram. Em 71% delas não há publicação do Balanço Social, que é um instrumento utilizado pelas organizações para divulgar os investimentos sociais em relação às políticas de gestão de pessoas e suas implicações no processo produtivo, nos públicos envolvidos e o comprometimento da administração. Outro ponto, é que 80% das organizações não sabem se o fato de terem uma política social, interfere na opinião do seu cliente ou potencial consumidor quando ele faz suas escolhas para compra. Apesar disso, 61% delas divulgam os programas ao mercado.
O lado social das empresas
Nos dias 24 e 26 de abril passado, foi realizado, em Fortaleza, o II Congresso Nacional sobre Investimento Social Privado, do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas – GIFE. A razão da escolha da cidade foi justificada pelos seus organizadores como um incentivo às empresas do Nordeste, particularmente, o Ceará para aumentarem os seus investimentos na área social, visando-se, assim, diminuir a diferença entre Nordeste, Sul e Sudoeste nos seus indicadores sociais.
A pobreza impede o desenvolvimento social. “É impossível ter uma empresa sadia, competitiva e que dá lucro, tendo em seu entorno grandes índices de pobreza“, afirmam os técnicos da GIFE para mostrar, objetivamente, ao empresariado a relevante importância de se investir recursos próprios em ações sociais, que venham a promover o desenvolvimento das comunidades mais carentes, na qual estão inseridas, segundo Jadi Cavalcante, diretor-adjunto da GIFE, que congrega 66 afiliadas. Como reflexão dos muitos temas abordados e discutidos neste congresso, algumas observações e conclusões podem ser extraídas.
Dentro de uma comunidade que prevalecem a pobreza, a miséria, o desemprego, a falta de moradia, a empresa não disporá, certamente, de condições mínimas para prosperar. Consoante grandes consultores de empresas nacionais, chegou o momento da empresa privada investir no social, contribuindo para esta premente mudança. Além deste novo papel do setor privado, constitui-se numa característica ou estratégia mercadológica, porque o consumidor tenderá a exigir tal comportamento da empresa, agregando aos seus produtos este diferencial de relevante importância. O seu marketing de relacionamento com os seus clientes será bem mais fácil e empático.
Este investimento social a ser desenvolvido pela empresa moderna não consistirá, simplesmente, em jogar-se dinheiro em áreas poucas assistidas pelo poder público, mas, deverá direcionar valores financeiros que possam redundar em resultados positivos. Um trabalho conjunto com organismos não governamentais poderia ser uma alternativa para tais investimentos. Não esquecer que o Estado continua com a responsabilidade primeira e maior pela distribuição dos bens públicos, mas, a constatação absoluta é de que ele somente é incapaz, face à dimensão e complexidade dos gravíssimos problemas sociais que afetam a nossa sociedade, como: fome, miséria, má distribuição de renda, reforma agrária, analfabetismo, falta de moradia, doenças, prostituição infantil, etc. Enfim a responsabilidade é de toda a comunidade brasileira.
Para uma objetiva avaliação do nosso quadro social, apresentamos a seguir alguns índices sociais do nosso país, recentemente, apresentados pela Comissão Brasileira de Justiça e Paz da CNBB. O Brasil tem 17 milhões e 600 mil analfabetos. Destes, 8 milhões são chefes de família, dos quais 4 milhões vivem no Nordeste. Dos 170 milhões de brasileiros, 44 milhões e 700 mil são chefes de família. A metade deles ganha, por mês, no máximo R$ 200,00. No Nordeste, a metade dos chefes de família ganha por mês menos que o salário mínimo – R$ 151,00. O Brasil é rico, mas a sua riqueza está mal distribuída. Somando-se a riqueza do nosso país ela representaria 500 milhões de dólares. Nosso país é um dos grandes produtores de alimentos, talvez, o maior produtor de frutas. No entanto, há gente passando fome e muitos, aos milhares, comendo menos do que o necessário.
Ante os dados acima demonstrados, não podemos ficar inertes, não importando se somos empresas privadas, autoridades constituídas, organizações não governamentais, igreja, comunidades de bairros Engajemo-nos, todos numa “guerra sem trégua“, irmanados pela solidariedade humana para reduzirmos, urgentemente, tais indicadores sociais. A responsabilidade é de todos.
João Gonçalves Filho (Bosco) – Administrador de Consórcio
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